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Aquífero subterrâneo com água salgada de milhares de anos é achado na Antártida

Por| Editado por Rafael Rigues | 05 de Maio de 2022 às 18h10

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Envato/ShaneFreer
Envato/ShaneFreer

Segundo novo estudo liderado pela Columbia University, um enorme aquífero descoberto abaixo de uma corrente de gelo de fluxo rápido na Antártida Ocidental pode conter água do mar de milhares de anos atrás. A existência de água subterrânea no continente já era algo conhecido, mas é a primeira vez que cientistas coletam observações diretas dessa formação.

A descoberta oferece novos dados para a compreensão de como as geleiras da Antártida estão se comportando com as mudanças climáticas, bem como se essa água subterrânea afeta o derretimento do gelo acima e sobre quais tipos de vida microbiana vivem nesses ambientes.

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A geofísica Chloe D. Gustafson, principal autora da descoberta, explicou que o sistema de água subterrânea encontrado pode ser entendido como uma esponja gigante. Segundo ela, o aquífero tem de 0,5 a 2 km de espessura — ou seja, é bastante profundo.

O aquífero está localizado abaixo da corrente de gelo que abastece o lago subglacial Whillans, o qual se encontra a cerca de 800 metros abaixo da camada de gelo. O aquífero recém-descoberto tem mais de 10 vezes o volume de água encontrado nos outros sistemas conhecidos.

Há muito tempo, cientistas falam sobre a possibilidade de enormes aquíferos escondidos, mas as tecnologias disponíveis não permitiam coletar boas evidências de sistemas hidrológicos profundos. Por isso Gustafson e sua equipe se concentraram em lagos e rios rasos próximos à geleira.

Ressonância magnética do gelo

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Para entender o que acontecia nas profundezas, os pesquisadores usaram um método magnetotelúrico, que utiliza os campos eletromagnéticos formados pela interação dos ventos solares com a ionosfera — a camada atmosférica superior da atmosfera terrestre, repleta de moléculas e partículas eletricamente carregadas. Quando os ventos solares atingem essas partículas, elas são agitadas.

Essas partículas geram campos eletromagnéticos em movimento capazes de penetrar na superfície. Depois, esses campos induzem campos secundários no gelo, neve e até sedimentos. É a partir destes campos secundários que os aparelhos magnetotelúricos fazem a leitura.

Os pesquisadores enterraram esses aparelhos em 68 pontos distintos da corrente de gelo. “É como fazer uma ressonância magnética da Terra”, acrescentou Gustafson. Trabalhos anteriores já haviam utilizado o método magnetotelúrico na Antártida, mas apenas para examinar a crosta e o manto superior logo abaixo.

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Além disso, eles mediram o fluxo da corrente de gelo Whillans, um cinturão de gelo com até 0,8 km de espessura que se move a uma média de 1,8 metros por dia — em direção à plataforma de gelo Ross.

Os pesquisadores se concentram em uma profundidade que vai desde a base do fluxo de gelo até 5 km abaixo. Nessa região, eles descobriram nas profundezas uma camada espessa de sedimentos com água do mar um tanto salgada, enquanto na parte superior há água doce.

Implicações da descoberta

A diferença entre a água doce e salgada no aquífero sugere que os sistemas subglaciais rasos se ligam a ele e que ambos podem influenciar o fluxo de gelo logo acima. Mas, por enquanto, não está claro eles trocam de água periodicamente ou se apenas um deles recebe a água que escorre do fluxo de gelo.

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Pode ser que o aquífero esteja lubrificando a corrente de gelo, ao injetar água de tempos em tempos no sistema subglacial, ou, em vez disso, remova a água desses sistemas. Os dois cenários afetariam diretamente o fluxo de gelo acima. Além disso, essa diferença pode influenciar a vida microbiana que vive ali.

O fluxo de água do aquífero e dos rios e lagos interligados fornece nutrientes para esse microorganismos. Outro ponto é que a água salgada no fundo do aquífero, e a doce na parte mais rasa, também influenciam quais tipos de micróbios conseguiriam viver em cada ambiente.

Quanto à natureza da água salgada, os pesquisadores acreditam que a água do oceano fluiu para o sistema de águas subterrâneas entre 5 mil a 7 mil anos atrás, em um período quente do Holoceno quando a camada de gelo da Antártida recuou. Conforme o gelo voltou a se formar, a água ficou presa no aquífero.

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Agora os pesquisadores coletaram evidências em outros sistemas como este e vão comparar os dados para ver se há algum padrão ou diferença. Isso também ajudará a aprimorar os modelos que estudam o derretimento das geleiras, que não levam em consideração essa dinâmica hidrológica.

O trabalho foi apresentado na revista Science.

Fonte: Science, Via Live Science