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Desinfluencers: a importância de não enganar os seguidores

Por| Editado por Luciana Zaramela | 02 de Março de 2021 às 16h45

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 Prateek Katyal / Unsplash
Prateek Katyal / Unsplash

A ascensão das redes sociais foi responsável por uma profissão relativamente nova no mercado: a de digital influencer. Em abril do ano passado, levantamos a seguinte questão: o que é ser um influenciador nas redes? Na ocasião, pegamos o termo em sua raiz: digital influencer (ou, traduzindo literalmente, influenciador digital), basicamente, é a pessoa que detém o poder de influência em um determinado grupo de pessoas. Esses profissionais das redes sociais impactam centenas e até milhares de seguidores, todos os dias, com o seu estilo de vida, opiniões e hábitos. Mas quais responsabilidades acompanham o fardo da influência?

Acontece que, em meio a inúmeras publicações, tentativas de engajamento, parcerias, publiposts, há toda uma questão ética, de não enganar os seguidores que acompanham, tão assiduamente, as publicações. Mesmo assim, produtos milagrosos e publicidades sem sinalização acabam tomando conta do feed e dos stories. Cabe a cada usuário, e às próprias redes sociais, tomar as devidas providências.

E no que diz respeito às providências, a farmacêutica clínica Priscilla Rezende acabou se destacando. Em seu perfil do Instagram, que inclusive atende por @desin.fluencer, Priscilla denuncia inúmeras publicações não sinalizadas, produtos sem respaldo científico e outros comportamentos que endossam a cultura do "corpo perfeito" e têm potencial para fazer os seguidores se sentirem mal, de alguma maneira.

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"Sempre procuro a composição dos produtos antes de dizer que não funciona. Conhecendo os ativos e sabendo que não vão entregar o que estão prometendo, faço o alerta aos meus seguidores", afirma a farmacêutica. Questionada sobre os possívels perigos de se confiar nos produtos 'mágicos' que as influencers compartilham, Priscilla observa: "Alguns podem trazer danos à saúde sim, principalmente as escovas progressivas ditas 'sem formol', que são produzidas em fabriquetas de fundo de quintal e que contém alta concentração de formol, que tem o uso proibido pela Anvisa para esse fim".

Em algumas publicações, Priscilla chega a mostrar os componentes de determinados produtos, para mostrar que ele não tem potencial para agir daquela forma que está sendo prometido. Com esse hábito, a farmacêutica acaba ressaltando a importância de prestar atenção no conteúdo de um produto que a gente compra, principalmente quando ele envolve nosso corpo e a nossa saúde. "As pessoas precisam cultivar o hábito de ler rótulos, sejam eles de alimentos, produtos de beleza, medicamentos. Procurar na Internet o que estão consumindo, o que significa aquele nome estranho, ver data de validade, interpretar a quantidade dos ingredientes etc. Isso é muito importante, principalmente para não comprar gato por lebre".

Um exemplo muito comentado nas redes de Priscilla é uma série de publicidades de um gel que promete reduzir gorduras localizadas. "A maior afronta dessas publicidades é que são feitas por mulheres lipoaspiradas que têm zero gordura localizada. Não existe milagre, não existe gel redutor que vai queimar gordura localizada, que vai acabar com a celulite e flacidez. Existem géis com ativos bons, mas que são apenas um complemento a vários outros tratamentos, como massagens, aparelhos específicos, dieta, atividade física, etc", analisa a farmacêutica.

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Na ocasião, ao denunciar esse produto, Priscilla chegou a comentar que cosméticos do tipo costumam ser caros porque quem compra uma vez não compra mais, e que outra estratégia é vender kits com inúmeros potes para desovar o produto antes que ele seja desmascarado. "Quem faz publi como dica de amiga está mentindo para você. E quem faz isso alegando propriedades que não são verdadeiras mente duas vezes e comete crime contra as relações de consumo. Não sigam essas pessoas, tenham piedade da sua saúde mental, porque é um mercado que lucra com a insegurança e autoestima baixa das pessoas e, principalmente, do seu bolso. Gominha para crescer cabelo, gominha de colágeno, gel redutor de medidas. Não comprem esse tipo de coisa", escreveu a farmacêutica em sua própria rede.

Ao Canaltech, Priscilla dá dicas de como identificar se um produto é inadequado e do que fazer antes de acreditar numa influencer e comprar o que ela está tentando vender: "É só ter bom senso. Você vai comprar um gel redutor de uma influencer malhada, sem uma celulite, flacidez ou gordura? Você acredita que ela realmente usa aquilo? Não, né? Tem que procurar a composição no site do produto, pedir evidências científicas para o fabricante, fazer uma busca do produto no site da Anvisa", orienta.

Para Priscilla, os impactos dessa cultura do corpo perfeito que muitos influencers propagam representam algo realmente sério. "Fazer cirurgia plástica hoje em dia transformou-se em algo tão banal quanto ir ao shopping. Essa questão envolve vários distúrbios psicológicos, como a dismorfia, por exemplo. Vemos pessoas muito magras se submetendo a uma cirurgia grande e cheia de riscos. Aí o seguidor vê aquele corpo todo transformado que reforça ainda mais o conceito de 'corpo padrão' e faz com que ele se sinta mal em relação ao próprio corpo, que é um corpo normal, é o corpo dele, é o que a gente tem", aponta.

A sinalização de publicidade

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A sinalização da publicidade está prevista em um artigo de uma lei federal, no Código de Defesa do Consumidor. No artigo 36, diz o seguinte: "A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem". Já o terceiro parágrafo do artigo 37 aponta: "Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço".

O Facebook descreve, nas suas políticas de publicidade, que "os anúncios que promovem conteúdo de marca devem marcar o parceiro de negócios, a marca ou o produto de terceiros apresentado usando a ferramenta para conteúdo de marca". A rede social ainda aponta que "o conteúdo de marca dentro de anúncios é definido como um conteúdo de publisher ou criador que apresenta um parceiro de negócios (ou é influenciado por ele) por uma troca de valor. Ao promover integrações de conteúdo de marca, os anunciantes devem usar a ferramenta para conteúdo de marca".

Sobre essas práticas, o Instagram disse o seguinte quando procurado pelo Canaltech: "Queremos que as pessoas no Instagram sejam transparentes sobre quando são pagas para postar conteúdo na plataforma. Por isso, incentivamos os criadores e marcas a utilizarem ferramentas desenvolvidas pelo Instagram para indicar esse tipo de conteúdo, como o recurso ‘Parceria pagas com…’, lançado em 2017. Encorajamos a comunidade do Instagram a seguir as melhores práticas locais e da indústria em relação à transparência com conteúdo patrocinado — e indicá-lo claramente".