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ChatGPT é o mundo um passo mais perto de Black Mirror

Por| 19 de Fevereiro de 2023 às 08h00

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Reprodução/Netflix
Reprodução/Netflix

O ChatGPT tomou a internet de assalto no começo de 2023 e não é para menos: uma inteligência artificial acessível e que oferece respostas como se você conversasse com outro ser humano. Há limitações, claro, mas a experiência geral com a plataforma é fluida e natural, o que parece inclusive algo capaz de ameaçar o domínio do Google no mercado de buscas na internet.

Com a tecnologia se espalhando rapidamente, era só questão de tempo até alguém pensar em algo quase óbvio: e se o chatbot que é capaz de aprender com conteúdo externo fosse treinado para se portar como uma pessoa de verdade? Não uma pessoa qualquer, mas alguém específico, algum parente ou amigo seu, que já morreu.

É exatamente essa a premissa de um programa chamado Live Forever (Viva para Sempre, em tradução livre), em desenvolvimento pela Somnium Space. O CEO da empresa, Artur Sychov é um entusiasta da ideia de usar a inteligência artificial da OpenAI para que você possa trocar ideia com alguém que já faleceu, mas no ambiente virtual — num metaverso, para ser mais específico?

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Black Mirror é você?

Se você já viu a série Black Mirror, talvez tenha se lembrado do episódio “Volto já” (“Be Right Back”, no original), que abre a segunda temporada do programa da Netflix. Na ficção, uma mulher em luto resolve aderir a uma tecnologia de inteligência artificial que simula o namorado morto após varrer toda a internet em busca de postagens públicas do rapaz em redes sociais.

Munido desse conteúdo, o software cria um chatbot que se porta como o jovem falecido, o que fascina a garota e a faz querer mais. Os passos seguintes da tecnologia incluem conversas por voz e até mesmo um boneco impresso em 3D que reproduz fielmente a aparência física do namorado morto, numa espécie de extrapolação sinistra do lucrar com o luto alheio.

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Griefbot: uma (péssima) ideia não tão nova

A proposta do Live Forever mistura IA e metaverso para idealizar a recriação virtual de um parente seu morto e isso a aproxima bastante do cenário apresentado em Black Mirror. Essa ideia, porém, está longe de ser novidade e já circula pela web em diferentes iniciativas nos últimos anos.

A mais famosa delas provavelmente é a Replika, uma iniciativa da programadora Eugenia Kuyda, da companhia Luka. A plataforma surgiu com a proposta de replicar o usuário ao aprender sobre sua vida enquanto os dois conversam e então oferecer esse “clone” virtual a amigos e parentes quando a pessoa morrer.

Com uma proposta semelhante, o HereAfterAI combina chatbot e assistente virtual par criar esse clone e depois permitir que as pessoas sigam convivendo “com você” após o fim de sua vida na Terra. O You, Only Virtual é mais uma iniciativa semelhante, com o mesmo propósito.

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Até mesmo a Microsoft de alguma forma planeja entrar nesse jogo. Em 2021, a companhia de Redmond — que não por acaso é uma das investidoras da OpenAI, a dona do ChatGPT — patenteou um chatbot que literalmente quer permitir que você “converse com mortos” usando réplicas virtuais.

“A pessoa específica que o chatbot representa pode corresponder a alguém que já se foi ou que ainda está presente, como um amigo, um parente, um conhecido, uma celebridade, um personagem fictício, uma figura histórica etc.”, explica a empresa no documento.

Descanse em paz?

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O luto é uma questão complexa e sociedades como a nossa nem sempre lidam bem com ele. Contudo, a ideia de recriar a sua avó no metaverso e ter conversas com ela abastecida de ChatGPT não parece ser a melhor forma de lidar com a perda.

Para além da questão ética a respeito da memória de pessoas falecidas, há uma questão psicológica até meio óbvia de que isso talvez apenas alimente mais tristeza e depressão em torno do ocorrido. Resta até mesmo a dúvida sobre o que seria mais assustador: uma IA que promete replicar seu parente morto e não consegue, gerando frustração, ou uma que faz isso com perfeição?

Em Black Mirror, a mulher enlutada termina se irritando com o clone robótico de seu namorado porque — surpresa — ele não é suficientemente humano. Por mais que não seja imaginável ver algo assim na vida real, essa possibilidade pinta um cenário sombrio que parece mesmo ter saído de uma distopia ultratecnológica.

No fim das contas, o alerta a ser feito para os ChatGPT da vida é basicamente o mesmo sobre internet, redes sociais, WhatsApp e tantas outras tecnologias: uma boa dose de bom senso não faz mal a ninguém — resta saber o quanto estamos dispostos a confiar nisso (mais uma vez).