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Programador cria chatbot com IA para "clonar" a própria namorada

Por  • Editado por Douglas Ciriaco | 

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Reprodução/Freepik
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Num episódio quase distópico da vida real, um desenvolvedor criou um app para "clonar" a própria namorada usando inteligência artificial. Batizado como GirlfriendGPT, o programa de Enias Cailliau pode "recriar" qualquer sujeito usando a personalidade da pessoa ao se inspirar em posts do Instagram e vídeos do YouTube.

O chatbot assume a personalidade da namorada de Cailliau, Sacha (neste caso, viva e ciente do experimento), e interage com o programador pelo Telegram via mensagens de texto e áudios. O programa de Cailliau é quase uma cópia do desconfortável episódio "Volto já", da série de ficção científica distópica Black Mirror.

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"Fiquei obcecado com os modelos de linguagem avançada (LLM) da OpenAI e o que ele pode fazer. Continuei pensando na capacidade de criar agentes humanos que se comportam e agem como humanos, mas achei difícil avaliá-los", pontuou o desenvolvedor.

"Então, vi como uma tonelada de projetos de namoradas de IA surgiram com alguns recursos interessantes. Isso me fez querer construir uma versão de código aberto para que todos pudessem construir a sua própria [namorada virtual]", complementou.

A criação bizarra é resultado da combinação de várias ferramentas com inteligência artificial: o desenvolvedor usou o Bard, do Google, para identificar aspectos da personalidade de Sacha com base nas redes sociais e vídeos do YouTube da moça; criou a voz artificial a partir do app da ElevenLabs; e fez o visual dela com o Stable Diffusion, permitindo que a IA enviasse fotos durante o papo.

Experimento consentido

Usar a própria namorada como primeiro teste foi um facilitador para Cailliau, familiarizado com a personalidade da companheira. Segundo ele, Sacha curtiu a ideia e permitiu que ele fizesse a "clonagem" usando IA.

"Ele me perguntou quando eu estava saindo para a piscina com Lizzy (nossa filha) e eu disse a ele 'Sim! Vamos fazer isso!'. Enias tem falado sobre companheiros de IA há semanas, então achei legal que ele quisesse tentar me clonar em vez de alguma influenciadora aleatória da internet", disse Sacha ao site Motherboard.

A publicação, aliás, experimentou o chatbot baseado na Sacha e teve interações amigáveis com a IA. Segundo a reportagem, ela se apresenta como mãe e namorada apaixonada por vida saudável, corridas em parques, sessões de yoga, dança e mais. A reprodução da voz, porém, não seria perfeita, e as demonstrações compartilhadas por Cailliau no Twitter ainda são bem artificiais.

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App cria IA como companhias pessoais

"Estou interessado no desafio técnico de criar uma IA que pareça pessoal, com a qual eu realmente queira falar da maneira como eu falo com amigos na vida real", pontuou o programador. "Minha namorada está sempre me dando conselhos então parecia um projeto divertido para nós dois", complementou.

Cailliau vê um enorme potencial na própria criação, e acha que sugere que ela também pode ser bem mais do que um clone de influenciadores e companheiros. "Todo mundo precisa de um amigo com uma memória perfeita ou alguém com quem testar ideias", pontuou.

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A ideia de usar uma inteligência artificial como companhia pessoal está longe de ser nova, na verdade. O chatbot Replika é uma das iniciativas com essa finalidade e, este ano, recebeu queixas de usuários após banir conteúdo erótico das interações da IA.

E a ética?

O programador conseguiu gerar uma cópia virtual da própria namorada usando conteúdo disponível publicamente. Por conhecer a moça, ele pediu permissão para cloná-la e pôde comparar o comportamento real com o da inteligência artificial, porém, o programa torna o processo fácil demais para copiar qualquer pessoa.

Assim, qualquer um dos 500 usuários do GitHub que favoritaram o repositório do projeto poderão recriar qualquer pessoa que quiserem como companhias pessoais, inclusive figuras públicas (influenciadores, políticos, artistas) ou colegas — não é difícil perceber a bizarrisse de tudo isso. Basta fornecer fotos, vídeos, publicações nas redes, amostras de voz e mensagens pessoais para ter uma cópia do sujeito.

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Entretanto, o programador parece não se importar com essas consequências, e diz "ver um futuro em que todo mundo tem uma companhia de IA pessoal em todos os seus dispositivos". "Será para uma ampla gama de coisas: negócios, diversão, jogos — e, sim, casais. A computação está prestes a ficar muito antropomórfica. Ainda não chegamos lá, mas está acontecendo ao nosso redor", explicou Cailliau.

Fonte: Vice