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Cientista simula sensação de déjà vu para estudo acadêmico usando The Sims

Por| Editado por Luciana Zaramela | 06 de Maio de 2022 às 16h30

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Viktor Talashuk/Unsplash
Viktor Talashuk/Unsplash

O fenômeno do déjà vu é conhecido mundialmente, inclusive pela cultura pop, por aparições como a do filme Matrix, de 1999. Alguns estudos já procuraram entender como isso funciona em nosso cérebro, e até mesmo seu parente menos conhecido, o Jamais Vu, quando uma situação deveria parecer familiar, mas não é. O problema é: como reproduzir o déjà vu para estudos em laboratório? Até recentemente, não sabíamos como. Mas isso mudou.

Anne Cleary, psicóloga cognitiva da Colorado State University, conseguiu chegar a um método para induzir o sentimento de já ter presenciado uma situação antes, justamente na tentativa de avaliar se o fenômeno seria apenas uma sensação causada pelo próprio cérebro, eliminando superstições da fórmula. O que ela utilizou? Realidade virtual (RV) e The Sims, famoso jogo de simulação da vida cotidiana.

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Teoria do déjà vu e o experimento

Teorias mais difundidas sobre o déjà vu envolvem reconhecimento objetivo e o subjetivo do nosso ambiente. Normalmente, as coisas que já conhecemos nos parecem familiares, e as que não conhecemos, como pessoas e lugares, não nos parecem familiares. No déjà vu, esses dois reconhecimentos não batem, ou seja, o reconhecimento subjetivo acontece, mas o objetivo não — parece que você já viveu aquilo, mas seu cérebro sabe que não.

Muitos cientistas acreditam que isso acontece porque o cérebro de alguma forma confunde memórias já existentes ou armazenadas de forma diferente. Alguém que assiste muitos filmes ou viaja muito, vendo lugares famosos com frequência, tem chances maiores de sentir que já viveu algo ou visitou um lugar antes de tê-lo feito de fato, porque a informação está na memória, mas é apenas parecida com a experiência atual, sendo confundida e parecendo igual.

Para testar se o caso era esse mesmo, Cleary e sua equipe montaram diversos cenários virtuais duplicados que tinham a mesma aparência espacial, ou seja, portas, janelas e objetos estavam nos mesmos lugares de antes, mas diferiam em cor, formato ou tema, por exemplo — uma pista de boliche tem uma versão gêmea com uma estação de metrô, uma prisão, com entradas de lojas, e por aí vai.

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Os participantes, então, andaram pelos cenários com aparelhos RV, tentando emular o sentimento de déjà vu — e funcionou, com metade dos 298 participantes tendo relatado uma sensação de já haviam estado naquele lugar anteriormente. E mais: também foi relatada uma sensação de que se sabia o que iria acontecer em seguida, provavelmente pela familiaridade com a situação apresentada. A previsão não se cumpriu na maioria das vezes, mas os participantes acreditavam que conseguiam prever o futuro próximo.

Em um experimento seguinte, Cleary e equipe testaram essa sensação apresentando os estudados a vídeos de personagens virtuais andando por caminhos semelhantes em ambientes duplicados, como nos testes anteriores. Mesmo em situações onde o personagem não percorria todo o trajeto, por exemplo, não fazendo a última curva da última vez, os participantes relatavam a sensação de saber o trajeto percorrido, tendo a sensação de que havia sido igual.

Cleary, que relata ter recebido perguntas acerca do que poderia causar o déjà vu — até mesmo de cientistas — ao longo dos anos, conclui que o mecanismo cerebral por trás da sensação, como demonstrado pelo estudo, é apenas isso, uma sensação ilusória de familiaridade e até mesmo de premonição, provavelmente causada por uma comunicação falha entre os lobos temporal (responsável pela memória) e o lobo frontal (responsável pela tomada de decisões).

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A autora ainda reitera que a ciência é, sim, capaz de encontrar respostas às questões mais estranhas, como as sensações estudadas por ela, muito associadas a motivos sobrenaturais. A pesquisa foi publicada no periódico científico Psychological Science.

Fonte: Psychological Science