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O que é efeito bolha? Fenômeno é comum em redes sociais

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Efeito bolha é o termo usado para descrever a exposição das pessoas a conteúdos que confirmam e reforçam as suas opiniões. As bolhas sociais sempre existiram, mas isso foi impulsionado a outro nível com os algoritmos de recomendações das redes sociais.

As pessoas não entram nessas bolhas de forma consciente, elas são direcionadas pelo algoritmo e se sentem acolhidas naquele meio, mas a longo prazo, isso tende a afastá-las de interações sociais saudáveis e da tolerância a opiniões diferentes.

Como funciona o efeito bolha nas redes sociais

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As bolhas digitais são grupos de pessoas que se juntam para compartilhar informações e discutir assuntos de mesmo interesse.

Elas sempre existiram, mas são potencializadas pelo algoritmo de recomendação das redes sociais que, inicialmente, tinha o objetivo de facilitar a navegação do usuário ao sugerir conteúdos relacionados aos seus interesses e interações anteriores.

Com o tempo, os algoritmos melhoraram a sua capacidade de recomendação para aumentar o tempo de tela e a exposição de anúncios com foco no lucro das redes sociais. “Nossa atenção virou uma moeda de troca”, comentou a psicóloga clínica e pesquisadora em ciberpsicologia Juliana Taha.

Para a escritora e pesquisadora em Comunicação Digital Pollyana Ferrari, a discussão da bolha tem relação com a solidão causada pelas telas. “O uso excessivo de telas gera solidão”, reforça.

Quais são os impactos das bolhas digitais?

As bolhas digitais reforçam crenças existentes e reduz o contato das pessoas com informações diferentes. Elas criam uma falsa aparência de consenso popular. Uma consequência disso é a polarização, pois qualquer opinião divergente ativará o mecanismo de defesa natural do ser humano.

Além disso, Juliana Taha explica que temos um viés interno de prestar mais atenção em conteúdos negativo e emocional-afetivo e, como o algoritmo aprende com as interações dos usuários, ele tende a recomendar publicações que ativem esse viés de negatividade, pois geram mais engajamento e tempo de tela.

Isso cria “canais férteis para a proliferação de todo tipo de informação, incluindo mentiras e boatos, pois diminuiu-se o senso crítico e a tolerância ao conteúdo diverso”, pontua o especialista em Tecnologia da Informação e Comunicação Marcelo Guedes.

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Esses boatos e mentiras, normalmente, são sobre um grupo que discorda das crenças da bolha. Cria-se uma noção de “nós contra o outro” e isso pode culminar em aumento dos discursos de ódio, preconceitos e, até mesmo, rompimento do estado democrático em casos mais graves.

Para Marcelo Guedes, “estamos perdendo empatia e a percepção do outro, afinal só percebemos o outro em situações de conflito, no qual o outro é um pária e não merece a atenção da sociedade e do Estado”.

Como a IA contribui para o aumento do efeito bolha

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A pesquisadora Pollyana Ferrari aponta um crescimento das bolhas digitais devido ao uso de agentes inteligentes de IA, como o ChatGPT. Para ela, “o grupo [as bolhas digitais] continua lá como um alicerce”, mas há um “aumento de agente inteligente no lugar dos mediadores”.

Ou seja, os mediadores dos grupos usam a IA para gerar conteúdo em massa e aumentar o engajamento dos integrantes da bolha. “Tem mais marcas e agentes inteligentes oferecendo coisas no Instagram do que o nosso feed de amigos”, pontua.

Os agentes inteligentes foram alimentados por uma década com os dados dos algoritmos, sendo “criados a partir das pegadas dessas bolhas” e, agora, as redes sociais estão “trocando interações humanas por agentes, porque o agente não fica doente e não vai sair da bolha”, de acordo com Ferrari.

Essa ideia vem do mesmo modelo algorítmico de reforçar as crenças e ideias do indivíduo, só que de uma maneira muito mais pessoal. Para a psicóloga Juliana Taha, um futuro próximo pode levar ao pensamento de “eu não vou ser entendida por mais ninguém, porque meu celular me entende melhor”, levando ao isolamento.

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Como furar as suas bolhas digitais

Para Juliana Taha, não adianta tentar controlar o algoritmo, porque isso é impossível, mas existem meios de reduzir os efeitos psicológicos causados pelas bolhas, como fazer atividades físicas, ter uma vida mais desconectada das redes e, principalmente, se conectar a outras pessoas presencialmente.

“Um dos aspectos mais importantes do nosso bem-estar humano é se sentir conectado com os outros, e conectado não é concordar sempre e ter o mesmo ponto de vista, mas ter a capacidade de dialogar, de conversar, de colocar pontos de vistas diferentes”, comenta Taha.

Já Pollyana Ferrari propõe uma reflexão: “Faça uma lista de quantas bolhas você tem. Sincero, para você mesmo. Dá para sair? Por que eu me enfiei só nisso? Não deixe o algoritmo do Spotify, por exemplo, dominar a sua escuta de música. Rompa o algoritmo. Escute outra coisa”.

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