Atmosfera da Terra lembra pintura de Van Gogh — e isso é um problema
Por Rodilei Morais • Editado por Patricia Gnipper |
As correntes de jato da Terra, correntes de ar em camadas altas da atmosfera que fazem um movimento circular nos pólos e nos trópicos, estão lembrando as ondas e espirais da pintura "A Noite Estrelada" do pintor holandês Vincent Van Gogh. Apesar da beleza da obra de arte, isso não é bom para o planeta, pois o fenômeno evidencia o caos climático que enfrentamos.
Os jatos polares e os subtropicais são correntes formadas pela combinação da rotação do planeta e da forma desigual que o Sol aquece o globo. Elas circulam os pólos e os trópicos na direção de oeste para leste, em decorrência do sentido que o planeta gira. Estas correntes estão a cerca de 10 quilômetros de altitude e atingem velocidades de mais de 400 km/h.
Estas correntes possuem grande influência no clima das regiões por onde elas passam, já que elas são determinantes para o movimento de massas de ar quentes e frias, além da umidade na atmosfera. Porém, recentemente, o movimento das correntes de jato está cada vez mais caótico. É normal que massas de ar tenham seu movimento alterado, se dividam ou até mudem de direção, mas o nível de fragmentação observado atualmente nos jatos é algo inédito para os especialistas.
Esse movimento atípico pode fazer com que ondas de calor fiquem presas em certas regiões da Terra — como está acontecendo neste momento nos Estados Unidos. Meteorologistas afirmam que este tipo de configuração está provavelmente ligado às mudanças climáticas e pode ter ainda influência do fenômeno El Niño, que está ativo desde o início deste mês.
Estudos científicos corroboram estas hipóteses, mostrando que o aquecimento do Ártico vem enfraquecendo os jatos polares ao norte do globo. Mas não é só lá que o problema está acontecendo — no hemisfério sul a circulação dos jatos também está anormal. Isso é algo incomum para os especialistas, que dizem que, geralmente, os jatos de apenas um hemisfério ficam fora de sintonia por vez.
Mais de 40 milhões de pessoas estão em áreas sob estado de alerta pela onda de calor que atinge os Estados Unidos graças ao movimento atípico dos jatos polares. O fenômeno também já atinge o México, onde causou a morte em massa de pássaros. Especialistas preveem que o calor pode permanecer até meados de julho.
Fonte: Science Alert