Antidepressivos têm relação com superbactérias, segundo estudo
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
A resistência a medicamentos, especialmente a antibióticos, está entre as principais causas de morte no mundo. Com a pandemia da covid-19, a situação piorou ainda mais, com remédios sendo prescritos sem necessidade. Agora, cientistas australianos revelam que outras classes de drogas, como antidepressivos, podem ter a sua parcela de culpa no surgimento de superbactérias. Só que estas descobertas são bastante preliminares.
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Publicado na revista científica PNAS, o estudo examinou os efeitos de 6 antidepressivos — incluindo a fluoxetina e a sertralina — e 13 antibióticos sobre a bactéria Escherichia coli. A ideia foi entender como essa exposição refletia na resistência das novas linhagens.
No experimento, “após alguns dias de exposição [a antidepressivos], as bactérias desenvolvem resistência a medicamentos, não apenas contra um, mas vários antibióticos”, afirma o pesquisador Jianhua Guo, da Universidade de Queensland, na Austrália, em comunicado.
No entanto, foi investigado apenas o impacto do uso de antidepressivos em bactérias no laboratório (in vitro). Na vida real, os resultados podem ser diferentes, já que outros fatores devem ser considerados.
Associação de antibióticos com superbactérias ainda é preliminar
O que sabemos é que a exposição ao antidepressivo, in vitro, fez com as bactérias se tornassem mais resistentes e apresentassem novas mutações no decorrer dos dias. Nos experimentos, foi usada a bactéria E. coli, que pode ser encontrada normalmente no trato gastrointestinal dos indivíduos.
Só que o experimento não simulou o mesmo ambiente natural — nestas circunstâncias, hoje, não sabemos o que ocorre. Por exemplo, é preciso verificar se as mesmas concentrações de antidepressivo chegam até o intestino e, de fato, impactam a bactéria.
Por este e outros motivos, os cientistas não aconselham ninguém a parar o uso de antibióticos. "Se você tem depressão, isso precisa ser tratado da melhor maneira possível. Depois, em segundo lugar, as bactérias”, reforça Lisa Maier, outra autora do estudo.
Buscando entender como as bactérias reagem aos antidepressivos em organismos vivos, os pesquisadores realizam os primeiros testes em modelos animais. A ideia é entender como a classe de medicamentos afeta o microbioma intestinal de camundongos.