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Câncer de próstata: todo homem precisa fazer o exame de toque depois dos 40?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 17 de Novembro de 2021 às 10h41

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Romankosolapov/Envato Elements
Romankosolapov/Envato Elements

O câncer de próstata e os exames que envolvem a sua identificação — como o exame de toque retal, considerado invasivo — são grandes tabus para homens depois dos 40 anos. Com a chegada do mês Novembro Azul, o tema ganha destaque, mas especialistas sugerem uma abordagem que difere do senso comum para o controle e rastreamento deste tipo de tumor.

Médico e líder de Saúde Populacional da Sami — operadora de saúde de São Paulo —, Gustavo Landsberg explica que o toque retal não é a única forma entre os exames para o diagnóstico do câncer de próstata e nem é considerado como a primeira opção para o diagnóstico. Além disso, os exames podem indicados a partir dos 55 anos, exceto em casos onde há histórico familiar da doença ou sintomas.

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Exames para diagnosticar o câncer de próstata

De forma geral, o primeiro exame recomendado ao paciente é a dosagem do PSA (antígeno prostático específico). Este é um exame de sangue capaz de medir antígenos da próstata. Por sua vez, o exame de toque pode ser feito num segundo momento, mas costuma ser indicado para casos específicos. Por exemplo, quando é necessário avaliar o tamanho da próstata.

De acordo com o especialista, o crescimento da próstata não leva apenas ao diagnóstico do câncer, mas pode se tratar de um aumento benigno. Isso reduz a importância do exame de toque a algumas situações específicas. No caso do PSA, o resultado não consegue distinguir se o câncer é ou não progressivo ou se o crescimento é tão lento que poderia não causar sintomas ao longo da vida.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de próstata é considerado um "câncer da terceira idade", já que cerca de 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos. Estatisticamente, 2 em cada 3 pacientes que morrem desse tipo de câncer têm mais de 75 anos. Por isso, a idade recomendada para procurar exames é dos 55 aos 69 anos — e não a partir dos 40.

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Afinal, é mesmo necessário fazer o exame de toque?

Para Landsberg, "o paciente chega com 40 anos receoso, sentindo-se na obrigação de fazer um exame, imaginando que o toque retal ou o PSA sejam 100% seguros e infalíveis em descartar ou diagnosticar o câncer de próstata. O que mais surpreende o paciente é que a escolha de fazer ou não o rastreamento de câncer de próstata deve ser individualizada e definida após discutir com o médico seus riscos e benefícios".

Um estudo feito por um órgão independente norte-americano, o Força-Tarefa de Saúde Preventiva dos Estados Unidos (Uspstf), aponta que 20% a 50% dos homens diagnosticados com câncer de próstata correspondem a casos de câncer não progressivo ou de progresso lento demais para afetar a vida do paciente.

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Por outro lado, o tratamento para combater esses tumores leva a riscos de longo prazo, como os de desenvolver incontinência urinária e fecal ou disfunção erétil. De acordo com o Uspstf, muitos homens com câncer de próstata nunca apresentam sintomas e, sem o rastreamento, nunca saberiam que têm a doença.

Por exemplo, "em estudos de autópsia de homens que morreram de outras causas, mais de 20% dos homens com idade entre 50 e 59 anos e mais de 33% dos homens com idade entre 70 e 79 anos tinham câncer de próstata", detalha o órgão. Em outras palavras, dependendo do grau, é possível conviver por anos com esta doença.

Quando fazer um exame para o diagnóstico do câncer?

Para os homens, o especialista destaca que é sempre importante estar atento aos sinais do corpo. Os sintomas do câncer de próstata, geralmente, não aparecem até que a próstata esteja grande o suficiente para afetar a uretra — o tubo que transporta a urina da bexiga para fora do pênis.

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Quando isso acontece, o homem sente dificuldade para urinar e há o aumento da frequência urinária — principalmente, durante a noite. Além disso, o paciente relata dor e casos de urgência urinária mesmo com pouca quantidade de urina. Outros sintomas podem ser a dificuldade em começar a urinar e uma sensação de que a bexiga não foi totalmente esvaziada.

Outros fatores também podem ser considerados para decidir se deve ou não fazer um exame precoce. Por exemplo, é importante verificar se pai ou irmãos já foram diagnosticados com câncer de próstata ou apresentam resultados alterados no teste PSA. Além disso, o excesso de peso está associado como um fator de risco para casos graves, já que pode influenciar na desregulação hormonal e nas células do sistema imunitário.

Homens que não percebem sinais precoces de alterações na próstata devem procurar pelo exame a partir dos 55 anos. Neste momento, será discutido com o médico a necessidade de fazer um rastreamento do câncer de próstata. Segundo o Inca, "não há evidência científica de que o rastreamento do câncer de próstata traga mais benefícios do que riscos. Portanto, o Inca não recomenda a realização de exames de rotina com essa finalidade".

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Mudanças no Novembro Azul

"Os pacientes acreditam mais na prevenção que chamamos de 'secundária’ — a detecção precoce com exames — do que na primária, que é o combate aos fatores de risco. Nós precisamos nos esforçar em mudar isso, pois o excesso de rastreamento pode levar pacientes a sofrimentos psicológicos e até físicos desnecessários", defende o médico.

"A saúde do homem não está restrita apenas à sua próstata. O Novembro Azul deveria alertar para outras condições que representam as maiores causas de morte entre os homens no Brasil, como diabetes, hipertensão, infarto e AVC. Combater a obesidade, o sedentarismo e o tabagismo são ações fundamentais", completa Landsberg.

Fonte: Com informações: Inca e USPSTF