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Saiba o que Alan Moore disse sobre todas suas HQs adaptadas para filmes

Por| 16 de Janeiro de 2022 às 11h00

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Wkipedia/Creative Commons Fimb
Wkipedia/Creative Commons Fimb

Alan Moore é uma figura bastante conhecida e controversa na cultura pop. Seu livros, HQs, conceitos e pesquisas influenciam muita gente desde o início de sua carreira como escritor, no final dos anos 1970. E de suas obras saíram várias adaptações. A maioria a seu contragosto, o que deixa tudo ainda mais polêmico entre fãs e criadores.

Para Moore, nada na linguagem do cinema pode reproduzir com fidelidade as características exploradas em suas narrativas idealizadas para os quadrinhos — e ele tem razão, até porque tem HQ dele que pode ser lida como pôster; na forma de jogo de tabuleiro; e até com disco de vinil tocando ao fundo. Mas, claro, é por isso que as conversões chamam-se “adaptações”.

Aproveitamos uma lista feita pelo CBR para dar nossa própria opinião sobre essas adaptações e, de quebra, adicionar o que o próprio Moore grunhiu sobre essas produções. A começar o que ele reclamou ao próprio site em 2005: "Depois que os filmes foram lançados, comecei a me sentir cada vez mais desconfortável, tenho um respeito cada vez menor pelas maneiras como as coisas são comunicadas pelo cinema atualmente".

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Do Inferno (2001)

Moore fez uma das maiores — senão a mais vasta — pesquisa sobre o serial killer da Era Vitoriana, Jack, o Estripador. Logo nas primeiras páginas, a identidade do assassino já fica exposta. Então, o grande lance da história é a forma como autor criou, ao lado de Eddie Campbell, um “labirinto narrativo” ao longo de nove anos.

Após sua publicação finalmente estar completa, em 1999, a graphic novel foi adaptada para as telonas, com Johnny Depp e Heather Graham, em um filme que não foi bem recebido pela crítica e pelo público. E, comparada com a obra original, a conversão ficou extremamente rasa: os detalhes e a narrativa criaram um mosaico difícil de ser transposto para as telonas.

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Em trecho de uma entrevista para a Empire Magazine, Moore deu sua opinião. “Acho que assisti durante dez minutos, então percebi que, no fim das contas, foi uma má ideia. O trailer já era o suficiente, mas pensei que deveria tentar ser justo. Achei apenas uma farsa, então desliguei. Sou a última pessoa que poderia ser justa sobre um filme como esse. Não parecia haver qualquer maneira de me atormentar ou ser injustamente acrítico sobre uma produção que, obviamente, não será como a publicação.”

A Liga Extraordinária (2003)

Os quadrinhos da Liga Extraordinária sempre brincaram com a cultura da época que eles tratavam, sejam por meio dos próprios personagens intrigantes do século XIX ou por referências e até a brincadeira citada com jogo de tabuleiro e disco de vinil. A ideia de reunir os “heróis vitorianos” em tramas cheias de easter eggs sempre foi grande parte da diversão, que incluia também uma narrativa que se moldava para homenagear determinados períodos da comunicação no mundo.

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O filme destacou Sean Connery como Allan Quatermain e deu destaque ao romance e a uma saída preguiçosa e formulaica para a intricada rede de referências que tornava a publicação original tão divertida. Uma das mudanças mais questionadas foi o fato de o Quatermain das telonas não ser viciado em ópio. Em uma entrevista à MTV.com, Moore disse que “Sean Connery não queria interpretar um indivíduo viciado em drogas; o personagem foi jogado pela janela por capricho de um ator”.

Para piorar a relação de Moore com a produção, houve uma treta até hoje mal explicada que colocava o próprio criador da obra original em um processo de plágio envolvendo a 20th Century Fox. O escritor precisou explicar, em dez horas de depoimento, que ele não participou de um esquema envolvendo o roteiro do filme, que teria sido “roubado” para a criação do quadrinho o qual foi adaptado — não me pergunte, ninguém entendeu isso até hoje.

Em uma entrevista de 2008 ao CBR, Moore falou a respeito. "Eles pareciam acreditar que o chefe da 20th Century Fox me ligou e me convenceu a roubar esse roteiro, transformando-o em uma história em quadrinhos que eles poderiam adaptar de volta em um filme, para camuflar pequenos furos."

Desde então, Moore faz questão de não estar ligado a adaptações cinematográficas de seu trabalho — é comum ele ser creditado como “O Autor Original” em obras convertidas para outras mídias.

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Constantine (2005)

Moore introduziu John Constantine em The Saga of Swamp Thing #37, em 1985, ao lado dos artistas Rick Veitch, Steve Bissette e John Totleben. Ainda que não tivesse a complexidade dos dias de hoje, Constantine já se mostrava um bruxo de rua com várias facetas ligadas ao ocultismo e uma forte conexão com suas raízes britânicas.

O filme que chegou aos cinemas em 2005, com Keanu Reeves, embora tenha muitos fãs, deixa de lado a conexão inglesa do personagem e o coloca basicamente como um exorcista — esquecendo suas habilidades como detetive do oculto e deixando seu vasto conhecimento sobre diversas religiões e encantos em segundo plano. Além disso, seu melhor amigo, Chas, que tem grande importância em suas tramas, tornou-se uma espécie de sidekick mirim na pele de Shia LaBeouf.

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Em uma entrevista da BBC Radio 4 transmitida no início de 2005 Moore, que abriu mão de qualquer dinheiro relacionado aos créditos de criação atrelados ao filme, mostrou indiferença à adaptação. “[...] Recebi um telefonema de Karen Berger na segunda-feira seguinte, ela é editora da DC Comics, e me disse: ‘Sim, vamos enviar uma quantia enorme de dinheiro antes do final do ano, já que estão fazendo este filme de seu personagem com o Keanu Reeves’. Eu falei: ‘Certo, certo. Bem, tire meu nome disso e distribua entre os outros artistas’. Foi difícil para mim [aceitar o dinheiro de alguma forma], mas me sinto melhor comigo mesmo.”

V de Vingança (2005)

Esta obra de Moore mostra a ascensão de um anti-herói em meio a uma projeção política. A trama é desenvolvida de diferentes maneiras durante uma narrativa que muda de acordo com a ação de cada capítulo, sempre mantendo mistério a respeito da verdadeira identidade do protagonista. Há até uma passagem que brinca com aspectos musicais, com uma partitura seguindo as atividades do vigilante/terrorista que busca a anarquia, em sua jornada de vingança pessoal, em meio a um sistema fascista e opressor.

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Durante a produção do filme, Moore já tinha dito à MTV.com: “Li o roteiro, então sei exatamente o que eles estão fazendo, portanto, não vou ver o filme”. Mesmo com o relativo sucesso comercial, o autor criticou bastante a ausência de termos como “anarquia” ou “fascismo” no texto adaptado. Além disso, esmerilhou a própria editora que publicou, a DC Comics.

"Foi transformado em uma parábola da era Bush por pessoas tímidas demais para estabelecer uma sátira política em seu próprio país. Kevin O'Neill e eu temos os direitos sobre A Liga Extraordinária; e só por isso que consegui tirá-la da DC com tanto brilho, após me ofenderem com o filme V de Vingança.”

Watchmen (2009)

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Embora Watchmen já tivesse uma narrativa cinematográfica nos próprios quadrinhos publicados em meados dos anos 1980, há várias “brincadeiras” com a linguagem das HQs que são intransponíveis para as telonas. Suas sequências gráficas simétricas, que brincam com o “som” “ouvido” pelos olhos dos leitores, incluindo passagens que sugerem exercícios mentais entre os espaços em branco, não podem ser completamente traduzidos para outra mídia.

Zack Snyder fez um trabalho respeitável e até incluiu elementos interessantes à obra original, como o uso de uma música de Bob Dylan para resumir parte do conteúdo de uma forma que aproveita as possibilidades do cinema de forma complementar. Mas Moore já estava farto o suficiente com a indústria da Sétima Arte para aceitar qualquer tipo de colaboração, digamos, mais aceitável.

Em uma entrevista ao Los Angeles Times em 2008, ele disse que nunca assistiria ao filme, e mais: “posso dizer que também estarei ‘cuspindo veneno’ nos próximos meses”. “É como se fôssemos pássaros recém-nascidos olhando para cima, com a boca aberta, esperando que Hollywood nos alimente com mais vermes regurgitados. O filme Watchmen soa como mais vermes regurgitados. Eu, por exemplo, estou farto de vermes. Não podemos conseguir outra coisa?”

Batman: A Piada Mortal (2016)

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A obra original criada nos anos 1980 serve como uma “história definitiva” para o confronto entre o Batman e o Coringa, colocando-os como dois lados de uma mesma moeda. A narrativa, mais uma vez, brinca com a mente do leitor, alimentando horror psicológico, inclusive com um final que até hoje atormenta muitos dos fãs — o Homem-Morcego realmente mata o Palhaço do Crime?

A animação que adapta essa trama, além de mudar algumas coisas de forma muito pobre, incluindo um romance perturbador entre Batman e a adolescente Batgirl, realmente distorceu muitos elementos e destruiu boa parte da atmosfera da obra original.

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Em uma sessão de perguntas e respostas do Goodreads.com, Moore disse não ter interesse, nem na adaptação, e até mesmo em sua obra original. “Na verdade, nunca gostei de A Piada Mortal como um trabalho, embora lembre da arte absolutamente linda de Brian Bolland. Acho isso porque a história trata de forma muito violenta e sexualizada um personagem de quadrinhos simplista como o Batman, em um lamentável passo em falso de minha parte.”