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Pornô além do pornô: como o mercado erótico usa tech com TANTA criatividade

Por| 26 de Novembro de 2019 às 20h15

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Sob o risco de afirmar algo óbvio, o Canaltech diz: o pornô domina a internet. Segundo o site alemão de pesquisa de mercado Statista, 4% de todos os sites da internet são destinados ao público adulto. O mesmo gráfico aponta que 13% das pesquisas na internet feitas por um computador pessoal, são de cunho pornográfico — o mesmo parâmetro aumenta para 20% no caso de pesquisas pelo smartphone. Detalhe: esses números são de pesquisas abertas, advindas de mecanismos populares, como o Google Search. Não é considerado aqui o volume de buscas feito, por exemplo, em mecanismos próprios de sites e plataformas — estes são internos, e o número é absurdamente maior.

Mas existe uma outra faceta do mercado de filmes adultos que poucos reconhecem: o fator de inovação em tecnologia. Em meio a fetiches e vídeos de produções e ensaios, dos mais profissionais aos mais amadores, o mercado pornô é um dos principais pontos de inovação na tecnologia do entretenimento. Duvida? Puxe da memória: quando o 3D era a novidade do mercado, quanto tempo levou para que vídeos com esse recurso saltassem aos monitores? Quando este perdeu seu brilho e deu lugar à realidade virtual, rapidinho vimos vídeos com “VR” no título, ou feitos especificamente para os principais headsets do mercado.

Não precisamos nem ir ao espectro mais recente: a indústria pornô foi uma das primeiras a adotar o CD-ROM e o DVD quando o VHS caiu em desuso. Posteriormente, a distribuição digital tomou o centro dos holofotes até que, surpresa! O streaming é o rei de hoje nos portais adultos.

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“A indústria de entretenimento adulto, historicamente, sempre foi uma de early adopters de novas tecnologias”, diz Corey Price, vice-presidente do Pornhub, um dos maiores canais de distribuição de filmes pornô da atualidade, ao Canaltech. “Eu acho que a indústria online continuará sendo um lugar onde novas tecnologias vêm para se estabelecer. Somos incubadores da inovação tecnológica porque nossa indústria é feita de pessoas que não têm medo de se arriscarem”.

O Pornhub é um caso à parte, e um que deu muito certo: em 2018, o site angariou 33,5 bilhões de visitas à sua página principal, um crescimento de 5 bilhões em relação a 2017. Com mais de 100 milhões de visitas diárias segundo as estatísticas divulgadas pela própria plataforma, a audiência do Pornhub é tanta que, comparativamente, poderia contemplar as populações da Austrália, Canadá e Polônia.

Grande parte disso, segundo Price, é o fato de que a plataforma está sempre implementando novas funções para aprimorar a experiência do visitante, até mesmo quando este se encontra fora da página principal. Isso também inclui o uso das redes sociais, o que mostra um ponto interessante: certas empresas estão dispostas a “dar a cara a tapa”, quando, no passado, havia toda uma neblina que buscava preservar as suas figuras mais importantes: “sejam atrizes e atores de filmes adultos, celebridas, atletas etc., as pessoas são capazes de se conectar com suas bases de fãs diretamente e promover seus conteúdos por meio de canais sociais. No nosso caso, por exemplo, usamos o Twitter e o Instagram para exibir mais da nossa personalidade de marca: no Twitter, nos atemos aos memes, retóricas e piadas, que possuem uma ressonância maior com a nossa audiência. No Instagram, a coisa é totalmente visual, então promovemos alguns de nossos modelos, além de postar diversas imagens de dados e iniciativas de marketing que produzimos”.

E a tecnologia empregada não para por aí, já que Corey Price enuncia alguns mecanismos internos que, ainda que não sejam tecnologicamente visuais, não deixam de tornar a experiência mais interessante: “hoje se fala muito em inteligência artificial, mas nós já trabalhamos com a IA há pelo menos dois anos, quando anunciamos um mecanismo de detecção facial que marca estrelas pornô em vídeos onde elas não estejam propriamente ‘tagueadas’ — isso, em complemento à ação do próprio usuário, que pode ele próprio marcá-la, aprimorando a influência daquele ou daquela profissional”.

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Um caso válido disso é o da ex-atriz Stormy Daniels: o ano de 2018 viu o presidente norte-americano Donald Trump ter seu nome envolvido em um suposto caso extra-conjugal com a estrela de filmes adultos e, consequentemente, cada vez que ela aparecia no noticiário, seu nome ganhava picos de busca dentro do Pornhub. Isso, aliado a um enorme interesse no jogo Fortnite, compõem duas das 20 buscas mais feitas no site naquele ano. A plataforma se mostra, com isso, ter tecnologias implementadas que ajudam a identificar o interesse público, ajustando-se de acordo.

Indo na mesma opinião, o VP do portal xHamster, Alex Hawkins, também enxerga na experimentação o sucesso da tecnologia no pornô: “Mais do que capacidade para se arriscar, a indústria de filmes adultos possui uma audiência que não é só massiva em números, mas também dedicada e recorrente. O solo é muito fértil para que nós possamos implementar novos recursos sem muitas restrições, comparado a outras indústrias”, relata o executivo ao CT.

Para Hawkins, o futuro deve ser ainda mais incrementado: “hoje, temos o advento do 3D, VR, AR, realidades mistas...tudo isso gera uma imersão sem igual para o usuário, que é ‘posicionado dentro da cena’. Estamos vendo também muita experimentação com a chamada tecnologia háptica, que mistura as experiências corporais do usuário com as de uma atriz por meio de brinquedos sexuais mais evoluídos, que permitem, por exemplo, a sincronização de estímulos e controle via smartphones”.

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Essa capacidade de se transformar em curtos espaços de tempo, apontam os executivos, é o que dá uma vantagem maior à indústria de filmes adultos: “quando o mercado mudou para a distribuição digital e largou as revistas explícitas, isso ajudou a tornar a pornografia, como um todo, mais responsiva e interativa, o que obviamente foi um dos maiores ajustes do gênero no que tange à demanda do usuário”, argumenta Hawkins, que continua: “Acho que o que vamos ver agora é que as grandes empresas do setor vão ramificar ainda mais o que elas fazem, além de apenas oferecer uma plataforma de conteúdo para maiores. Hoje, temos câmeras ao vivo, redes sociais, data centers para pesquisa de dados, construímos sex dolls, produzimos conteúdo próprio e até brincamos com audio erotica e produção sensorial para atingir usuários de forma diferenciada. Hoje, em muitas formas de se olhar, o próprio site é a revista das antigas”.

Hawkins ainda levanta o ponto de troca do computador pessoal para o mercado mobile: “Não é que como se o ‘futuro’ fosse pelo celular: o presente já é mobile. Usuários e produtores usam tablets e smartphones para fazer praticamente tudo. Em nosso ramo, quase não há mais necessidade de uso de um laptop. No xHamster, por exemplo, nós já conseguimos aprimorar arquivos de vídeo, otimizando seus tamanhos para dispositivos móveis, mas sem sacrificar a qualidade. Com o 5G, o potencial para transmissão e recepção ficará bem maior para, por exemplo, exibições ao vivo pela câmera. O streaming e a webcam eliminam a distância entre profissionais e usuários, mudando a experiência sexual para algo muito interativo e imediato para consumidores. A presença direta de profissionais tornou o pornô de webcam um ambiente verdadeiramente colaborativo, ajustanto-se aos desejos e fantasias dos usuários, algo que era inédito até pouco tempo atrás”.

No caso do xHamster, a questão da inteligência artificial atinge um novo patamar. Isso porque, ao contrário do Pornhub, a plataforma liderada por Hawkins não é apenas um portal de vídeos, mas também uma rede social. “Nós já usamos a IA para identificação de atrizes e atores, além de determinarmos se algum vídeo viola nossos termos com alguma ilegalidade — pornografia infantil, por exemplo. Nós sabemos também, pelos nossos dados, que usuários de países específicos tendem a preferir conteúdo de seu próprio país — brasileiros gostam do pronô produzido no Brasil, franceses gostam de franceses e fantasiam tanto quanto os árabes… Nós somos um dos sites líderes de audiência e tráfego, mas mesmo assim temos que nos ajustar a preferências locais”, argumenta. “Além disso, nós somos uma rede de relacionamentos, então a localização via inteligência artificial significa que permitimos a usuários conseguirem encontros e, por que não, achar a sua cara metade. Seções de encontros são movidas a machine learning, sugerindo pessoas selecionadas com base em uma série de ajustes escolhidos pelo usuário. Tem um casal que se encontrou por meio do xHamster e acabou trocando alianças”.

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No caso de ambos os executivos, a percepção é a de a realdade virtual, juntamente da tecnologia háptica, deve ditar o ritmo da indústria pornô em 2020. Enquanto Chris Pryce, do Pornhub, espera que a capacidade de sincronizar estímulos físicos auxilie a empresa a vender mais produtos (o Pornhub tem uma linha interativa com três sex toys interativos — um mercado que Pryce refere-se como “teledildonics”), Alex Hawkins crê que a imersão aprofundada dos headsets de realidade virtual ajudará a baratear a implementação e consumo dessa tecnologia para os fãs de filmes adultos.

Ambos parecem empolgados para começar a experimentar.

Fonte: Pornhub Insights; Statista