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Como é retirado o veneno das serpentes para o soro antiofídico?

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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ivankmit/envato
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No Brasil, 30 mil casos de acidentes provocados por serpentes peçonhentas são registradas por ano. Para evitar complicações, o soro antiofídico é a principal aposta para o tratamento e está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS). Apesar de sua importância, a produção de um frasco da terapia envolve uma série de processos.

O Instituto Butantan é referência nacional quando o assunto é a produção de soro antiofídico. Isso porque mais de 150 mil unidades de soro são anualmente produzidos pelo instituto. Esta produção está diretamente ligada com cerca de 1,2 mil cobras, que são criadas no Laboratório de Herpetologia, localizado em São Paulo.

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A seguir, conheça o caminho percorrido pelas serpentes que chegam ao Butantan até estarem aptas para a extração de veneno e, consequentemente, ajudarem na produção do soro antiofídico:

1. Chegada das serpentes

Antes de seguirmos, vale avisar que a maioria das serpentes foram doadas para o Butantan. Inclusive, muitos espécimes foram entregues diretamente pela Polícia Militar Ambiental ou pelo Corpo de Bombeiros, após casos de apreensão.

Em um primeiro momento, os animais são direcionados para a sala de Recepção. No local, os biólogos e profissionais do instituto identificam a espécie de serpente, separando as que são peçonhentas daquelas que não são.

As que possuem veneno vão para o Laboratório de Herpetologia, e as outras são direcionadas para outros pontos da instituição, como o Museu Biológico, ou centros de pesquisa externos. O transporte é sempre feito em caixas de madeira.

2. Triagem dos animais

Focando especificamente nas cobras com veneno, estes animais recebem a primeira dose de vermífugo no Laboratório de Herpetologia. Além disso, passam por uma sessão de ectoparasiticida. Basicamente, os animais tomam um "banho", o que elimina qualquer parasita externo.

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Em seguida, a equipe de profissionais deve decidir quais animais serão incorporados pelo Butantan. Isso é feito com base no gênero, espécie, sexo e procedência do animal, buscando atender as demandas da produção do soro antiofídico.

Pode parecer estranho considerar a questão da procedência do animal, mas o critério é importante. Quanto maior a diversidade geográfica das serpentes utilizadas no chamado pool de veneno, melhor será a qualidade do soro, explica Kathleen Fernandes Grego, pesquisadora científica e diretora do laboratório.

Aqui, uma primeira amostra do veneno das cobras é extraída. Novamente, os espécimes que não foram selecionados voltam para a área de Recepção e, posteriormente, serão redirecionados para outros locais.

3. Quarentena das serpentes

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A terceira etapa de seleção de uma nova serpente para a produção do soro antiofídico é a quarentena. O objetivo é que o animal se recupere do estressa da captura e possa se restabelecer. “Nessa fase, elas recebem a segunda dose do anti-parasitário e exames de fezes são feitos regularmente", conta Gianfranco Imperatriz Marino, técnico de apoio à pesquisa científica. Em paralelo, é feito um acompanhamento que avalia a alimentação e da hidratação das cobras.

Passados os 30 dias, os animais são direcionados para uma segunda quarentena, onde ficam em total isolamento por mais um mês. Neste segundo momento, nenhuma serpente entra ou sai da sala de isolamento.

Aqueles que concluírem a etapa com sucesso são direcionados para as salas de produção de veneno. Agora, se algum animal não se recuperou totalmente, ele volta para a primeira quarentena.

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4. Novo "lar" das cobras

Cada serpente é direcionada para um dos nove habitats artificiais, disponíveis no instituto. As salas foram desenvolvidas para criar as condições ideias para cada espécie e, por isso, possuem controles de luz, temperatura e umidade.

Para exemplificar a questão, as surucucus costumam viver em matas úmidas e fechadas da Amazônia e da Mata Atlântica, onde a luz do Sol é difusa por conta das copas das árvores e das folhagens. No caso do Butantan, elas são direcionados para salas que simulam um ambiente mais escuro, quente e úmido.

Para o controle, cada serpente possui uma espécie de RG. “Essa ficha conta toda a vida dela: quando ela comeu, quando fez a muda [troca de pele], seu peso, quando foi submetida à extração de veneno”, explica Grego.

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5. Rotina de extração do veneno e fabricação de soros

Em média, a extração de veneno de cada cobra acontece uma vez a cada dois meses. Para evitar deslocamentos, todo o processo de retirada é feito na própria sala da serpente e, segundo a equipe do Butantan, o procedimento é rápido e indolor, feito com o animal desacordado. Após a "doação", o animal será alimentado em sete dias.

Através desse trabalho, o instituto consegue entregar para o SUS cinco diferentes tipos de soro antiofídico. A seguir, confira quais são:

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  • Soro antibotrópico (pentavalente): este composto é indicado para o tratamento do envenenamento por serpentes do gênero Bothrops, como jararaca, jararacuçu, urutu, surucucu e comboia;
  • Soro antibotrópico (pentavalente) e antilaquético: a fórmula é prescrita para casos de envenenamento por serpentes do gênero Bothrops (jararaca, jararacuçu, urutu, surucucu, comboia) ou pelas do gênero Lachesis (surucucu-pico-de-jaca);
  • Soro anticrotálico: a indicação é feita em casos de picada por serpentes do gênero Crotalus, como a cobra cascavel;
  • Soro antibotrópico (pentavalente) e anticrotálico: é prescrito para acidentes envolvendo serpentes do gênero Bothrops (jararaca, jararacuçu, urutu, surucucu, comboia) ou Crotalus (cobra cascavel);
  • Soro antielapídico: indicado no tratamento do envenenamento por serpente do gênero Micrurus, como a coral verdadeira.

Se você quer entender quais os primeiros passos que uma pessoa deve fazer, após ser picado por uma cobra, confira o especial que o Canaltech escreveu sobre o assunto.

Fonte: Instituto Butantan