Publicidade

Wood Wide Web | O que se sabe sobre a "internet das árvores"?

Por  • Editado por  Patricia Gnipper  |  • 

Compartilhe:
Imagem: André-Ph. D. Picard/Wikimedia Commons
Imagem: André-Ph. D. Picard/Wikimedia Commons

O silêncio de uma floresta esconde toda a comunicação feita pelas árvores através de uma complexa rede subterrânea, visível na superfície apenas na forma dos cogumelos. A conexão formada através das raízes e dos fungos a elas associados permite que a plantas compartilhem água, alimento e até mesmo informações — como alertas de pragas — em um sistema que ficou conhecido como “wood wide web,” ou “a internet das árvores.”

Há quase três décadas, a fantástica ideia de que as árvores se comunicam por uma rede fúngica é tema de debates e estudos. Enquanto diversas funções dos fungos no solo foram descobertas nesse período, algumas afirmações a respeito da internet das árvores carecem de provas.

Uma rede desconexa

Canaltech
O Canaltech está no WhatsApp!Entre no canal e acompanhe notícias e dicas de tecnologia
Continua após a publicidade

É fato que as plantas, em sua imensa maioria, possuem fungos em suas raízes — essa associação é conhecida como micorrizas. Alguns deles aparecem na superfície como cogumelos, mas esta é apenas uma fração da imensa rede formada por suas estruturas chamadas hifas.

A relação entre os fungos e as plantas se dá na forma de uma troca — os primeiros fornecem nutrientes do solo a elas, que retribuem com os açúcares produzidos na fotossíntese.

Em 1997, estudos demonstraram que as micorrizas são capazes de transportar carbono através da rede que elas formam. A descoberta trouxe a ideia de que as árvores em uma floresta estão se comunicando e cooperando, dividindo recursos e informações. Quase trinta anos depois, novos estudos levantam algumas dúvidas sobre essas presunções.

As evidências de que as plantas compartilham alimento através das redes micorrizais são inconclusivas. Tanto em laboratório quanto em campo, estudos mostram que há, realmente, um transporte de carbono através da rede, porém ele fica predominantemente limitado às micorrizas. Enquanto isso é importante para os fungos, o fato levanta a questão da sua relevância para as árvores.

Falhas na comunicação

Historicamente, porém, estudos que encontraram resultados positivos sobre o transporte de carbono entre as plantas tiveram maior repercussão tanto na comunidade científica quanto para o público geral. Já pesquisas com resultados neutros ou negativos não possuem grande alcance — o que espalha concepções errôneas sobre o assunto.

Continua após a publicidade

A própria linguagem utilizada por comunicadores científicos acaba por ampliar desinformações no tema. Na tentativa de “humanizar” o processo realizado pelas plantas, dizer que elas “conversam”, “compartilham” e “trocam” pode facilitar a compreensão do público, mas distorce o que realmente ocorre no subsolo das florestas.

A utilidade do conceito

Embora seja preciso esclarecer a concepção pública sobre a internet das árvores, o conceito ainda é útil e há evidências de alguma forma de comunicação entre as plantas. Fungos já foram observados servindo como condutores de sinais defensivos, por exemplo, em espécies de feijão, ajudando outros pés a se prepararem para o ataque de pulgões que já atingiram parte da plantação. Como exatamente estes sinais são transmitidos, porém, ainda é um mistério.

Continua após a publicidade

Além disso, espécies de pinheiro monitoradas em laboratório já demonstraram transporte de água e carbono entre si, mas as condições podem não refletir as encontradas em qualquer ambiente natural. Em campo, experimentos com corantes já evidenciaram um processo semelhante, mas outros fatores — contato direto das raízes, outros micróbios e a própria difusão da água — são tão plausíveis quanto o transporte pela rede micorrizal.

O que fica disso tudo é que o conceito de internet das árvores já foi superestimado, mas ele ainda pode servir para cientistas destacarem processos invisíveis que os fungos realizam sob nossos pés. A conscientização de uma audiência mais ampla a respeito deles pode ajudar nos investimentos em pesquisa e em políticas que visem a conservação dos recursos relacionados ao solo — o meio que sustenta toda a vida terrestre.

Fonte: The Conversation