Agulha bifurcada e vírus vivo? Veja como são as vacinas da varíola dos macacos
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 25 de Julho de 2022 às 13h13
Para controlar a varíola dos macacos (monkeypox), alguns países já começaram a imunizar profissionais de saúde, grupos de risco e contatos de pacientes infectados. Este é o caso dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França. Nesta tarefa, os profissionais de saúde podem contar com duas vacinas: a ACAM200 e a Jynneos.
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As duas vacinas disponíveis para a prevenção da varíola dos macacos envolvem o uso de um vírus vivo, o vaccinia. Este agente infeccioso foi criado especificamente para proteger contra a varíola comum (smallpox) — já erradicada do globo —, mas também protege contra a monkeypox. Nessa caso, ocorre o procesos chamado de imunização cruzada.
Uma curiosidade é que a fórmula ACAM200 usa a mesma estratégia de vacinação que foi adotada para erradicar a varíola do globo: a agulha bifurcada. A seguir, vamos compreender melhor como este dispositivo poderá ser um aliado na prevenção da varíola dos macacos, já que é bastante simples.
Vacina ACAM2000 contra a varíola dos macacos
Desenvolvida pela farmacêutica Emergent, a vacina ACAM2000 pode ser considerada como uma versão moderna e atualizada da fórmula que era aplicada contra a varíola comum, ainda nos anos 1970. Isso porque contém o mesmo vírus e segue o mesmo método de aplicação.
O imunizante carrega o vírus vaccinia e, após ser aplicado, este agente infeccioso se replica no organismo da pessoa, o que desencadeia a imunidade contra os outros tipos de varíola. No entanto, ele não causa nem a varíola e nem a varíola dos macacos. Em outras palavras, a pessoa não terá os sintomas das outras doenças, já que este é um vírus diferente e que foi selecionado em laboratório.
O que é agulha bifurcada?
Apesar de parecer um pouco estranho e até antiquado, o uso da agulha bifurcada é um método bastante eficaz e barato. Inclusive, é considerado um dos fatores que permitiu a erradicação da varíola do globo, já que a aplicação demanda apenas uma dose, com múltiplas agulhadas.
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), esta agulha recebe o nome de lanceta bifurcada, sendo composta por "uma fina haste de aço inoxidável de, aproximadamente, cinco centímetros de comprimento e com duas pontas em formato de forquilha em uma de suas extremidades".
Após a aplicação, a pessoa desenvolverá anticorpos contra o vírus a partir de quatro semanas. De forma semelhante que ocorre com a BCG (Bacilo Calmette–Guérin), a aplicação deixa uma pequena marca no braço.
Quem não pode tomar?
Como a ACAM2000 carrega um vírus vivo e que não foi atenuado, o seu uso não é indicado para indivíduos imunossuprimidos, já que em pessoas com o sistema imune enfraquecido há potencial risco de provocar complicações. Também não é recomendada para gestantes e crianças com menos de um ano. Além disso, pessoas com alergia a algum item do composto não devem recebê-lo.
Quais são as reações mais comuns?
Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, as reações mais comuns da fórmula contra a varíola dos macacos são:
- Dor no local da injeção, inchaço e vermelhidão;
- Febre;
- Irritação na pele;
- Inchaço dos linfonodos;
- Possíveis complicações da inoculação quando não é bem feita.
Imunizante Jynneos é a opção mais nova
Além da ACAM2000, alguns países já contam com uma vacina que pode ser considerada mais moderna contra a varíola dos macacos: a Jynneos. Em alguns locais, a fórmula produzida pela farmacêutica dinamarquesa Bavarian Nordic pode receber o nome de Imvamune ou Imvanex. A vacinação pode ser recomendada para quem tem mais de 18 anos.
Diferente da outra vacina, a Jynneos é aplicada com agulha padrão — por via subcutânea —, mas demanda duas doses para que o paciente obtenha a máxima proteção. A imunidade já é significativa a partir de 15 dias da segunda dose.
Quem pode usar?
A Jynneos contém o vírus vaccinia, mas este foi é enfraquecido (atenuado) em laboratório para se tornar incapaz de causar formas mais graves da doença. Sobre a questão, o CDC detalha que o agente infeccioso "não se replica eficientemente em células humanas". Por isso, o uso do imunizante é mais amplo e pode ser aplicado em pessoas imunossuprimidas, como em quem convive com o HIV.
Apesar do uso mais amplo, a vacina não é indicada para pessoas que tenham alergia a algum componente da fórmula, como gentamicina, ciprofloxacina, proteína do ovo.
Quais são as reações?
De acordo com o CDC, as reações mais comuns se concentram no local da injeção. Nesses casos, os pacientes vacinados podem relatar dor, inchaço e vermelhidão.
Tem vacina contra a varíola dos macacos no Brasil?
No momento, o Brasil ainda não tem estoque de nenhuma das vacinas contra a varíola dos macacos disponíveis. No entanto, o Ministério da Saúde se organiza, com a Organização Mundial da Saúde (OMS), para adquirir doses do imunizante. Segundo a Saúde, as negociações estão sendo feitas de forma global com o fabricante.
Fonte: CDC, Fiocruz e Agência Brasil