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Abrir mais leitos de UTI é a melhor estratégia contra o avanço da COVID-19?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 14 de Abril de 2021 às 13h53

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Chalabala/Envato Elements
Chalabala/Envato Elements

Na crise do novo coronavírus (SARS-CoV-2) no Brasil, a abertura de novos leitos de unidades de tratamento intensivo (UTIs) pode não ser, necessariamente, efetiva para conter o avanço da COVID-19 e auxiliar na recuperação de pacientes internados. De acordo com a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (Amib), abrir mais leitos não deve ser única mediada adotada contra a doença.

Desde dezembro do ano passado, o Brasil abriu um número surpreendente de leitos de UTI e, dessa forma, pode ter extrapolado o limite estrutural para a criação de leitos adequados ao tratamento da COVID-19, aponta a Amib. Isso porque um leito para um paciente com coronavírus não envolve apenas o espaço físico, mas sim toda a equipe de profissionais necessários e uma gama de aparelhos e medicamentos disponíveis. 

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Inclusive, um dos indicadores do limite em atender os pacientes nos leitos de UTI é a alta taxa de pacientes intubados que não conseguem se recuperar da doença. "Quando se começa a obter informações de que dados indicam que até 80% dos pacientes submetidos à ventilação mecânica morrem, isso, além da gravidade da doença, está relacionado à sobrecarga do sistema, ao colapso", afirma Ederlon Rezende, do conselho consultivo e coordenador do Projeto UTIs Brasileiras da Amib, em entrevista à DW Brasil. 

Caso brasileiro no combate ao coronavírus

"No Brasil, tivemos um aumento do número de leitos de UTIs surpreendente. O país é um dos países do mundo que mais têm leitos de UTI per capita", afirma Rezende. Isso porque uma das grandes estratégias foi investir em leitos para os pacientes da COVID-19, no entanto, de forma isolada, isso não é o suficiente para conter o avanço do vírus. 

Outras medidas, como incentivo ao distanciamento social, uso de máscaras e vacinação, devem ser combinadas para se combater a transmissão. Dependendo principalmente dos hospitais, a possibilidade do controle não funcionar é alta, já que os pacientes internados representam a última ponta da cadeia de transmissão do vírus.    

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Para controlar o aumento dos casos e internações, "há dois caminhos, basicamente: aumentar a capacidade do sistema da saúde; e controlar a curva de crescimento de casos. Essas ações visam evitar o colapso do sistema", explica Rezende. No entanto, a principal estratégia focou mais na abertura de leitos, do que em outras ações. "Quando se faz isso, não há uma preocupação com o resultado, em salvar vidas, mas em colocar as pessoas para dentro, dizer que elas tiveram acesso ao sistema", pontua.

O que afeta a capacidade das novas UTIs contra a COVID-19?

Não há um único fator responsável pela alta taxa de mortalidade de pacientes intubados da COVID-19, mas algumas questões devem ser levantadas. Os profissionais da saúde —  como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e fisioterapeutas —  enfrentam exaustão e casos de burnout. Além disso, faltam profissionais disponíveis e qualificados no mercado para ocupar as novas vagas abertas.

"Quando se abrem leitos de UTI desmedidamente, isso é feito de maneira improvisada. E UTI não aceita improviso. É preciso uma boa equipe, bem treinada, bem capacitada, além da estrutura adequada. Abrir leitos de maneira improvisada faz com que os resultados não sejam os mesmos de quando os limites da capacidade são respeitados", explica o médico. "Na hora em que se começa a sobrecarregar essa equipe, ou improvisar com profissionais que não são adequadamente treinados e qualificados, os resultados são ruins", afirma.

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"Se há mais leitos, mesmo quando há aumento do número de casos, de internações, de óbitos, a taxa de ocupação cai por um cálculo matemático. Logo, diz-se para a população que é possível continuar a vida normal. E isso tem sido muito ruim", comenta Rezende sobre a falsa impressão de segurança causada pelos números de leitos disponíveis.

Fonte: G1