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Como a covid longa vem trazendo atenção a doenças crônicas e seus tratamentos

Por| Editado por Luciana Zaramela | 28 de Março de 2022 às 08h30

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DC_Studio/Envato
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Apesar das infecções por covid-19 estarem vendo uma queda em seus números, os sobreviventes da doença e os médicos ainda tem muito com o que lidar. São os sintomas pós-covid, presentes mesmo em quem teve apenas casos brandos da infecção aguda por SARS-CoV-2: eles incluem falta de ar, palpitações, fadiga, névoa cerebral (brain fog) e dores no peito, por exemplo. Essas sequelas são comumente chamadas de "covid longa".

As sequelas pós-agudas do vírus se juntam a uma série de doenças crônicas muitas vezes não reconhecidas e não diagnosticadas pelos médicos: as desregulações imunes vêm tendo picos enormes após o surgimento da pandemia, o que alerta e preocupa cientistas e médicos mundo afora.

Trabalhando com o tema está Meghan O'Rourke, autora do livro "O Reino Invisível: Reimaginando Doenças Crônicas" (em tradução livre, ainda não publicado no Brasil), que trata de sua experiência com doenças incuráveis e não diagonisticadas e como a medicina ocidental lida com esse problema. Ela concedeu uma entrevista à CNN Health na qual fala sobre o tema e urge melhorias aos sistemas de saúde para ajudar os portadores de doenças crônicas, tanto de longa data quanto afetados pela recente pandemia de covid.

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Como a medicina lida com doenças crônicas?

Meghan começa notando como funciona a medicina ocidental — ela é extremamente setorizada, ou seja, há médicos especializados em cada parte do corpo, o que funciona muito bem no tratamento de doenças agudas, ou seja, tratáveis. Com doenças crônicas que vão afetando partes diferentes do corpo, como as autoimunes, a coisa muda de figura. Há enfermidades que causam uma série de sintomas, como problemas neurológicos que geram dores nas juntas. Diferentes médicos, então, precisam combinar esforços no tratamento. A comunicação entre eles nem sempre é efetiva, comprometendo o cuidado com o paciente.

A autora conta que isso impacta no atendimento médico desde as primeiras consultas. Ao relatar uma série de sintomas, ela conta que os médicos que visitou sequer consideravam que ela estava doente, e a encaminhavam para um psiquiatra, acreditando se tratar de sintomas psicológicos. Quando não há ferramentas para avaliar a origem da doença, muitos profissionais acabam dispensando pacientes sem investigar mais a fundo.

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Meghan conta que a receptividade e cuidado dos médicos ajuda muito na melhora dos sintomas. É claro, diz ela, que o paciente deve reconhecer sua condição e trabalhar para levar a melhor vida possível enquanto convive com a doença. Mas, para começar, validação e acolhimento devem ser fornecidos ao doente — e isso nem sempre é providenciado.

Ela também cita privilégios, sejam eles financeiros, educionais, geográficos e linguísticos que afetam a experiência com doenças crônicas. Racismo estrutural e a falta de uma rede de apoio também têm impactos tangíveis no sistema imune de uma pessoa, conta a autora.

O impacto da covid

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Vanguardas da medicina já apontam que muitas doenças crônicas são causadas pelo efeito de infecções em determinados pacientes, que nunca se recuperam por completo. Doenças autoimunes, como síndrome da fadiga crônica e doença de Lyme, são exemplos. A covid longa não é diferente. Sintomas físicos, neurológicos e cognitivos são relatados pelos pacientes. Alguns deles desenvolvem síndrome postural ortostática taquicardizante (SPOT), que deixam a pressão sanguínea irregular, causam desmaios, tonturas, dores no abdômen e peito, névoa cerebral e náusea.

E apesar de condições como a SPOT serem detectáveis, muitos médicos não costumam fazer exames para tal. Meghan instrui pacientes de covid longa a pedirem esse exame aos médicos, bem como o de neuropatia autonômica, outra possível consequência da doença e que causa taquicardia. Sensibilidade a certos alimentos e mudanças no padrão respiratório também podem surgir, comprometendo o sistema nervoso e o nível de oxigênio no sangue.

Com o número elevado de pessoas infectadas e, por consequência, de vítimas de doenças crônicas causadas pelo SARS-CoV-2, o financiamento de pesquisas relacionadas tem aumentado, vindo de instituições como a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Institutos Nacionais da Saúde (NIH, National Institutes for Health).

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Meghan, no entanto, ainda teme pelo bom uso desse dinheiro, já que sente uma tendência, no ocidente, de que os testemunhos dos pacientes sejam ignorados. Ela, no entanto, termina relatando que muitos pesquisadores veem a urgência em torno da covid longa trazendo os holofotes às doenças crônicas, o que pode melhorar os diagnósticos e o tratamento de uma série de doenças autoimunes e disfunções do sistema nervoso.

Fonte: CNN Health