Marvel x DC | O que mudou e o que se manteve diferente entre as editoras
Por Claudio Yuge |
Houve um tempo em que a maior parte da audiência do entretenimento achava que Superman, Batman e Mulher-Maravilha faziam parte da mesma empresa do Homem-Aranha, Capitão América, Hulk, entre outros. Graças ao boom de adaptações, hoje em dia o público já sabe dizer que os três primeiros são parte da DC Comics e os outros da Marvel Comics.
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As duas editoras já foram o completo oposto, mas ao longo de suas trajetórias, as empresas foram incorporando ideias que deram certo na concorrência, e já é possível ver muita coisa parecida entre ambas. As sagas Guerra Civil e Reino do Amanhã, por exemplo, têm muitas semelhanças no questionamento sobre heroísmo. As Guerras Secretas de 2015 também se parece muito com o que Crise nas Infinitas Terras fez, ao mesclar elementos de várias realidades em uma só.
Além de autênticas coincidências, isso acontece porque muitos dos profissionais do mercado têm formação parecida e já trabalharam nas duas editoras. Ao longo das três últimas décadas é até possível ver sagas que foram planejadas em sigilo por meses, e, quando foram lançadas, ficaram tão parecidas que soava como algo combinado ou copiado.
Ainda assim, mesmo que Marvel e DC tenham se aproximado nos últimos anos, há três diferenças que definem cada uma.
Deuses e humanos
A DC Comics sempre seguiu o estilo clássico da mitologia greco-romana, em que os heróis são quase deuses, com poderes para destruir ou proteger o mundo. Por isso, eles são tão temidos quanto adorados — a Liga da Justiça teve até uma fase em que a Torre de Vigilância, uma estação espacial, servia de base para a equipe, como se os superseres estivessem olhando para a Terra do alto do Monte Olimpo. A jornada de Superman, Mulher-Maravilha, entre outros, é de equilibrar sua divindade com o lado humano.
Já a Marvel Comics sempre teve uma abordagem mais mundana. Eventos cotidianos afetam bastante o trabalho dos heróis, como o fato de o Homem-Aranha ter sempre que se virar para equilibrar sua vida como protetor com as contas para pagar. A Casa das Ideias destaca bastante as vulnerabilidades de seus personagens, e isso sempre os leva a brigarem mais entre si do que contra os reais vilões. A jornada dos Vingadores, X-Men e etc, é tentar superar suas limitações para alcançar um patamar mais divino.
Ícones
A confusão que muita gente que não acompanhava quadrinhos de super-heróis sobre quais personagens fazem parte de cada editora também aconteceu no próprio mercado editorial estadunidense no passado. A solução para isso foi cada empresa definir melhor a identidade visual de suas propriedades.
A DC define a identificação de seus personagens por meio de ícones, de logos, de símbolos que possam ser facilmente reconhecíveis. Basta ver o morcego no peito para saber que o herói é o Batman, assim como o “S” da Casa de El do uniforme do Superman, o raio do Flash, o anel do Lanterna Verde e o arpão do Aquaman.
Já a Marvel, embora também use alguns símbolos, com a aranha do Homem-Aranha e o “X” dos X-Men, sua identidade visual está mais conectada ao esquema de cores. Os mutantes sempre têm um tonalidade específica de amarelo, assim como o vermelho nos Vingadores, o verde do Hulk e o azul do Escalador de Paredes.
Cidades
As cidades também são bem diferentes. Enquanto a Marvel usa mais locações reais, embora também tenha ambientes fictícios, como Wakanda e Genosha, a DC combina elementos em um só centro. Por exemplo, Gotham City é uma mistura da Nova York dos anos 1970 com a Chicago dos anos 1930 — falei sobre as inspirações para as outras metrópoles da editora nesta matéria.
Legado
A DC sempre valorizou a tradição do legado. A Sociedade da Justiça representa a “velha guarda”, que ensina a nova geração, representada pelos Novos Titãs, a se tornarem heróis maduros como a Liga da Justiça. E a Legião dos Super-Heróis usa todos esses ensinamentos no futuro. Além disso, cada personagem icônica funciona como uma franquia, como a BatFamília, a SuperFamília, a Tropa dos Lanternas Verdes, os Flash, e por aí vai.
A Marvel, como é mais mundana, dificilmente consegue manter uma linha em cada propriedade, pois os heróis são tão rebeldes e divergem tanto o tempo todo que criar uma franquia em cada personagem até descaracterizaria sua própria essência. Contudo, depois de 2010, a Casa das Ideas aumentou a representatividade com mais diversidade, então, o legado da editora vem na forma de versões mais jovens, com diferentes gêneros e etnias.
Um grande exemplo para entender isso é a formação da Liga da Justiça e dos Vingadores. Enquanto a primeira equipe sempre precisa da Trindade (Superman, Batman e Mulher-Maravilha), a segunda, embora tenha desenvolvido uma trindade própria com Capitão América, Thor e Homem de Ferro, vive mudando de formação e nenhum dos três são presenças obrigatórias — até porque eles dificilmente aguentam ficar tanto tempo juntos.
Multiverso
A DC adquiriu várias empresa ao longo das décadas, como a Fawcett Comics e a Charlton Comics. Além disso, personagens que nasceram nos anos 1930 e 1940, como Batman, Superman e Mulher-Maravilha, mudaram muito para acompanhar a evolução do mundo. A própria Sociedade da Justiça ficou bastante tempo desatualizada. A saída para isso foi criar várias Terras paralelas, que podiam, assim, abrigar todas as versões e propriedades.
Já a Marvel não precisou fazer isso para conter seus personagens. Entretanto, as reformulações para atualizar os heróis criou versões que precisaram ser alojados em diferentes realidades ou linhas temporais. E, mais recentemente, como o Multiverso passou a ser um tema bastante interessante para os leitores, a Casa das Ideias começou a criar mais estofo para seus universos paralelos, que eram bem rasos antes das Guerras Secretas de 2015.
Segredos e crises
Para completar, a Marvel e a DC costumam usar uma palavra-chave para nomear seus grandes eventos. A primeira tem um apego por “segredos”, como Guerras Secretas, Invasão Secreta, Vingadores Secretos e por aí vai. Já a segunda adora “crises”, a exemplo de Crise nas Infinitas Terras, Crise Final, Crise de Identidade e etc.
O escritor Geoff Johns até brincou com isso na maxissérie que pode ser considerada a “sucessora espiritual” de Watchmen, O Relógio do Juízo Final, projetando um grande crossover entre a Marvel e DC chamada de “Crise Secreta”.