Publicidade

Menos de 3% dos sites brasileiros são acessíveis para pessoas com deficiência

Por  | 

Compartilhe:
Storyset/Freepik
Storyset/Freepik

A internet é uma imensidão com um número incontável de sites. Contudo, não são todos que conseguem aproveitar a melhor experiência ao navegar pela web: uma pesquisa conduzida pela BigDataCorp e pelo Movimento Web para Todos mostra que cerca de 3% dos sites brasileiros são, de fato, acessíveis para pessoas com deficiência.

A análise da quinta edição da pesquisa foi obtida a partir de uma avaliação com 26,3 milhões de sites ativos no Brasil. Durante o estudo, os pesquisadores extraíram dados de visitas a todas as páginas brasileiras e desconsideraram as instâncias inativas e protegidas por senha.

“É importante destacar que foram aplicados apenas os testes válidos para cada tipo de site de acordo com o conteúdo nele publicado. A ferramenta coletou os sites e verificou em todas as páginas públicas se existia, por exemplo, formulários e imagens, e se estão de acordo com os critérios selecionados para a verificação”, ressaltam os responsáveis pelo estudo.

Canaltech
O Canaltech está no WhatsApp!Entre no canal e acompanhe notícias e dicas de tecnologia
Continua após a publicidade

Além disso, a pesquisa separou os testes em cinco quesitos: formulário, estrutura e organização de links, descrição e estrutura de imagens, frames (iFrames) e teste do W3C.

Apenas 2,9% dos sites são acessíveis

O relatório mostra que houve uma piora na acessibilidade dos sites brasileiros. Em 2024, apenas 2,9% dos sites apresentavam todos os quesitos para serem considerados acessíveis para pessoas com deficiência, com base em teste criado pelo consórcio W3C (autoridade em padronização da web).

Dentre o resultado, se destaca a marca de que nove em cada dez sites do governo continuam com falhas em acessibilidade, ainda que esse indicador tenha declinado desde 2022.

Ainda assim, as plataformas governamentais não estão sozinhas. Confira os tipos de sites que menos apresentaram falhas em 2024:

  • Educacional: 3,9%;
  • Corporativo: 3,7%;
  • Notícias: 3,4%;
  • E-commerce: 3%;
  • Blog: 2,7%.

Sites falham em testes

Já ao observar as categorias, houve uma melhoria de um a dois pontos percentuais na comparação entre 2023 e 2024. Contudo, a maioria dos sites teve problemas nos testes aplicados:

Continua após a publicidade
  • Verificação do código HTML com a ferramenta do W3C: 97,6% apresentaram problemas;
  • Análise da estrutura e organização de links: 84%;
  • Disponibilidade de descrição e estrutura de imagens: 57,2%;
  • Verificação da acessibilidade de campos de formulário e botões: 49,6%;
  • Frames (estrutura da página): 15,3%.

Quando questionado sobre a diferença no resultado entre os testes mais segmentados e a análise do W3C, o CEO da BigDataCorp, Thoran Rodrigues, explicou ao Canaltech que essa disparidade se dá pelas particularidades da análise:

“O teste completo do W3C envolve parte dos critérios que os outros testes abarcam, e uma série de quesitos adicionais de acessibilidade”, explica. “É um teste mais complexo e mais completo, que faz com que uma parcela muito maior dos sites falhe nele.”

Continua após a publicidade

Dificuldade para acessar páginas na web

O engenheiro de software Leonardo Gleison, que é uma pessoa com deficiência visual, relatou à reportagem as dificuldades para acessar páginas da web que não incluem descrição nas imagens, além de outros recursos.

“Uma das coisas mais irritantes quando uma pessoa cega precisa utilizar a internet é quando ela precisa usar um serviço público ou privado e ele não está acessível”, observa. “Imagina só, você precisa acessar um serviço do governo ou fazer uma compra, né? De algum produto pra sua casa e você não consegue por falta de acessibilidade. É bem ruim.”

Continua após a publicidade

A pedagoga e professora Camila Domingues, que também é cega, destaca o processo para se inscrever em cursos online de educação inclusiva. 

“Na maioria das vezes, os formulários de inscrição não são acessíveis e tem desafios, como o captcha”, disse. “E mesmo quando eu peço ajuda para alguém que enxerga para fazer a minha inscrição, eu acabo chegando na plataforma e encontrando o ambiente virtual e materiais didáticos que também não são acessíveis.”

Já a especialista em diversidade e inclusão Nathalia Blagevitch tem mobilidade reduzida em função de paralisia cerebral. Ao Canaltech, ela destaca duas situações que causam bastante incômodo no mundo digital.

“A primeira é quando você tem que fazer uma selfie com o seu documento, eu tenho uma mão só, eu fico dependente de outras pessoas. Aliás, minha segunda mão está aqui, mas não tem movimento”, conta. “E a segunda é quando você tem que validar alguma coisa e tem que circular a cabeça ou olhar para frente, para trás, e trazer o celular mais perto.”

Continua após a publicidade

Longo caminho pela frente

Os resultados mostram que existe uma longa jornada para tornar a internet brasileira completamente acessível e inclusiva. Diante desse cenário, a idealizadora do Movimento Web para Todos, Simone Freire, destaca três pontos para alcançar esse objetivo: a conscientização, a capacitação e o acompanhamento e reciclagem.

No primeiro quesito, trata-se da conscientização de que a acessibilidade é um direito previsto pela Lei Brasileira de Inclusão e de que é trata-se de um público gigantesco desatendido (oportunidade real e latente de ampliação de mercado).

Continua após a publicidade

Freire ainda destaca que esses ajustes ajudam a melhorar a performance e a usabilidade dos serviços e reforça que esse movimento é uma obrigação moral, principalmente para marcas que estão compromissadas com as melhores práticas de Diversidade e Inclusão (ESG).

A capacitação é voltada para a contratação de organizações para preparar times de comunicação, marketing, design, desenvolvimento e mais para criar sites e demais produtos digitais acessíveis e inclusivos para todas as pessoas.

Por fim, a idealizadora do movimento ressalta a importância do acompanhamento e da reciclagem. “É preciso criar e manter a cultura internamente para que essa jornada de transformação esteja  no DNA digital da empresa. Isso só vai acontecer se o ciclo envolver ações constantes de monitoramento e atividades de reciclagem de conhecimento”, explica.

Já o CEO da BigDataCorp observa que seria ideal um movimento por parte das plataformas “direcionadoras” do tráfego na web para priorizar sites mais acessíveis. Para isso, Rodrigues lembra do movimento ocorrido com os certificados SSL, em que os buscadores passaram a destacar sites com a proteção e as empresas adotaram o padrão na sequência.

Continua após a publicidade

“Em menos de um ano, o percentual dos sites com essa proteção saltou de menos de 20% para mais de 80%, e hoje gira em torno de 95%. Se o mesmo movimento fosse realizado com relação a acessibilidade, o problema seria resolvido rapidamente”, conclui.

Colaborou: André Magalhães