Após 27 dias, coronavírus é encontrado em pulmão de paciente morto
Por Fidel Forato | 04 de Novembro de 2020 às 16h30
Por quanto tempo o novo coronavírus (SARS-CoV-2) pode sobreviver? Essa é uma pergunta de difícil resposta para os cientistas, ainda mais dependendo da superfície em que o vírus da COVID-19 se encontra. Agora, pesquisadores britânicos defendem que este agente infecioso pode ser encontrado, em um tecido humano, mesmo após, praticamente, um mês do óbito de um paciente.
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Em artigo publicado na BMJ Case Reports, grupo de médicos e pesquisadores do Reino Unido relataram a descoberta do novo coronavírus em um cadáver, depois de 27 dias de sua morte. Em autópsia, o SARS-CoV-2 foi identificado nos pulmões da vítima fatal da COVID-19. Durante esses quase 30 dias, o corpo permaneceu em refrigeração média, com uma temperatura entre 4°C e 6°C.
Segundo os responsáveis pelo relato, a descoberta "pode ter um efeito significativo no manuseio de amostras de laboratório, bem como no descarte do cadáver, e esses protocolos precisam ser revisados para refletir essa descoberta". Isso porque, em tese, o cadáver poderia permanecer infeccioso em algumas circunstâncias. "Acreditamos que esta seja a primeira vez que o vírus se mostrou detectável no tecido pulmonar 27 dias após a morte", afirma o grupo.
Quase um mês: entenda o caso
Um homem, de aproximadamente 50 anos, deu entrada em um hospital do Reino Unido, após uma parada cardíaca, seguida de morte. De acordo com o relato médico, "ele teve um histórico de febre alta e falta de ar nos últimos 10 dias. Ao notar o agravamento da falta de ar, ele procurou o serviço de emergência, mas piorou rapidamente enquanto aguardava a chegada da ambulância.
Depois de verificar detalhes da ficha do paciente, os responsáveis pelo caso passaram a suspeitar que a morte tinha relação com a COVID-19 e, dessa forma, realizaram um exame do tipo RT-PCR no paciente, com a coleta de amostras das suas vias respiratórias através de um swab (espécie de cotonete). Mesmo que esse exame inicial tenha dado negativo para a infecção, os médicos continuaram a suspeitar da infecção viral. Na época, o hospital não incluía a testagem sorológica em seus procedimentos, onde seria possível verificar a presença (ou não) de anticorpos contra o coronavírus.
Após o óbito, foi solicitado um segundo exame para esclarecer um possível resultado "falso negativo" para a COVID-19 no paciente. Entretanto, esse teste levou 27 dias para ser realizado. Em análise das amostras, foi confirmada a infecção por coronavírus e, em autópsia, os médicos encontram o vírus nos tecidos pulmonares da vítima. "[Isso] prova que o vírus pode ser detectado em tecido humano morto quase um mês depois", afirmam os pesquisadores envolvidos no caso.
Quanto tempo o coronavírus pode sobreviver?
Por quanto tempo o coronavírus pode resistir em um cadáver? Ele permanece contagioso neste estado? Essas seguem sendo perguntas sem respostas durante a pandemia da COVID-19. Ainda em abril, foi relatado no Journal of Forensic and Legal Medicine o caso de um médico que teria sido contaminado pelo coronavírus a partir do manuseio de um cadáver, já que era legista. No entanto, o artigo foi posteriormente removido, porque não era possível afirmar, com precisão, onde aconteceu a infecção, pois o hospital estava repleto de pacientes contaminados.
De acordo com o virologista da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, Matthew Koci, uma vez que o corpo morre, o coronavírus não pode mais se replicar. No entanto, o agente infeccioso pode permanecer no tecido por um determinado período, explica. Quanto tempo isso pode durar dependerá de fatores como quais tecidos estão infectados e em que condições estão armazenados. No caso britânico, foi em baixas temperaturas.
No texto publicado, os pesquisadores argumentam que entender por quanto tempo o coronavírus pode sobreviver em um tecido humano morto é uma "informação chave" e que pode modificar os protocolos adotados até então na pandemia. É provável que "o vírus persista e permaneça viável em cadáveres, daí a necessidade de usar equipamento de proteção individual adequado ao manusear corpos de pessoas falecidas e durante os exames pós-morte", completa o artigo.
Para ler o relato de caso completo, publicado na BMJ Case Reports, clique aqui.
Fonte: Com informações: News Week