Bebida alcoólica pode causar vários tipos de câncer, sugere estudo
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Pesquisadores da China e do Reino Unido investigaram a relação entre o consumo de álcool e diferentes tipos de câncer em 150 mil voluntários. Publicado na revista científica International Journal of Cancer, o estudo genético sugere que o consumo etílico regular pode elevar o risco da formação de tumores, principalmente nas regiões do esôfago, cabeça e pescoço.
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Por muitos anos, pesquisadores buscaram, sem sucesso, evidências diretas sobre a relação do álcool e o câncer. Isso porque alguns fatores estão associados ao consumo etílico, como alimentação inadequada, tabagismo e baixa frequência de exercícios físicos. Todos esses elementos também possuem alguma ligação com o aparecimento das células cancerígenas.
Para contornar essa barreira, cientistas da Oxford Population Health, da Universidade de Pequim e da Academia Chinesa de Ciências Médicas abordaram o problema de forma genética. Em outras palavras, a equipe investigou variantes genéticas ligadas ao menor consumo de álcool em populações asiáticas.
"Nossas descobertas indicam que o álcool causa diretamente vários tipos de câncer", explica o pesquisador Pek Kei. Curiosamente, esses riscos aumentam para os indivíduos "com baixa tolerabilidade ao álcool herdada" e que "não conseguem metabolizar adequadamente o álcool”, afirma Kei.
Álcool, câncer e genética
No total do estudo, a equipe avaliou o histórico de saúde de 150 mil voluntários por mais de 10 anos, sendo aproximadamente 90 mil homens e 60 mil mulheres. Todos os participantes eram de origem chinesa e de algum outro país da Ásia Oriental, como a Coreia do Sul. Durante a pesquisa, as pessoas eram questionadas sobre os seus hábitos de consumo e seus registros gerais de saúde.
Gene que "reduz" o consumo de álcool
Especificamente, a equipe de cientistas acompanhou a presença (ou não) de duas variantes genéticas comuns que são conhecidas por reduzir a tolerabilidade de uma pessoa ao álcool, a ALDH2 e a ADH1B. Estas diminuem a capacidade do organismo em quebrar o acetaldeído — uma molécula tóxica produzida quando o corpo metaboliza o álcool.
A avaliação dos hábitos de consumo, segundo os pesquisadores, confirmou que os indivíduos com os genes de baixa tolerabilidade ao álcool consumiam significativamente menos álcool do que aqueles sem as variantes do gene. Além disso, estudos anteriores já observavam essa mesma tendência.
Segundo o estudo, os indivíduos com pelo menos uma das duas variantes genéticas apresentaram entre 13% e 31% menos risco de câncer. Do outro lado, cânceres conhecidos por estarem ligados ao álcool — como de cabeça, pescoço, esôfago, cólon, reto e fígado — foram detectados em taxas mais elevadas naqueles que bebem mais.
Além disso, a pesquisa descobriu que aqueles indivíduos com pelo menos uma variante de baixa tolerabilidade ao álcool, que ainda bebiam álcool regularmente, apresentavam taxas significativamente mais altas de câncer de cabeça, pescoço ou esôfago. Isso indica que a incapacidade de quebrar o acetaldeído pode estar diretamente ligada a um risco aumentado de câncer.
Fonte: International Journal of Cancer e Universidade de Oxford