Telemarketing abusivo: operadoras dizem que reclamações diminuíram
Por Claudio Yuge | 26 de Julho de 2022 às 18h19
Na semana passada, o governo apertou o cerco contra as táticas abusivas aplicadas por empresas de telemarketing, a partir de uma medida cautelar do Ministério da Justiça que suspendeu 180 companhias. De lá para cá, consumidores ainda seguem recebendo ligações diariamente e vários grupos vêm respondendo às notificações, entre eles a Conexis, entidade que reúne as quatro maiores operadoras de telecomunicações do Brasil. Ela defende a autorregulação no setor.
- 180 empresas de telemarketing são suspensas por publicidade abusiva
- Empresas de telemarketing continuam driblando regras da Anatel
A Conexis apresentou junto à Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor, do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senacon) um gráfico de levantamento feito pelo app Truecaller, que identifica mensagens abusivas enviadas para celulares, em que mostra a queda de ligações de telemarketing realizadas por operadoras de telecom ao longo dos últimos três anos. Segundo a pesquisa, em 2019 a fatia era de 48%, caindo para 6% em 2020 e deixando de integrar o ranking no ano passado.
Em defesa das operadoras, a Conexis afirma que houve queda de quase 25% do número total de reclamações de usuários de serviços de telecomunicações registradas na Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em 2021; diminuição de 32% das queixas sobre planos de serviços, oferta, bônus, promoções e mensagens publicitárias, no ano passado; e que há dois anos, o setor deixou de ser o segmento mais visado na plataforma consumidor.gov.br.
Já especificamente sobre o telemarketing, a Conexis exige que a Senacon reconheça as ações realizadas para diminuir os abusos, como a autorregulação do setor e própria fiscalização da Anatel. A entidade lembra que as próprias empresas tiveram a iniciativa de criar o Sistema de Autorregulação das Telecomunicações (SART) e o site Não Me Perturbe.
Vale destacar que, entre as 180 empresas citadas na medida cautelar, estão 26 dos maiores bancos e operadoras do país no processo administrativo que pode levar a multa de até R$ 13 milhões.
Senacon considera ações da Anatel ineficazes
A Senacon confeccionou um relatório com nota técnica sobre o impacto das ações da Anatel, como o bloqueio de ligações abusivas, a criação do prefixo 0303 para identificar esses tipos de chamadas e o encerramento da gratuidade de três segundos. O documento foi obtido pelo Tele.Síntese.
Segundo o texto, “não se verifica efetividade” na diretriz que impõe o prefixo 0303 para ofertas de telemarketing. A respeito das ligações realizadas por robôs, as “robocalls”, a nota afirma que, mesmo após o monitoramento e bloqueio dos números, “o problema persiste” — não houve menção sobre o encerramento da gratuidade de três segundos.
Na segunda-feira, a Senacon publicou no Diário Oficial da União, nesta segunda-feira (25), a abertura de processo administrativo contra as seguintes 26 empresas:
- AeC Centro de Contatos
- Algar Telecom
- Atento Brasil
- Banco BMG
- Banco Bradesco
- Banco C6 Consignado
- Banco Cetelem
- Banco Daycoval
- Banco do Brasil
- Banco Itaú
- Banco Mercantil do Brasil
- Banco Pan
- Banco Safra
- Banco Santander
- BV Financeira
- Caixa Econômica Federal
- Claro
- Concentrix Brasil
- Crefisa
- Konecta Brazil Outsourcing
- Liq Corp
- Neobpo Serviços de Processos de Negócios e Tecnologia
- Sky Brasil Serviços
- Telefônica Brasil
- Teleperformance CRM
- TIM
O texto no documento consta várias infrações, entre elas:
- Abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores;
- Publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços e
- Envio ou entrega ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço; prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços.
O Canaltech entrou em contato com a Anatel em busca de um posicionamento a respeito da nota técnica da Senacon e vai atualizar a matéria assim que receber uma resposta.
Fonte: Tele.Síntese