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O que é HQ? | Como ler quadrinhos impressos ou digitais

Por| 06 de Julho de 2023 às 17h32

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Taschen Books
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Ler quadrinhos, principalmente quando estamos começando, pode não ser uma tarefa tão fácil quanto parece — e às vezes até chega a ser desgastante e frustrante. Veja bem: assim como todo escopo de arte e entretenimento que envolve outros gêneros, existem HQ para todos os gostos, idades, bolsos; desde as mais simples até as mais densas e complexas. Então, compreender melhor o gênero, a linguagem, pode ajudar você a encontrar o que mais gosta e pode desenvolver sua busca por jornadas mais profundas.

Bem, a humanidade está fazendo quadrinhos há milhares de anos, desde quando os homens das cavernas faziam desenhos rupestres nas paredes, passando pela escrita egípcia, pela forma gráfica e naturalmente onomatopaicas que os bárbaros transformavam sons em verbos nas versões iniciais da língua inglesa, até o começo da arte sequencial estática no final do século passado, quando o gênero passou a desenvolver com regularidade uma forma de expressão que também emprestava elementos da literatura.

Mas por que é necessário aprender a ler quadrinhos? Bem, ainda tem muita gente que nem consegue ler ou interpretar textos da língua portuguesa, muito menos um gênero ou linguagem. Os quadrinhos possuem elementos básicos, que sempre foram absorvidos de forma autodidata pelos leitores, porque não existe um sistema ideal para ensinar as pessoas a lerem histórias contadas com recursos visuais.

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A estrutura das histórias em quadrinhos

As histórias em quadrinhos têm uma forma própria, que pode ser resumida, no diagrama abaixo, que foi montado pelo pessoal do Vox: as páginas devem ser lidas da esquerda para a direita, e em um padrão "semelhante a Z" — você lê as linhas conforme elas estão em camadas, na descendente. Cada conjunto consiste em painéis, com ilustrações únicas, geralmente sequenciais, que contam a trama.

O espaço que separa cada painel é conhecido como gutter, ou algo como “calha” ou “valeta” em português, mas podemos chamar de lacuna. Afinal, é um elemento importante, que funciona como um “respiro” e constante exercício de criatividade, pois é o momento em que sua mente preenche sugestões vindas dos textos e imagens — é onde criamos vozes e outros sons com os olhos, por exemplo.

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Como é o trabalho de um quadrinista

Os quadrinhos são diferentes de qualquer outra forma de arte. Por causa disso, os profissionais dessa área precisam racionalizar os ângulos e pontos de vista da mesma forma que um diretor de cinema faria; devem pensar na composição e no contraste da maneira que um fotógrafo faria; e têm que combinar o uso de cores em suas ilustrações com a visão de um pintor.

"A maior diferença entre uma única ilustração e uma história em quadrinhos é o tempo", disse Christian Ward, o desenhista da história em quadrinhos Ody-C. Ward era professor de arte e agora é desenhista em tempo integral, trabalhando com empresas como Image Comics, Dynamite Entertainment e Marvel Comics.

"Você está tentando ilustrar o tempo e a passagem do tempo. Você não vê essa passagem do tempo nos quadrinhos porque, se estiver fazendo certo, a passagem do tempo deve estar na lacuna", acrescentou. "Cada painel é um momento do tempo. E então a lacuna é o tempo ocorrendo, e o próximo painel é o que acontece depois que o tempo ocorreu."

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Abaixo está um exemplo de Ody-C. Os dois personagens desses painéis entram em uma espécie de fonte termal, e você não vê uma sequência contínua, apenas fragmentos. O movimento real dos personagens entrando no local e se ajustando ao calor está na sua cabeça.

Dessa forma, os artistas de quadrinhos também desempenham o papel de editores, escolhendo a quais fragmentos dar vida, quando querem segurar a mão do leitor e quando querem que ele deduza algo por conta própria. "Você tem que decidir como são esses fragmentos de tempo", disse Ward, explicando que Matt Fraction, o escritor de Ody-C, dá a ele um roteiro de enredo, mas no final deixa o desenhista decidir como compor cada painel.

"Cada página terá pontos. Portanto, tenho que tomar a decisão [de como retratar esses pontos importantes]. Depois, meio que esboço", disse Ward, acrescentando que leva cerca de quatro semanas para criar a arte após receber o roteiro.

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Uma linguagem que oferece infinitas possibilidades

Esse resumo serve apenas para mostrar os elementos básicos, porque os artistas vivem explorando as possibilidade de composição, violando os limites dos painéis e expandindo a função das lacunas. Desde os anos 1950, geração após geração de quadrinistas se divertem em desafiar as convenções.

Por exemplo, não há regras sobre o tamanho de um painel, o que permite oferecer narrativas grandes e largas, para que os leitores desacelerem a visualização e consumam mais tempo examinando uma imagem de perto. Isso é extremamente eficaz quando você quer mostrar um conflito entre duas equipes cheias de super-heróis, como em Vingadores & X-Men: Eixo.

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Ao encurtar um painel, os artistas tornam o ritmo mais frenético, como no exemplo abaixo, da revista Alex + Ada, em que o ilustrador Jonathan Luna brinca com as dimensões do espaço para acelerar a violência e aumentar o medo em sua sequência de ação.

Também existem maneiras pelas quais um artista pode sinalizar subconscientemente, o tempo ou um estado de espírito para um leitor. Em The Wicked + The Divine, o artista e cocriador Jamie McKelvie e o colorista Matthew Wilson fazem isso mudando as cores das lacunas. Quando McKelvie e Wilson estão retratando o presente e um diálogo que você está assistindo como uma terceira pessoa, você as vê brancas e com linhas nítidas:

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Quando McKelvie e Wilson retratam um estado alterado, as cores das lacunas mudam, assim como o enquadramento dos painéis:

E quando a história em quadrinhos retrata um flashback, as lacunas ficam cinza. As molduras ou bordas do painel também ficam confusas, talvez por se tratar de uma memória imperfeita:

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Existem maneiras de subverter as regras e a forma de painéis e lacunas para transmitir partes de uma história. Se painéis e lacunas representam tempo e estrutura, então a ausência de algum desses elementos significa que algo está quebrado ou é tão poderoso que as diretrizes não se aplicam.

O artista Andrea Sorrentino brinca com isso em Uncanny X-Men Annual #1. O artista conta a história de uma mutante chamada Eva Bell com o poder de viajar no tempo. Mas Eva não está totalmente no controle de seus poderes e, para transmitir isso, o desenhista expressa o caos, quebrando painéis e fazendo-os sangrar uns nos outros. No momento em que Eva consegue se estabilizar, a ordem é restaurada.

Depende de você

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Essas informações sobre os elementos básicos dos quadrinhos e como os artistas concebem a história podem mudar sua percepção e desenvolver um olhar crítico, que, a cada ano que progride, pode levar você a uma imersão na Nona Arte. Observar o conjunto e as minúcias de expressão podem abrir horizontes e te jogar em uma atmosfera muito mais profunda.

Mas, nada disso funciona se você não se dedicar um pouco: é preciso ler quadrinhos de forma que você se divirta, mas HQs também podem trazer cargas mais densas de informação, sensações estranhas, pensamentos caóticos, emoções profundas e tudo o que uma manifestação artística pode oferecer para a alma do ser humano.

Cada jornada depende de você. E eu posso te garantir que quanto mais você se dedica a uma boa história, melhor ela vai te engolir, destroçar, regurgitar, e reconstruir como uma nova pessoa.