Único reator nuclear natural do planeta tem 2 bilhões de anos
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |

Reatores nucleares são peças controversas da geração de energia do planeta, olhados com suspeita desde acidentes como o de Chernobyl ou o de Fukushima, por exemplo. Mas se eu te dissesse que a natureza foi quem criou os primeiros reatores nucleares do mundo, o que você acharia disso?
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Pois acredite se quiser — quando a Terra ainda era povoada unicamente por micróbios, sem vida complexa zanzando por aí, as primeiras reações nucleares sustentáveis já aconteciam em cadeia. E demorou muito, muito mesmo desde então para que nós, humanos, soubéssemos sobre isso.
A usina nuclear da natureza
Em 1972, um físico da usina de processamento nuclear de Pierrelate, na França, analisava amostras de urânio quando percebeu algo estranho: em depósitos normais de minério de urânio, três isótopos diferentes podem ser encontrados — urânio 238, urânio 234 e urânio 235. O primeiro deles é o mais abundante, enquanto o segundo é o mais raro.
Já o de isótopo 235 compõe cerca de 0,72% de todo depósito do mineral, e é o mais cobiçado, já que, caso seja enriquecido além dos 3%, ele pode ser usado para criar reações nucleares sustentadas, do tipo útil em usinas nucleares.
Mais especificamente nas amostras de Oklo, no Gabão, país africano, foi encontrado urânio 235 em 0,717 do total do minério. Uma diferença que não parece grande, mas é muito importante.
Todo urânio natural contém 0,720% de U-235, segundo a Agência Internacional de Energia Atômica. Todo. Se for tirado da crosta da Terra, das pedras da Lua ou de meteoritos, é a quantidade que vai aparecer. Mas porque, então, as amostras de Oklo tinham só 0,717%? Para complicar, outras amostras coletadas na região tinham menos ainda do isótopo, apenas 0,4%.
A primeira explicação sugerida foi de que os depósitos de urânio teriam sido forçados a sustentar uma reação de fissão, mas, com mais análises, descobriu-se que o urânio havia sofrido uma fissão nuclear natural sustentada, reação ocorrida há mais de 2 bilhões de anos.
Condições para reações como essa na natureza são muito improváveis, e mesmo a maioria do urânio de Oklo tem concentrações maiores do que as das amostras diferenciadas. Para que a reação ocorresse, o local teria que ser preenchido com água doce, assim como o líquido é usado em usinas modernas, para desacelerar os nêutrons gerados pela fissão.
À medida que a água esquentasse e escapasse como vapor, os nêutrons não desacelerados fugiriam sem gerar mais reações, parando a fissão, antes da água esfriar e entrar nos depósitos em quantidade suficiente para reiniciar o processo. É isso que se teoriza ter acontecido, por ao menos milhares de anos.
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Fonte: IFLScience