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Diversidade importa: fundador do Orkut fala sobre a inclusão na tecnologia

Por| 21 de Outubro de 2020 às 20h00

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Divulgação: Hello
Divulgação: Hello

*Por Nathan Vieira e Natalie Rosa

Um assunto que tem conquistado cada vez mais espaço ao longo do tempo é a diversidade, e isso também se estende ao ramo da tecnologia. Com isso em mente, na próxima quinta-feira (22), no evento de inovação e transformação digital Silicon Valley Web Conference, haverá uma palestra sobre diversidade no Vale do Silício, ministrada por Orkut Büyükkökten, o engenheiro de software responsável pela lendária rede social que levava o seu nome. E a equipe do Canaltech conversou com o próprio Orkut para ter um vislumbre do assunto.

Orkut: uma presença marcante no Brasil

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Antes de entender a proposta de Orkut Büyükkökten, é preciso entender quem ele é e o que representa na área da tecnologia. O engenheiro de software turco é um veterano de 11 anos do Google com um mestrado e doutorado em Ciência da Computação pela Stanford University, na Califórnia, onde lançou a primeira de suas três redes sociais de sucesso: a Club Nexus, em 2001.

“Na Turquia, a engenharia de software é uma área bastante popular, assim como a engenharia elétrica. As faculdades de ciência da computação são tão boas que quando eu cheguei ao Google fiquei surpreso em ver a boa educação que eu tive lá”, relembra Orkut, em entrevista ao Canaltech.

Mas foi em 2004 que ele criou e lançou o Orkut.com, uma rede social que reuniu mais de 300 milhões de usuários em todo o mundo e, em seu auge, foi responsável por mais de 50% das visualizações de página do Google, sendo, naquela época, o website líder na Índia e no Brasil. Para se ter uma noção, a sede da rede social ficava na Califórnia até agosto de 2008, quando o Google anunciou que o Orkut.com seria operado no Brasil devido à grande quantidade de usuários brasileiros.

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Não é segredo para ninguém que a rede social foi um marco para nosso país, com um sucesso que nenhuma outra conseguiu atingir por aqui. Se foi da sua época, é muito provável que você se lembre até hoje das comunidades, que serviam para reunir diversas pessoas com gostos em comum, ou dos depoimentos, em que se deixava registrado o carinho que se tinha por alguém (diferente dos scraps, que eram mais dinâmicos).

“Nós vemos muitos relacionamentos autênticos e genuínos acontecendo em redes sociais, em que as pessoas fazem amigos, arranjam empregos e até mesmo arranjam namorados e namoradas. Uma das minhas memórias do Brasil é de quando alguém chegou para mim e disse 'eu conheci minha esposa no Orkut', e eles têm dois filhos e até me mostraram fotos deles no celular”, conta o criador da rede social.

O Orkut.com teve seu fim em 2014 e, dois anos depois, o engenheiro de software lançou uma nova rede social, chamada Hello. O site pode ser personalizado em três idiomas: inglês, francês e português. Em agosto de 2016, o Hello já estava disponível nos EUA, Canadá, França, Reino Unido, Austrália, Nova Zelândia, Irlanda e Brasil, tanto no iOS quanto no Android.

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Saúde mental nas redes sociais

É indiscutível que a rede social em questão abriu portas para o que hoje está tão presente em nosso cotidiano. “Depois da visibilidade do Orkut.com, eu tenho visto muitas respostas de como a engenharia turca construiu uma rede social que conseguiu ter visibilidade global e que também encorajou muitos adolescentes de lá a terem escolhido a tecnologia como uma profissão”, analisa.

No entanto, principalmente com o passar do tempo, as redes sociais têm chamado atenção para uma questão delicada: a saúde mental. “As redes sociais de hoje tem se tornado um lugar de assédio e abuso quando a questão é a diversidade. Muitas pessoas vêm sofrendo assédio devido aos seus posicionamentos políticos, sua aparência física ou o seu gênero, então vemos o efeito oposto. As redes sociais estão encorajando as pessoas a serem todas iguais e isso acaba criando problemas com a sociedade, onde as pessoas estão se sentindo mais inseguras, sozinhas e infelizes”, observa o engenheiro de software.

Orkut explica que as empresas começaram a priorizar renda, marketing e propaganda em vez de usuários. Há tanta tecnologia por trás disso, como o aprendizado de máquina e inteligência artificial, que automatizam algoritmos para que as pessoas usem mais os seus produtos e passem mais tempo neles, e isso na verdade acabou separando mais as pessoas, criando estresse, ansiedade, solidão e infelicidade.

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“Com a tecnologia, você pode criar e desenvolver o serviço para diferentes propósitos que você tenha em mente. E se o seu propósito é unir as pessoas e deixá-las felizes, então é válido tentar, mas se o seu propósito for fazer as pessoas passarem o maior tempo nelas possível e fazer dinheiro, então o efeito será oposto. Se você observar as redes sociais, você sempre vê seus amigos e família, eles estão sempre em festas, viajando pelo mundo, sempre parecem tão fabulosos, e você olha para estes posts e você acha que nunca vai ser tão bom quanto eles e isso cria uma insegurança que as pessoas acreditam que o que veem online é real, mas tudo tem filtro”, afirma.

“Então se você olhar para as redes sociais hoje, você acha que ter uma vida daquelas vai te deixar feliz, e que felicidade vem do número de seguidores ou números de likes, mas a felicidade vem de nossas amizades e das experiências que compartilhamos uns com os outros. Hoje, as redes sociais estão fazendo as pessoas passarem menos tempo pessoalmente com as outras e ter essas experiências, e fazem as pessoas postarem conteúdo apenas para obterem mais engajamento”, o engenheiro acrescenta.

Por outro lado, Orkut reflete que é muito importante ter essas discussões sobre o valor da diversidade e como usar empresas populares e redes sociais para garantir que as pessoas sejam mais aceitas. “Se você ver a diversidade hoje, as empresas sempre falam sobre quantas pessoas negras são contratadas, quantos latinos e gays são contratados, mas essa discussão precisa ir mais adiante, afinal a diversidade não é só sobre as pessoas que você contrata, mas também em como você as aceita e as empodera”, conclui.

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A diversidade no mundo da tecnologia

O Canaltech também conversou com Orkut sobre o cenário da diversidade no Vale do Silício, que abriga uma grande parte das maiores empresas de tecnologia do mundo, e como vem sendo essa realidade atualmente, o que é tema do evento que irá participar. De acordo com o executivo, a região já é conhecida por ser bem aberta e diversa, e ele diz que foi bem sortudo. "Quando eu me formei em Stanford e comecei a trabalhar no Google, eles já tinham uma força de trabalho bastante diversa. Eles têm ainda um nome para os seus funcionários da comunidade LGBTQ+ chamada de Gayglers", conta.

O termo Gayglers foi criado ainda em 2006 e começou a ser usado de brincadeira para classificar os funcionários gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros da companhia, sendo uma junção das palavras "Googler" + "gay". Orkut contou ainda que lá no começo do Google, a representatividade era maior de homens e de pessoas brancas, mas que os números foram caindo significativamente conforme a empresa foi crescendo. O entrevistado ainda diz que, segundo dados do ano passado, houve um aumento de pessoas negras, por exemplo, na indústria da tecnologia como um todo, o que é um ponto positivo.

Perguntamos também a Orkut como ele viu o impacto das redes sociais a favor de ajudar minorias a se encontrarem, conversarem com pessoas pertencentes a uma mesma comunidade e compartilhar suas experiências. Ele contou que o Orkut.com já foi criado pensando nisso, o que já era visto na criação de um perfil, quando era possível definir a sua orientação sexual, além de crenças e religiões, políticas e governos, e que a sua intenção sempre foi fazer com que as pessoas se sentissem pertencentes, em casa e sempre bem-vindas.

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"Por exemplo, eu conheci este rapaz no Brasil no ano passado, que me contou que cresceu em uma cidade pequena e que sempre se sentiu atraído por garotos quando era jovem, mas não tinha nenhum modelo ou amigos gays", conta Orkut. "Então, ele disse que se sentia triste, até que entrou no Orkut.com e viu várias comunidades LGBTQ+, entrou nelas e começou a fazer amigos. Ele disse que essa experiência salvou a sua vida. Isso mostra o impacto das redes sociais na sociedade em relação à aceitação e diversidade", completa.

Mas para uma empresa ser inclusiva, não é preciso "apenas" começar a contratar pessoas mais diversas, como Orkut nos revelou. Para ele, as companhias não devem mostrar a inclusão em números, em quantas pessoas, negras, gays ou latinas são contratadas, mas também através de ações. "Elas (as empresas) têm que mostrar que respeitam as opiniões, experiências e crenças das pessoas, e também fazer mudanças que tornem a vida de seus funcionários melhores", diz o entrevistado.

Ele conta ainda que existe uma visão errônea sobre o tratamento concedido às pessoas que fazem parte de minorias. "Hoje, muitas pessoas acham que o que eles (os contratantes) querem é o que todo o resto quer, e que devem tratar as pessoas do jeito que eles querem ser tratados, mas isso é completamente errado, você precisa tratar as pessoas da forma que elas querem ser tratadas. Cada pessoa é diferente, cada pessoa tem uma paixão diferente, crenças e pontos de vista. Nós temos que garantir que somos inclusivos não só na questão de número de pessoas contratadas, como também na aceitação e respeito", conta.

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Orkut, que hoje toma conta da rede social Hello, encerrou a entrevista contando que, no Vale do Silício, em grandes companhias como a Apple ou o Alibaba, as empresas mais diversas também são as mais bem sucedidas, e que isso as torna grandes exemplos para as outras. "Porém, ainda temos um longo caminho a seguir porque homens brancos ainda são a maioria na indústria", finaliza.

Palestra

Orkut Buyukkokten irá se apresentar nesta quinta-feira (22) no evento Silicon Valley Web Conference (SVWC), debatendo a questão da diversidade nas empresas de tecnologia, principalmente do Vale do Silício e também nas redes sociais.

O objetivo do evento é trazer para os participantes uma amostra do que é Vale do Silício, que hoje é referência mundial em tecnologia e inovação. O SVWC vem acontecendo desde o dia 1° de outubro e chega ao fim no dia 30, totalizando 100 horas de debate de 10 temas diferentes: agro, mobilidade, financeiro, saúde, construção, varejo, RH/pessoas, educação, jurídico e inteligência artificial.

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O fundador do extinto Orkut.com e da rede social Hello vai palestrar a partir das 18h30 (horário de Brasília) do dia 22 de outubro. As inscrições podem ser feitas no site oficial do evento.