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Butantan usa molécula de frutas cítricas para neutralizar o veneno de jararaca

Por| Editado por Luciana Zaramela | 26 de Abril de 2022 às 13h25

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ivankmit/envato
ivankmit/envato

Pesquisadores do Instituto Butantan descobriram uma molécula que pode ser adotada para neutralizar o veneno da cobra jararaca (Bothrops jararaca). Ainda em fase testes, o composto deve amenizar os sintomas e complicações do veneno no organismo, enquanto o paciente aguarda pelo soro adequado. Em determinadas regiões do país, hospitais podem não ter o soro antibotrópico no estoque e, nestes casos, uma alternativa de atendimento é decisiva para a sobrevivência do indivíduo.

Publicado na revista científica Frontiers in Pharmacology, o novo estudo do Butantan traz avanços no campo da formulação da substância rutina, presente na casca de frutas cítricas, mas também em vegetais e alguns tipos de trigo. Isso porque a equipe de cientistas conseguiu desenvolver uma versão que é solúvel em água, chamada rutina succinil, e que mantém as mesmas propriedades da molécula original.

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"Nossos resultados mostraram claramente que a rutina e a RS [rutina succinil] apresentam um grande potencial para serem usadas ​​como compostos terapêuticos para acidentes ofídicos", afirmam os autores do estudo.

Molécula que neutraliza o veneno

Vale explicar que a rutina é da classe dos flavonoides, ou seja, são compostos bioativos conhecidos por suas propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias. Ainda em 2018, o grupo de pesquisa do Butantan observou que a rutina era eficaz em impedir a inflamação e o sangramento causados pelo veneno da jararaca, mas isso em testes como modelos animais — no caso, roedores.

No entanto, era preciso desenvolver uma versão do composto que pudesse ser aplicada de forma intravenosa (na veia). Segundo a equipe, quando ele é administrado por via oral, o metabolismo pode modificar as propriedades da substância, reduzindo os seus efeitos. A partir da nova demanda, os cientistas começaram a desenvolver a versão hidrossolúvel da rutina.

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Em laboratório, a rutina foi modificada quimicamente, o que originou a rutina succinil. “Nós refizemos todos os testes in vitro e in vivo com a rutina succinil e, para a nossa surpresa, além de manter as mesmas características da rutina [atividade anti-inflamatória e anti-hemorrágica], ela também inibe proteínas do veneno e problemas de coagulação”, afirma o coordenador do estudo e diretor do Laboratório de Fisiopatologia do Butantan, Marcelo Santoro, em comunicado.

Potencialmente, esta é uma alternativa para o indivíduo que aguarda o soro contra o veneno de jararaca, mas é também capaz de inibir o processo inflamatório que já foi iniciado pelas toxinas da serpente. “Nesse sentido, a rutina serviria como um adjuvante: não para substituir o soro, mas para retardar os efeitos do envenenamento, controlando o sangramento e a inflamação”, completa.

Agora, a equipe do Butantan deve estudar os efeitos da administração da rutina succinil quando está diluída no soro. No futuro, testes do composto devem ser avaliados também em voluntários humanos, o que poderá levar a uma nova alternativa complementar para o tratamento contra picadas de cobras.

Fonte: Frontiers in PharmacologyInstituto Butantan