Com subnotificação, Brasil pode ter mais de 1,2 milhão de casos da COVID-19
Por Fidel Forato | 01 de Maio de 2020 às 10h30
No enfrentamento da epidemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), as autoridades de saúde pública têm testado para a COVID-19 apenas os casos mais graves e os óbitos da infecção respiratória, por conta da quantidade limitada de exames. Embora seja a maneria encontrada para lidar com a doença, essa prática gera um elevado número de subnotificações, já estimados em mais de um milhão de doentes.
Segundo pesquisa realizada pelo portal Covid-19 Brasil, que reúne cientistas e estudantes de várias universidades brasileiras, o número total de casos da COVID-19 no país já estaria em 1.201.686 — em uma estimativa que pode flutuar entre 957.085 e 1.494.692 — até o dia 28 de abril.
Por usa vez, esse número seria 16 vezes maior que o divulgado oficialmente na data, que seria de 73.553 doentes. Isso porque o Ministério da Saúde contabiliza, principalmente, os doentes graves e mortos. Em termos comparativos, o número estimado supera os casos oficias nos Estados Unidos, o país mais atingido até agora pela pandemia e considerado o epicentro da doença.
"Falamos de ter ultrapassado em mortos a China, mas estamos em casos totais próximos dos EUA [que, aliás, também precisam de mais testes], mesmo tendo cerca de dois terços da população americana e tendo começado a sofrer com a epidemia um mês depois. Na verdade, se considerados os casos subnotificados de óbitos, também ultrapassamos a China há cerca de duas semanas", defende Domingos Alves, especialista em modelagem computacional e pesquisador do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP).
Impactos do número
Mesmo que as estimativas totais do número de infectados sejam altas, o quadro nacional poderia ser muito diferente caso nenhuma medida de isolamento tivesse sido tomada. Afinal, o distanciamento social brasileiro, que é em torno de 50%, mesmo insuficiente, já reduziu o ritmo de avanço do coronavírus.
"Não estamos nem perto de um pico de casos de doença e mortes. Estamos no começo de uma curva ascendente livre, leve e solta para o coronavírus no Brasil", defende o pesquisador Alves em entrevista para O Globo. Por isso mesmo, como pontua, não é hora de enfraquecer as medidas de distanciamento, o que faria acelerar o ritmo da epidemia.
No dia 11 de abril, a modelagem divulgada pelo portal Covid-19 Brasil já estimava 313.288 infectados, o que representava um número 15 vezes maior do que o oficial na época (20.727 casos). Isso significa que o isolamento deve ser reforçado. Ainda de acordo com Alves, as cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Macapá e Recife deveriam entrar em lockdown, ou seja, em fechamento total.
Como funciona?
Para estimar o número de pessoas infectadas pelo coronavírus no país, os cientistas do portal Covid-19 Brasil realizam uma modelagem reversa, assim superam o problema da ausência de dados, já que não há uma testagem em massa da população. Para isso, empregam como base de cálculo o número de óbitos notificados.
Mesmo que as mortes também estejam subnotificadas, compõem o indicador mais consolidado para a equipe trabalhar suas estimativas. Além disso, os cientistas aplicam a mesma taxa de letalidade da Coreia do Sul e a ajustam para a pirâmide etária do Brasil. O país asiático é tido como base, porque possui dados consolidados sobre testagem, em massa, desde os primeiros casos da COVID-19 no país.
Fonte: O Globo