Conheça o FreeSync, tecnologia da AMD para combater o tearing
Por Pedro Cipoli |
O mercado de jogos não só deixou de ser visto como secundário há um bom tempo, mas também passou a ser o responsável pela introdução de novas tecnologias importantes para melhorar a qualidade geral de certos segmentos de produtos. Um deles é o de monitores, que passou a adotar novos recursos para acompanhar a necessidade de melhorias constantes de imersão na hora de jogar, além de resolver problemas de longa data para os gamers com o uso de novas técnicas, como é o caso do FreeSync da AMD.
Tearing
O Tearing é um dos “defeitos” que mais incomoda na hora de jogar, acontecendo independentemente do jogo, engine e configuração. É basicamente um “rasgo” na imagem, causado pela exibição de dois ou mais quadros de uma vez só. Mas por que ele acontece? Resumidamente, grande parte dos monitores atuais trabalha com uma taxa de atualização fixa, como 60 Hz, 120 Hz ou 144 Hz (onde “Hz” é uma unidade de medida igual a 1/segundo. Ou seja, 60 Hz é o mesmo que 60 frames por segundo), mas a sua placa de vídeo não.
Basta usar um programa como o FRAPS para ver que a taxa de quadros por segundo varia - e muito - durante um jogo, em especial os títulos de primeira pessoa. Quanto mais movimentada a cena, maior a dificuldade da placa de vídeo em renderizar todos os detalhes, o que diminui o FPS, que volta a aumentar em cenas mais “calmas”. Contudo, os monitores continuam confortáveis com a sua taxa de atualização fixa, e é aí que surge o problema.
Quando a placa de vídeo gerar mais do que 60 frames por segundo, o monitor vai se esforçar para exibi-los, tentando mostrar os frames extras mesmo não tendo capacidade para isso. É aí que acontece o tearing. Esse “corte” é, na verdade, dois frames diferentes sendo mostrados simultaneamente. É como se três carros tentassem entrar em um túnel com somente duas pistas ao mesmo tempo.
Explicado o problema, vamos entender como o FreeSync se propõe a resolvê-lo.
FreeSync
Essa solução da AMD é tão simples que dá aquela impressão “mas por que ninguém pensou nisso antes?”. Basicamente, tanto a placa de vídeo quanto o monitor entram em um acordo de benefício mútuo: o monitor irá exibir somente os frames gerados pela GPU. Na prática é isso, assumindo que o monitor tenha a capacidade de ajustar a sua exibição de frames por segundo conforme demanda, passando a trabalhar com taxas variáveis em vez de travar uma frequência fixa.
Quando ativo, o FreeSync, como um padrão, suporta variações de frame rate entre 9 FPS e 240 FPS. Dizemos “como padrão” pois a implementação no monitor é geralmente menor, já que os modelos criados especificamente para jogos dificilmente passam dos 144 Hz (ou 144 frames por segundo). Mesmo porque já é uma taxa alta o suficiente para uma boa experiência, valendo ativar filtros e efeitos ao invés de tentar maximizar o frame rate, em especial com resoluções maiores (1440p e 4K, por exemplo).
Naturalmente, o FreeSync exige que tanto o monitor quanto a placa de vídeo sejam compatíveis com a tecnologia. Da parte do monitor, a implementação pelos fabricantes é até bastante simples, já que é um padrão aberto (daí o “Free”) que funciona sobre um padrão de vídeo já existente, o DisplayPort 1.2a, que traz a tecnologia ActiveSync. E sim, funciona somente com o padrão DisplayPort, sendo incompatível com as conexões VGA (ou D-SUB, que é analógica), DVI e HDMI.
Já da parte da GPU, a exigência é que seja uma placa de vídeo da AMD (óbvio) mais recente com um certo nível de desempenho (Radeon R7 260 em diante). As APUs não ficaram de fora, partindo do A6-7400K da geração Kaveri. Vale lembrar que o FreeSync não é ativado automaticamente, sendo necessário abrir o Catalyst Software Center e habilitá-lo, assim como o monitor, que deve ser configurado para tal (não é pré-ativado de fábrica).
Não é perfeito
Tanto o FreeSync quando o G-SYNC (tecnologia concorrente da Nvidia que vamos abordar em breve) resolvem alguns problemas e acabam criando outros. Por exemplo, o FreeSync elimina (em teoria), o tearing, o lad e o stuttering, mas acaba causando o ghosting, que é um frame atrás da imagem atual, como se fosse uma sombra. É como uma “lembrança” da imagem anterior, e mesmo que seja menos grave do que o tearing, é trocar um problema por outro.
Poucos acabam realmente percebendo o ghosting, já que é realmente algo muito rápido e pouco perceptível, mas ele acontece de fato e acaba irritando alguns usuários. Não sem razão, já que ele investiu em uma tecnologia para ter uma experiência lisa, mas acaba tendo que lidar com um problema secundário.
Outro problema é que o FreeSync prevê um range considerável de frequências (9 Hz até 240 Hz) para melhorar a fluidez do jogo, mas não é o que acontece na prática, em especial em frequências menores. Há uma boa quantidade de usuários relatando problemas excessivos de ghosting quando o frame rate está em 45 ou abaixo. Mais do que isso, alguns modelos com FreeSync trazem um range de frequências bem menor do que deveriam, minimizando os benefícios da tecnologia.
Pode ser tanto uma limitação da tecnologia em si quanto das implementações de fabricantes, mas acontece. É possível que sejam casos isolados que podem ser resolvidos com uma atualização do driver de vídeo da AMD para se ajustar melhor a essas variações, ou mesmo que os fabricantes resolvam isso com mudanças no ActiveSync. O problema é que, no segundo caso, o usuário terá que comprar um novo modelo para resolver um problema que não deveria existir em primeiro lugar.
Conclusão
É sempre bom ver fabricantes testando novas tecnologias, em especial por não focar em um desempenho superior, e sim em melhorar a experiência dos gamers. É uma mudança de mensagem e de proposta, oferecendo benefícios reais para os usuários ao invés de prometer frame rates maiores que pouco mudarão a vida do usuário. Placas de vídeo mais avançadas conseguem oferecer níveis de desempenho muito bons, de forma que novas tecnologias devem aparecer para manter o interesse em novos investimentos.
Em especial, a guerra entre AMD e NVIDIA é uma das mais competitivas do mercado, com ambas se esforçando furiosamente em oferecer a melhor experiência possível para o público de alto desempenho. Um efeito colateral dessa competição é, infelizmente, o anúncio de novas tecnologias com “bugs” ainda não inteiramente trabalhados, já que o G-SYNC, concorrente da NVIDIA ao FreeSync, também resolve problemas enquanto cria outros, como veremos em breve. De qualquer forma, trata-se da primeira geração, com um potencial ainda não inteiramente explorado, então é interessante ver o desenvolvimento dessas soluções nos próximos anos.
Fontes: AMD, DigitalTrends 1 e 2, PC Gamer, Tom's Hardware