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Cientistas buscam saber por que África registra poucos casos e mortes por covid

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Annie Spratt/Unsplash
Annie Spratt/Unsplash

Em Kamakwie, Serra Leoa, as enfermarias do hospital regional estão lotadas — mas nenhum dos pacientes por lá está com covid-19, e sim, malária. Desde que começou a pandemia, a cidade registrou um número de 11 casos, ínfimo em comparação a qualquer país europeu, americano ou asiático. A ala de isolamento de covid segue com a porta trancada, e a população, se aglomerando em todos os tipos de evento social, de shows a casamentos. O uso de máscara não passa de uma ficção aos serra-leoneses.

Com uma população de oito milhões de pessoas, o país do oeste africano, compartilha das benesses da maior parte da África subsaariana, que conta com taxas muito baixas de infecção, hospitalizações e mortes por covid. A situação nas regiões Central e Ocidental do continente surpreende especialistas, que temiam pelo pior em um lugar onde os países têm sistemas de saúde fracos: a OMS informa que Serra Leoa tem apenas três médicos para cada 100 mil pessoas. A razão para isso? Ninguém sabe ao certo.

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Por que apenas alguns países foram poupados?

E não é como se a covid simplesmente não houvesse chegado à África. As variantes beta, delta e ômicron devastaram a África do Sul, e os cientistas acreditavam que isso acabaria se seguindo para o restante do continente, que já sofre com malária, HIV, tuberculose e desnutrição. O colapso temido não aconteceu. Investigações recentes mostram que dois terços da população subsaariana possui anticorpos contra o novo coronavírus — já que só 14% dos habitantes locais foram vacinados, tais anticorpos advém de infecção pelo vírus.

Juventude dos africanos

Ainda sem revisão por pares, uma pesquisa da OMS mostrou que 65% dos africanos foram infectados até o penúltimo trimestre de 2021: à época, 4% da população estava vacinada. Com tantas infecções, o que haveria de ter poupado o continente? Uma teoria se refere à idade média da população, que fica em torno dos 19 anos.

Cerca de dois terços dos africanos subsaarianos estão abaixo dos 25 anos e só 3% estão com 65 anos ou mais. Assim, uma porcentagem menor da população vive o bastante para desenvolver problemas de saúde crônicos, como diabetes, câncer ou doenças cardiovasculares, comorbidades que aumentam a severidade e letalidade da covid. Além disso, os jovens que contraem o coronavírus tendem a ser assintomáticos, o que também ajuda a diminuir os relatos de casos da doença.

Temperatura e estilo e vida

Também teoriza-se que o estilo de vida dos africanos, que costumam viver ao ar livre, também auxilia na baixa propagação do vírus. Muitas áreas têm baixa densidade populacional e transporte público limitado, além de altas temperaturas. Outras doenças podem ter ajudado a proteger o sistema imunológico e deixado a população cuidadosa, como o ebola, a febre de lassa e a malária.

Algumas dessas teorias foram quebradas pelo fato de que a Índia, que também é um país quente e de população relativamente jovem, registrou milhões de mortes, especialmente com a variante delta.

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Registro de mortes

Uma teoria mais controversa se apoia no fato de que a África tem poucos testes para o vírus disponíveis, diminuindo a contagem de infecções e mortes. Os cientistas que trabalham em países como Serra Leoa refutam isso ao afirmar que tantas mortes — na casa dos milhares ou milhões — não passariam despercebidas.

Austin Demby, epidemiologista e ministro da Saúde serra-leonense, lembra que o ebola matou 4 mil pessoas entre 2014 e 2016, e deixou a população alerta. Segundo ele, seus conterrâneos não se aglomerariam se soubessem que um agente infeccioso estava matando pessoas em suas cercanias.

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Ainda assim, Salim Abdool Karim, da força-tarefa dos Centros Africanos de Controle e Prevenção de Doenças, alerta que um bom número de pessoas não chegava aos hospitais com problemas respiratórios. A população mais velha acabava morrendo de derrames ou outras causas influenciadas pela covid, mas não identificava o vírus como causa da morte, mesmo porque alguns não chegavam até o hospital. Ele vê a população jovem como fator chave para entender o mistério da situação inusitadamente boa da África, embora admita que a situação está longe de ser desvendada.

Fonte: The New York Times via O Globo

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