Crosta terrestre parece “gotejar” para dentro do planeta, diz estudo
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Cientistas descobriram um novo modo de movimentação tectônica, e, no meio da Turquia, encontram um exemplo perfeito do fenômeno — é um “gotejamento” da crosta terrestre para o interior do planeta, um curioso evento onde a viscosidade do terreno é o suficiente para se derramar em direção ao manto.
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O fenômeno ocorre no Platô Central da Anatólia, fazendo parte de uma depressão territorial chamada de Bacia de Konya. Aparentemente, o gotejamento está moldando a geologia da bacia turca, e até mesmo mudando o formato do platô ao seu redor. Tecnicamente, o evento é chamado de “gotejamento litosférico”.
Gotejamento litosférico na Turquia
Para revelar o acontecimento, cientistas da Universidade de Toronto notaram dados de satélite onde era possível ver o aprofundamento da bacia da Anatólia. Com isso, foram buscados dados geofísicos sobre o subterrâneo da região, onde foi vista uma anomalia sísmica no manto superior e uma crosta engrossada, o que indica material de alta densidade — e um possível gotejamento na placa tectônica.
Segundo os geofísicos, o fenômeno ocorre quando a crosta rochosa inferior da Terra é aquecida a temperaturas muito altas, ficando viscosa. É como uma gota de piche, mas muito mais grossa e lenta. Ao descer, a gota litosférica puxa a crosta consigo, criando uma depressão ou bacia, e, quando se destaca para o centro do manto, a superfície volta em um “rebote”, crescendo com um efeito em onda.
O Platô Central da Anatólia está crescendo cerca de um quilômetro a cada 10 milhões de anos graças à liberação de uma gota da crosta. Já a Bacia de Konya está afundando em uma taxa de 20 mm por ano, o que chamou a atenção dos pesquisadores. O estudo indica que a região do platô todo está no processo de gotejamento litosférico, enquanto a bacia forma uma segunda gota, menor, que gera a depressão.
Um experimento de laboratório confirmou a teoria, onde um tanque de vidro foi preenchido com um polímero de silicone viscoso chamado polidimetilsiloxano. Uma mistura do mesmo polímero com argila foi usada para replicar o manto superior, com esferas de cerâmica e areia de sílica representando a crosta.
Uma “semente” densa foi posicionada na camada superior do manto para iniciar um gotejamento, e, 10 horas depois, a primeira gota começou a cair. Quando atingiu o fundo da caixa, cerca de 50 horas depois, uma gota secundária já havia começado a descer.
Nenhuma delas foi responsável por deformações horizontais na superfície, mas, sim, por deformações verticais, consistentes com a Bacia de Konya, confirmando o achado.
Fonte: Nature Communications