Cientista questiona "polêmica" sobre Brasil ficar inabitável em 50 anos
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela | •
Voltou a ganhar repercussão um estudo da NASA de 2020 que analisa o aumento da temperatura do bulbo úmido, medida que considera a temperatura do ar e a umidade relativa no planeta, e as correlaciona com as regiões que podem ser mais afetadas tornando-se inabitáveis em função do calor. As análises indicam que a vida poderá se tornar altamente difícil em alguns locais. Segundo artigo publicado no blog da NASA (baseado na pesquisa), o problema pode chegar em algumas partes do Brasil até 2070. Entretanto, a previsão exata de que o país vai se tornar inabitável em 50 anos não é apontada no estudo original.
CORREÇÃO: ao publicar esta reportagem, o Canaltech errou ao informar no título que os cientistas questionam o estudo da NASA. Na verdade, os especialistas apontam para a distorção envolvendo a pesquisa original e o Brasil se tornar inabitável em 50 anos. A informação foi corrigida dia 30 de julho, às 14h30.
Para entender toda a história, o estudo da NASA publicado na revista Science Advances projeta como será a temperatura do bulbo úmido, com base em dados históricos e dados de satélite. No registro histórico (entre 1979 e 2017), algumas regiões do Brasil já chegaram a marcar, em horas e dias específicos, uma temperatura do bulbo úmido superior a 35 °C, o que é considerado perigoso para o organismo humano.
A tendência é que esses episódios se tornem ainda mais comuns ao longo dos próximos anos, se nada for feito, dificultando a vida em regiões específicas, consideradas como inabitáveis. O ponto é que, no estudo inicial, os cientistas da NASA focam especificamente no Golfo Pérsico e na Ásia, não mencionando nominalmente o Brasil (apenas no mapa).
"A costa sul do Golfo Pérsico e o norte do sul da Ásia abrigam milhões de pessoas, situando-as na linha de frente da exposição aos extremos da TW [temperatura do bulbo úmido], no limite e fora do intervalo de variabilidade natural em que nossa fisiologia [humana] evoluiu", pontua o artigo.
Especialistas se posicionam sobre estudo da NASA
“Os estudos antigos mostravam que a gente só ia atingir esses níveis daqui a 100 anos, daqui a 200 anos. E o que ele [o estudo de 2020] mostra é que essa probabilidade, essa janela de perigo, de ter áreas muito quentes e úmidas, está mais próxima do que a gente imaginava”, afirma Fernando Cesario, líder científico em Soluções Climáticas Naturais da The Nature Conservancy (TNC), para TV Brasil.
Apesar de considerar o estudo embasado cientificamente, Cesario questiona a forma como as conclusões foram divulgadas.
“Achei as notícias muito alarmantes. Essas ocorrências que ele [o estudo] mediu são localizadas, não pega o Brasil inteiro, pega algumas faixas dentro do território e duram menos de duas horas, porque o clima é muito dinâmico. Isso não invalida a emergência climática que estamos vivendo”, pontua o especialista.
“[O estudo] mapeou eventos pontuais e de menos de duas horas", reforça Cesario.
"Mas se a gente continuar jogando CO2 para atmosfera e o planeta [continuar] aquecendo, é muito provável que aumente a frequência desses eventos e seu tempo de duração. Isso traz risco para a saúde humana”, pontua.
Neste cenário, é possível que algumas zonas se tornem pouco favoráveis para a habitação, mas pode ser precipitado dizer inabitável. Afinal, há tempo de rever o cenário, controlando a emissão de carbono.
Fonte: Science Advances, NASA, Agência Brasil