Bactérias podem ser "adestradas" para identificar câncer
Por Nathan Vieira • Editado por Luciana Zaramela | •

Futuramente, bactérias podem ser "adestradas" para identificar o câncer. A afirmação vem de um estudo publicado na revista Science na última quinta-feira (10). Na ocasião, os pesquisadores mostraram como, com algumas instruções, uma espécie de bactéria pode expor o câncer de intestino à medida que se forma em modelos celulares da doença.
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Conforme o estudo relembra, o trato gastrointestinal é repleto de bactérias, e os cientistas têm tentado aproveitar as habilidades naturais de cepas específicas para fazê-las funcionar como sensores probióticos. No novo estudo, a equipe projetou bactérias para detectar fragmentos de DNA liberados de células de câncer colorretal cultivadas em laboratório e camundongos com tumores colorretais.
O experimento foi pautado em torno da espécie Acinetobacter baylyi, conhecida por sua capacidade de coletar DNA de seu ambiente. Normalmente, essa habilidade é utilizada para incorporar pedaços de DNA em seu próprio genoma que podem fornecer novas receitas genéticas para proteínas.
No entanto, os pesquisadores forneceram instruções para que, em vez disso, a bactéria procurasse sequências portadoras de mutações específicas comumente encontradas em cânceres colorretais.
Bactéria adestrada para detectar câncer
Através dessa técnica, os pesquisadores descobriram que a bactéria em questão poderia discriminar a diferença de base única entre mutações causadoras de câncer e erros genéticos inofensivos no DNA.
No entanto, é um método ainda distante de se tornar real: antes de seu uso potencial em humanos, os pesquisadores precisariam mostrar que a bactéria A. baylyi pode ser administrada com segurança por via oral e pode detectar com segurança células cancerígenas em amostras de fezes.
Os pesquisadores também precisariam investigar como o biossensor A. baylyi se compara a outros métodos mais invasivos para detectar lesões cancerígenas, como a colonoscopia.
Bactérias na luta contra o câncer
Não é a primeira vez que micróbios se mostram como possíveis aliados na luta contra o câncer. Para se ter uma noção, em 2022, cientistas conseguiram controlar bactérias geneticamente modificadas para destruir células cancerígenas no organismo.
Basicamente, a bactéria Escherichia coli pode se infiltrar em tumores cancerígenos quando injetada na corrente sanguínea de um paciente, e assim produzir proteínas terapêuticas, chamadas de nanocorpos. A presença desses nanocorpos permite que o sistema imunológico ataque o tumor.
Nesse mesmo ano, cientistas usaram bactérias magnéticas para combater tumores no organismo. O grupo conseguiu mostrar, na ocasião, que impulsionar as bactérias usando um campo magnético rotativo é eficaz porque elas ficam em constantemente em movimento, viajando ao longo da parede vascular, o que aumenta as chances de encontrar as lacunas que se abrem brevemente entre as células da parede do vaso.
Fonte: Science, Nature Communications, Science Robotics