Dados revelam que Instagram foi protagonista da manipulação russa nos EUA
Por Rafael Rodrigues da Silva | 17 de Dezembro de 2018 às 15h38
Um novo relatório divulgado pelo Comitê de Inteligência do Senado dos Estados Unidos revelou uma nova informação sobre a interferência russa durante as eleições do país em 2016: de acordo com o documento, o Instagram teve um papel na manipulação do eleitorado muito maior do que o inicialmente relatado pelo Facebook, e deverá ser uma das principais vias de manipulação usadas pela Rússia durante as eleições de 2020.
O resultado foi encontrado por três grupos de pesquisadores independentes (a empresa de segurança digital New Knowledge, a companhia de datacenters Canfield Research e pesquisadores da Universidade de Columbia) mostram que a IRA (Internet Research Agency, uma “fazenda de trolls” onde são criados a maioria dos memes e virais que influenciaram as eleições de 2016 nos Estados Unidos) teve no Instagram a sua rede social com maior engajamento, com números que superaram todas as outras redes sociais do mundo, incluindo o Facebook. O relatório explica que a IRA transportou suas atividades para o Instagram após a mídia dos Estados Unidos começar a escrever histórias sobre os bots russos no Facebook e no Twitter, e atuou na rede social de fotos praticamente sem ser incomodada.
Os resultados mostram uma diferença expressiva. Enquanto no Facebook e no Twitter somados a IRA conseguiu 150 milhões de interações de usuários dos Estados Unidos com suas postagens, no Instagram a agência atingiu 187 milhões de interações com o mesmo público e durante o mesmo período, composto do intervalo entre os anos 2015 e 2018.
Para os pesquisadores, o sucesso do Instagram na estratégia de manipulação russa é um indicador de que a rede social é perfeita para o tipo de “guerra memética” (uso de memes e imagens virais) que a IRA utiliza para manipulação ideológica.
Durante a audiência com o Congresso dos Estados Unidos em novembro, quando o Facebook revelou alguns dados sobre a influência russa, os representantes da empresa só citaram o Instagram de forma rápida, e apenas depois de serem pressionados pelos congressistas. Os pesquisadores acreditam que a empresa não deu tanta atenção à sua rede social de fotos por conta dela não possuir um botão para compartilhar postagens, o que diminui o caráter viral destas.
Apesar disto, a IRA teve bastante sucesso nos conteúdos para a plataforma, que exaltavam Donald Trump e criticavam a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton — algumas vezes de modo bem sutil. Um exemplo desse tipo de sutileza podia ser notado no perfil @femenism_tag, que promovia ideias feministas que muitas vezes se concentravam em mostrar como Hillary não era feminista.
Além do @femenism_tag, a IRA teve diversos outros perfis de sucesso na rede social. O mais famoso dele é o @blackstagram_, que chegou a ter mais de 303 mil seguidores, mas de modo geral cerca de 40% dos perfis criados pela agência chegaram a ter mais de 10 mil seguidores, enquanto 12 perfis chegaram a apresentar mais de 100 mil. Essas contas acompanhavam as discussões de outras páginas do Facebook e canais do YouTube criados pela IRA, e praticamente todas as postagens faziam referências a esses canais e páginas falsas, que eram citados junto com canais verdadeiros criados por cidadãos americanos reais, com o intuito de dar maior credibilidade ao conteúdo.
Até o momento, o Facebook não se pronunciou sobre as descobertas deste relatório, apenas declarando que já disponibilizou para os legisladores do país milhares de ads criados pela agência russa e que está criando ferramentas para evitar a manipulação da IRA em eleições futuras.
Fonte: Bloomberg