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Por que a Microsoft não conseguiu fechar a compra do TikTok nos Estados Unidos

Por| 15 de Setembro de 2020 às 13h45

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Olivier Bergeron/Unsplash
Olivier Bergeron/Unsplash
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Pressão dos investidores. Esse foi o principal motivo que fez com que Yiming Zhang, CEO da ByteDance, desistisse de vender as operações do TikTok nos Estados Unidos para a Microsoft. Agora, os envolvidos tentarão uma parceria com a Oracle, no formato de um (arriscado) acordo que tente acalmar os governos norte-americano e chinês. As informações são da agência de notícias Reuters, que ouviu fontes envolvidas no assunto.

Principais investidoras da ByteDance nos EUA, os fundos Sequoia e General Atlantic se mostraram preocupados em vender as operações norte-americanas do TikTok por menos do que elas valem. Com isso, elas pressionaram Zhang a optar por vender apenas uma participação da plataforma para a Oracle, em vez de fazer isso em sua totalidade.

No entanto, trata-se de uma estratégia arriscada. Donald Trump já deixou claro que deseja ver uma venda direta -e total - do TikTok para uma empresa de tecnologia dos Estados Unidos - já que ele vem acusando a plataforma de enviar dados dos cidadãos norte-americanos ao governo chinês - algo que a ByteDance nega. Em agosto, sob a justificativa de que o app é um risco à segurança nacional, ele assinou uma ordem executiva a partir do dia 20 de setembro, banindo a rede social do país, caso a venda não seja feita.

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No entanto, a China resolveu, também, mostrar as garras. Nas últimas semanas, ela atualizou as regras de controle de exportação das tecnologias desenvolvidas no país. Com isso, as autoridades chinesas incluíram o algoritmo de recomendação do TikTok - tecnologia essencial da plataforma - em uma lista que exige autorização do governo local para ser transferida a um comprador estrangeiro. E considerando que autoridades de Pequim já disseram que a ByteDance não deve ser coagida pelos Estados Unidos a um acordo, é bastante razoável prever que ela travará essa venda até onde lhe for conveniente. Ou até mesmo impedi-la.

Fontes envolvidas nas negociações informaram a Reuters que os executivos da Microsoft ficaram frustrados ao longo da semana passada, quando a ByteDance deixou de responder à oferta de mais de US$ 20 bilhões da empresa pelas operações da TikTok nos Estados Unidos. A proposta também previra pagamentos extras com base no desempenho da plataforma.

Ainda de acordo com as pessoas ouvidas pela Reuters, a oferta ficou aquém das expectativas dos investidores da ByteDance. Ao discutir sua oferta com o governo Trump e legisladores dos EUA, a Microsoft irritou Zhang, porque se referiu ao TikTok como um risco de segurança que poderia corrigir. A companhia chinesa já havia afirmado que a sua plataforma de vídeos curtos não apresenta esse risco.

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Bastidores pró-Oracle

Em meio às negociações - e atritos - entre Microsoft e ByteDance, a Sequoia e a General Atlantic estavam trabalhando com a Oracle em um acordo alternativo que evitaria uma venda total, de acordo com as fontes. Preocupada com a falta de "animação" por parte dos chineses, a Microsoft perguntou à empresa se ela havia perdido na corrida na compra das operações do TikTok nos Estados Unidos. A criadora do Windows também perguntou se poderia mudar a estrutura do negócio para se unir a Oracle no acordo afirmou uma das fontes.

A ByteDance respondeu que escolheria a Oracle mesmo se a Microsoft oferecesse a mesma estrutura e termos. A Oracle vinha trabalhando em um possível acordo com os investidores da ByteDance por várias semanas e deixou eles e Zhang mais confortáveis ​​com sua parceria. Com isso, no último domingo (14), a Microsoft anunciou ao mercado que a ByteDance rejeitou sua oferta para a compra do TikTok nos Estados Unidos.

Acordo alternativo

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Para além da escolha da Oracle, a ByteDance vem trabalhando arduamente nos últimos dias em uma proposta de acordo que permitiria à empresa chinesa manter uma participação minoritária na TikTok enquanto tratava das questões de segurança dos EUA, disseram as fontes ouvidas pela Reuters. Em discussões com outros executivos da ByteDance, Zhang está se referindo a este acordo como uma reestruturação e que o acordo proposto é semelhante a uma joint venture.

A Oracle está em negociações para obter uma participação minoritária considerável nos negócios da TikTok nos Estados Unidos, com o restante pertencendo a alguns grandes investidores da ByteDance, incluindo, claro, a General Atlantic e Sequoia. A Oracle também assumiria o gerenciamento dos dados do usuário da TikTok em território norte-americano e seria responsável por sua segurança, ainda de acordo com as fontes. No entanto, não está claro como um acordo nesse formato poderia influenciar os negócios da TikTok nos EUA, que tem quase até 100 milhões de usuários.

A proposta entre ByteDance e Oracke pede ainda que o Comitê de Investimento Estrangeiro dos Estados Unidos (CFIUS) - painel governamental que supervisiona as negociações envolvendo empresas estrangeiras no país - aprove os diretores da TikTok nos EUA, bem como as relações com os principais fornecedores. Os acordos seriam semelhantes aos que colocados em prática pela CFIUS quando a Lenovo adquiriu a divisão de computadores doméstios da IBM em 2005; ou quando a japonesa SoftBank adquiriu a operadora wireless Sprint em 2013.

Ainda citando suas fontes, a Reuters afirma que a ByteDance também planeja argumentar que a CFIUS aprovara há dois anos a compra da seguradora americana Genworth Financial pela China Oceanwide Holdings Group. Com isso, haveria um precedente para sua proposta com a Oracle. No acordo em questão, a China Oceanwide concordou em usar um serviço terceirizado com base nos EUA para gerenciar os dados de segurados da Genworth nos EUA. A ByteDance argumentará que um acordo semelhante com a Oracle pode proteger os dados de usuários da TikTok em território norte-americano.

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Sensibilizando Trump

Nestas negociações, a ByteDance também fez outras concessões para sensibilizar Trump. De acordo com as fontes ouvidas pela Reuters, a empres se propôs a criar 25 mil empregos nos EUA a partir da TikTok. Atualmente, a filial no país tem pouco mais de mil funcionários atualmente. Além disso, a ByteDance espera que a arrecadação de fundos de Larry Ellison, fundador da Oracle, para a campanha de reeleição de Trump, bem como o apoio de Safra Catz, CEO da Oracle, à equipe de transição de Trump há quatro anos, também aumentem suas chances.

No entanto, até o momento, a Casa Branca tem se mostrado evasiva em suas discussões com a ByteDance, e não está claro se o acordo proposto irá adiante. Na segunda-feira (14), Steven Mnuchin, secretário do Tesouro, disse que a CFIUS revisaria o acordo esta semana e faria uma recomendação a Trump.

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Melhor fechar?

Os caminhos que a ByteDance vem percorrendo para viabilizar a continuidade do TikTok nos EUA visam não apenas acalmar Donald Trump, mas também o governo chinês. Na semana passada, as autoridades de Pequim teriam afirmado que preferem encerrar a plataforma em território norte-americano do que ser coagida a vendê-la. Isso porque elas acreditam que uma venda forçada faria com que ByteDance e a China parecessem fracos diante da pressão de Trump.

Com isso, o governo chinês está disposto a usar as revisões feitas em sua lista de exportações de tecnologia para atrasar qualquer acordo fechado pela ByteDance se for necessário. No entanto, o modelo proposto com a Oracle, não tornaria necessário que a ByteDance solicitasse às autoridades do seu país uma licença de exportação para o algoritmo da TikTok, disseram as fontes.

Além disso, os compradores em potencial da TikTok estavam discutindo com a ByteDance quatro maneiras de estruturar a aquisição do app. Em um deles, a controladora da rede social poderia avançar com a venda com os ativos da plataforma nos EUA sem a aprovação do ministério do comércio da China, mas incluir sem algoritmos-chave, como os de recomendação.

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Feito nesse formato, a operação de venda não precisaria passar pelo governo chinês, já que apenas os algoritmos em questão fazem parte da lista de tecnologias que precisam da aprovação das autoridades da China.,

Os reguladores chineses disseram na semana passada que as regras de exportação de tecnologias não eram direcionadas a empresas específicas, mas reafirmaram seu direito de aplicá-las. Já a ByteDance disse em um comunicado à Reuters que o governo chinês nunca sugeriu que fechasse a TikTok nos Estados Unidos ou em qualquer outro mercado.

A ByteDance e a Microsoft não responderam imediatamente aos pedidos de comentários feitos pela Reuters, bem como a Oracle, a General Atlantic e a Sequoia.

Fonte: Reuters