Intel detalha CPUs Core Ultra Serie 3 e debate o futuro dos AI PCs no Brasil
Por Jones Oliveira |

A Intel reuniu a imprensa nesta quarta-feira (12), em São Paulo, para apresentar detalhes estratégicos e técnicos da sua próxima geração de processadores para notebooks, a família Core Ultra Serie 3, de codinome Panther Lake. O encontro serviu para reforçar o compromisso da companhia com a era dos AI PCs e detalhar como a nova arquitetura pretende equilibrar desempenho bruto e eficiência energética.
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Na ocasião, a companhia não apenas antecipou o que podemos esperar do hardware que chegará ao mercado no primeiro trimestre de 2026, mas também trouxe dados inéditos sobre o comportamento do mercado brasileiro. O foco foi demonstrar a alta escalabilidade dos novos processadores, que prometem unir a eficiência energética elogiada nos Lunar Lake com o desempenho multitarefa característico dos Arrow Lake, tudo isso fabricado sob a nova litografia Intel 18A.
Além das especificações técnicas, o evento foi palco de um debate franco sobre os desafios para a massificação dos AI PCs no país. Embora o Brasil lidere a adoção corporativa na região, executivos da Intel reconheceram barreiras importantes, como o preço para o consumidor final e a necessidade de desmistificar a segurança de dados para as empresas que ainda resistem à migração.
Panther Lake: O melhor de dois mundos
A grande promessa do Core Ultra Serie 3 é resolver um dilema antigo dos usuários de notebooks: a escolha entre bateria e desempenho bruto. Segundo Yuri Daglian, Engenheiro de Aplicações de Vendas da Intel Brasil, o objetivo é que o usuário tenha "um notebook com 20 horas de duração de bateria ou mais, mas, ao mesmo tempo, com grande quantidade de núcleos".
Para atingir esse feito, a arquitetura Panther Lake traz mudanças significativas em relação aos seus antecessores:
- Performance híbrida: Os processadores contarão com até 16 núcleos, combinando núcleos de performance (P-cores), núcleos de eficiência (E-cores) e núcleos de baixíssimo consumo energético (LP E-cores)
- Gráficos desagregados: A GPU integrada agora possui um tile próprio e escalável, permitindo que a Intel ajuste o tamanho e a potência gráfica conforme a necessidade do segmento (básico ou entusiasta) sem precisar reprojetar todo o chip
- Conectividade integrada: O Wi-Fi 7 e o Bluetooth 6 estarão integrados diretamente no processador, garantindo que qualquer máquina com essas CPUs tenha acesso aos padrões mais recentes de conexão sem fio
Um ponto que chama a atenção é o retorno da flexibilidade nas memórias. Diferente da geração Lunar Lake, que trazia a memória soldada no pacote do processador para maximizar a eficiência, o Panther Lake permite configurações tradicionais. "A gente reintroduziu os núcleos de eficiência tradicionais... e a gente tem a flexibilidade de upgrade novamente", explicou Daglian em entrevista exclusiva ao Canaltech.
Os dados apresentados indicam que a nova arquitetura deve entregar mais de 50% de ganho em desempenho multithread comparado ao Lunar Lake, mantendo um consumo energético similar.
Revolução da litografia Intel 18A e a geopolítica
Talvez a mudança mais estratégica do Panther Lake não esteja no desempenho, mas na sua origem. Estes serão os primeiros processadores de consumo fabricados no processo Intel 18A, realizado nas próprias fábricas da Intel no Arizona, Estados Unidos.
Isso representa uma mudança crucial no modelo de negócios da empresa, reduzindo a dependência de fundições externas como a TSMC. "A Intel deixa de utilizar principalmente as fábricas externas em Taiwan e volta a utilizar fábricas próprias para fazer esses processadores em massa", detalhou Daglian.
Essa estratégia envolve duas tecnologias proprietárias que, sozinhas, prometem saltos de eficiência de até 6%:
- RibbonFET: Uma nova estrutura de transistores com "fitas nanométricas" que permite melhor controle da corrente elétrica
- PowerVia: Um sistema de entrega de energia pela parte traseira do chip, separando os sinais de dados dos sinais de energia, o que reduz interferências e melhora a performance por watt
Além dos ganhos técnicos, essa movimentação tem um forte componente geopolítico e econômico, permitindo à Intel maior flexibilidade de custos e volume de produção ao trazer a fabricação "para dentro de casa".
Brasil na liderança da adoção corporativa
O evento também serviu para apresentar um panorama da Inteligência Artificial no mercado local. Uma pesquisa encomendada pela Intel revelou que 56% das empresas brasileiras já iniciaram a atualização para PCs com IA, um índice superior ao do México (46%) e acima da média das Américas (53%).
Carlos Buarque, Diretor de Marketing da Intel para a América Latina, destacou que essa mudança vai além do hardware:
"A chegada dos PCs com IA representa muito mais do que um upgrade tecnológico. Trata-se de uma mudança na forma como empresas integram inteligência à rotina de trabalho".
No entanto, a adoção não é uniforme. Tiago Velasque, Especialista em Soluções Técnicas da Intel, pontuou que governos e grandes empresas devem liderar essa transição inicial, impulsionados por demandas específicas de produtividade e segurança. Para o consumidor final, o preço ainda é uma barreira reconhecida pela companhia, embora a expectativa seja de que a nova estratégia de fabricação e a concorrência ajudem a democratizar os valores ao longo do tempo.
Outro desafio identificado é a segurança. O estudo apontou que 62% dos não adotantes no Brasil temem a exposição de dados na nuvem. A resposta da Intel para isso é justamente o processamento local via NPU, que permite rodar IA de forma privada e offline, sem enviar dados sensíveis para servidores externos.
Próximos passos
A Intel confirmou que os detalhes finais, preços e a linha completa de SKUs dos Intel Core Ultra Serie 3 serão revelados durante a CES 2026, entre os dias 6 e 9 de janeiro.
A expectativa é que os primeiros notebooks equipados com a nova tecnologia desembarquem no varejo brasileiro até o fim do primeiro trimestre de 2026 - ou seja, até março do ano que vem.
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*Jones Oliveira viajou para São Paulo a convite da Intel