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Como as mudanças climáticas têm afetado a produção de vinho

Por  • Editado por  Patricia Gnipper  | 

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Imagem: Manuel Venturini/Unsplash
Imagem: Manuel Venturini/Unsplash

Vinhos são produzidos e apreciados ao redor do mundo inteiro, em diferentes climas, altitudes e condições socioeconômicas. O que não muda é o grande impacto que este setor econômico pode sofrer devido ao agravamento das mudanças climáticas.

Pequenos aumentos de temperatura em certas regiões mais frias, na verdade, até beneficiaram as plantações de uva, mas eles também se mostraram totalmente devastadores em outras áreas. Além disso, eventos extremos, como ondas de calor e incêndios florestais agravados pelo clima em transformação, são especialmente preocupantes.

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Em 2020, os incêndios florestais no estado da Califórnia, Estados Unidos, prejudicaram toda uma safra por conta da fumaça liberada durante o período em que eles aconteceram. O norte do estado, especialmente o Vale de Napa, é uma das regiões vinícolas mais famosas da América do Norte. O local, porém, foi extremamente afetado pelos incêndios que conferiram um sabor de cinzas às uvas.

A química dos vinhos

A qualidade das uvas está ligada a uma química delicada, altamente influenciada pelas condições em que elas cresceram. Regiões vinícolas possuem métodos e conhecimentos tradicionais de quando e como plantar, colher e fermentar as frutas para produzir um vinho de qualidade consistente. As mudanças climáticas, porém, estão inserindo cada vez mais incertezas no processo, causando preocupações aos produtores.

Ainda que eventos extremos possam inutilizar totalmente uma videira, as variações climáticas podem causar consequências imperceptíveis à primeira vista. Somente na colheita algumas mudanças serão percebidas. Elas podem acontecer em três aspectos das frutas: seu açúcar, sua acidez e seus componentes secundários.

O açúcar se acumula à medida que a planta faz fotossíntese, ao mesmo tempo em que os ácidos diminuem com o amadurecimento da fruta. Os outros componentes, como é o caso das antocianinas — que protegem as uvas da radiação UV e conferem seu pigmento avermelhado — e das taninas — composto que afasta pestes e, no paladar, gera uma sensação de secura — também se acumulam com o passar do tempo.

O equilíbrio destes componentes depende do solo, da quantidade de chuva e da temperatura de uma região. Karen MacNeil, especialista em vinhos, diz que essa é a essência da bebida: “ela está conectada à sua origem.”

Mais doce e mais forte

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Temperaturas mais quentes fazem com que frutas amadureçam mais rapidamente. Isso resulta em uvas mais doces, já que uma parte maior dos seus ácidos é convertida em açúcar. Esse açúcar, por sua vez, estará disponível em maior quantidade na etapa de fermentação — resultando em mais álcool no fim do processo. Essa tendência já vem sendo observada, por exemplo no sul da França, na região de Bordeaux.

O álcool em alta porcentagem, além de conferir seu sabor característico, mascara os sabores e aromas mais sutis que os diferentes vinhos podem ter. Isso coloca os produtores em um dilema: colher as uvas mais cedo, para que elas não amadureçam tanto, ou deixá-las nos pés a tempo de acumular as taninas e antocianinas?

Especialistas na bebida e sommeliers certificados estão notando uma tendência de homogeneização dos sabores. A imprevisibilidade do clima e o aumento na temperatura média global têm deixado algumas variedades muito parecidas. MacNiel conta que mestres no assunto dizem que “se fizessem a prova de paladar hoje, eles não nunca passariam.”

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O futuro do vinho

Mesmo se os efeitos não forem tão drásticos quanto a perda de uma safra para uma onda de calor ou ainda o gosto de queimado adquirido por conta de incêndios, mudanças sutis já são graves para uma indústria que se pauta na tradição. Na França, estudos já foram realizados para introduzir novas variedades de uvas como forma de adaptação. Para as autoridades que regulam a produção vinícola de Bordeaux, estas novas variantes podem chegar a até 10% da composição do produto final.

De qualquer forma, para produtores que mantiveram suas mesmas uvas por mais de 2.000 anos, a medida é assustadora. Para eles, a adoção de novas técnicas, que não envolvam a mistura de tipos de uva, seria mais confortável e efetiva. Diversas delas estão sendo testadas: dentre as possibilidades estão a forma com que se faz a poda e a rega dos pés, o uso de telas para filtrar o sol e até a seleção e reprodução de plantas mais resistentes ao novo clima.

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A questão que fica é se o consumidor final vai continuar gostando — e comprando — o vinho pós-mudanças climáticas. Estudos mostram que o consumo e as avaliações das bebidas vêm, na verdade, aumentando mesmo nas regiões que já passam pelas alterações de temperatura. O que preocupa os especialistas é que, eventualmente, estas mudanças possam estar além do controle que hoje ainda é possível.

Fonte: Knowable Magazine Via: Big Think