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Como o cérebro processa a passagem de tempo

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Thomas Bormans/Unsplash
Thomas Bormans/Unsplash

Como o cérebro percebe e processa a passagem do tempo? Foi essa questão que moveu um artigo publicado na revista científica Nature Neuroscience neste mês. Em experimentos, os pesquisadores aceleraram e desaceleraram os padrões de atividade neural em ratos, conseguindo distorcer sua percepção do tempo.

Conforme aponta o estudo, a percepção de tempo do nosso cérebro é descentralizada e flexível — em vez do tique-taque preciso de um relógio — que se supõe ser modificada pela dinâmica das redes neurais. A teoria é que o órgão mantém o tempo dependendo de padrões regulares de atividade que se desenvolvem em grupos neurais conforme nos comportamos.

O estudo se desdobrou da seguinte maneira: os pesquisadores treinaram ratos para reconhecer vários intervalos de tempo, e se concentraram na atividade no estriado, uma região profunda do cérebro. Os pesquisadores perceberam que quando um intervalo de tempo é considerado mais curto, a atividade evolui mais lentamente.

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Temperatura ajuda a entender como o cérebro processa o tempo

Os cientistas também usaram temperatura para manipular a dinâmica temporal de comportamentos, ao criar um dispositivo termoelétrico especial para aquecer ou resfriar focalmente o estriado enquanto registrava a atividade cerebral.

“A temperatura então nos deu um botão para esticar ou contrair a atividade neural no tempo, então aplicamos essa manipulação no contexto do comportamento. Treinamos animais para relatar se um intervalo era menor ou maior que 1,5 segundo”, afirmam os pesquisadores. O frio se mostrou relacionado com uma percepção mais curta, enquanto o calor foi associado a um intervalo mais longo.

As descobertas da equipe mostram que o estriado é essencial para decidir “o que” fazer e “quando”. Em contraste, outras áreas do cérebro lidam com a segunda questão, controlando o movimento contínuo. Atualmente, a equipe ainda investiga o cerebelo, que contém mais da metade dos neurônios do cérebro e está conectado à execução contínua, momento a momento, das atividades humanas.

Alterações na percepção de tempo

Outra região do cérebro que processa alguns aspectos do tempo é o hipocampo, que ajuda a lembrar quando devemos fazer algo e quanto tempo leva. Assim, os neurônios dessa área contribuem para nossa percepção e memória de eventos.

Especialistas acreditam que fazemos estimativas com base em quanto tempo achamos que levou para concluir aquela mesma tarefa no passado, mas nossas memórias e percepções nem sempre são precisas, e estudos chegaram a afirmar que as pessoas constantemente atrasadas têm uma percepção diferente do tempo.

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Além disso, fatores pontuais podem causar essas diferenças. Por exemplo, um estudo de 2022 da revista Science Advances sugeriu que a pandemia de covid-19 alterou nossa percepção sobre a passagem do tempo. Conforme comentaram os pesquisadores, a sensação diz respeito a um fenômeno chamado “expansão temporal”, associado à solidão e à falta de experiências positivas durante o início da pandemia. Mas a sensação de expansão temporal foi diminuindo com o passar das semanas.

Fonte: Nature NeuroscienceMemory & CognitionJournal of Experimental Psychology: GeneralScience Advances