Leões-marinhos usam câmeras para mapear fundo do mar
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

Explorar os oceanos é uma missão um tanto quanto difícil, já que nem os satélites conseguem capturar as profundezas do fundo do mar. Então, pesquisadores da Universidade de Adelaide (Austrália) transformaram oito leões-marinhos em agentes exploradores, com o uso de câmeras acopladas e rastreadores.
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Através do experimento, a equipe de biólogos conseguiu mapear novas áreas desconhecidas no sul da Austrália e puderam entender melhor os habitats dessas criaturas ameaçadas de extinção, a partir de 89 horas de gravação subaquática (veja trecho abaixo). É o que aponta o estudo publicado na revista Frontiers in Marine Science.
“Usar dados de movimento e vídeos feitos por animais é uma maneira realmente eficaz de mapear diversos habitats bentônicos [do fundo do mar] em grandes áreas do leito marinho”, afirma Nathan Angelakis, pesquisador da universidade e autor do estudo, em nota.
Além disso, modelos de aprendizado de máquina (machine learning) foram usados para prever outras áreas e a extensão da ocupação. Isso ajudará na preservação da espécie Neophoca cinerea. Na região, a população sofreu uma redução de 60% no número de indivíduos nos últimos 40 anos.
Descobrindo novos habitats do mar
Para conhecer o fundo do mar, usar veículos subaquáticos operados remotamente é uma alternativa, mas exige elevados investimentos. Inclusive, há o risco de perda de contato e os milhares investidos em equipamento literalmente afundam, como ocorreu recentemente com um veículo do tipo na Antártida.
Para contornar esse desafio, veio a ideia de usar os próprios animais marinhos como forma de conhecer os ambientes quase nada (ou mesmo nunca) explorados. Assim, foi iniciado o projeto que envolveu oito fêmeas adultas da espécie.
A seguir, veja um dos vídeos gravados:
Em cada animal, os pesquisadores colocaram uma câmera pequena e um rastreador, em um “pacote” de neoprene (material usado em roupas de mergulho). Todo o equipamento pesava menos de 1% do peso corporal, tornando o uso aceitável por um período pré-determinado de tempo (de 2 a 6 dias). Quando o leão-marinho retornava para a superfície, todo o aparato era removido.
Leões-marinhos exploradores
Com as câmeras subaquáticas, foi possível obter registros de 89 horas da atividade exploratória dos leões-marinhos. Com a ajuda de programas e das informações de GPS, foi possível categorizar diferentes habitats visitados. No total, foram catalogadas seis, como uma área apelidada de recife de macroalgas.
Com o uso do aprendizado de máquina, os pesquisadores combinaram os dados sobre habitat com dados ambientais (como concentração de nutrientes, temperatura da água e nível de profundidade). Dessa forma, desenvolveram uma forma de prever outros habitats dos leões-marinhos, mesmo que eles não os tenham visitados durante o experimento.
“Esses dados são úteis tanto para mapear habitats críticos para uma espécie ameaçada, como o leão-marinho, quanto, de forma mais ampla, para mapear áreas inexploradas do leito marinho”, pontua o cientista Angelakis.
Fonte: Frontiers in Marine Science, Frontiers