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Twitch: streamers recorrem a lives com tela preta para bater meta

Por| Editado por Bruna Penilhas | 03 de Dezembro de 2021 às 19h21

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Montagem/Jp Valery/Unsplash
Montagem/Jp Valery/Unsplash

Desde que a Twitch reduziu os valores e repasses das inscrições (subs) em julho, streamers têm feito de tudo para driblar a queda na renda mensal; conforme o Canaltech apurou em novembro, alguns relatam que estão recebendo quase três vezes menos. Uma das soluções encontradas para bater a meta de horas — e ser apto para resgatar um auxílio em dinheiro — foi fazer lives com a tela preta ou dormindo.

O brasileiro Rafael “Rello” Cezar, 20 anos, é um dos streamers da Twitch que recorreram à opção. Parceiro da plataforma (categoria acima de afiliado, com maior audiência), ele costuma jogar League of Legends para mais de 100 mil seguidores, com média de 200 a 300 espectadores simultâneos. Contudo, as últimas transmissões do seu canal se resumiram a um fundo preto com os dizeres “batendo horas”.

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“Todas as vezes que faço live com tela preta ou rerun [ação de exibir algum conteúdo reprisado], estou estudando ou trabalhando”, explica. Rello passou a estudar marketing digital e está repensando seu futuro na Twitch. “A expectativa de crescer foi reduzida a zero. Tenho a sensação de que estou perdendo tempo em relação ao meu futuro”.

A Twitch tem uma ferramenta própria de rerun, mas, segundo relatos, essas transmissões não contabilizam horas para a meta. Por isso, alguns produtores de conteúdo têm feito reruns próprias, como uma maneira de driblar a restrição da plataforma.

Inclusive, streamers utilizam uma categoria chamada I'm Only Sleeping (estou apenas dormindo, em tradução livre) para rotular essas transmissões. Porém, ela não foi criada para as pessoas dormirem; trata-se de um jogo de PC, lançado em 2005, com esse título.

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Lives com tela preta causaram polêmica nas redes sociais

As transmissões para bater meta geraram discussão no Twitter após uma publicação feita por YoDa, streamer com mais de 2 milhões de seguidores na Twitch.

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Outro streamer que se posicionou foi Guilherme Damiani, que tem cerca de 120 mil seguidores na Twitch. Ele afirma não ter nada contra reprises, mas acredita que “tela preta e imagem estática é sacanagem”.

Outros grandes influenciadores, no entanto, se posicionaram a favor das streams com tela preta como última alternativa. Um deles foi Casimiro Miguel, que acumula mais de 1 milhão de seguidores na plataforma. “Se está na realidade dele, deixa ele fazer. Às vezes, o cara está cansado. [...] Essa parada de bater na tecla do ‘se reinventar’, ‘se redescobrir’, parece papo de coach”, disse.

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O Canaltech entrou em contato com os três streamers mencionados acima para conversar melhor sobre o assunto, mas não obteve resposta.

Sobre as críticas, Rello comenta que “não é tão fácil assim” reinventar seu conteúdo a todo momento em detrimento às regras impostas pela plataforma. Ele menciona, especificamente, pessoas que não consideram transmissões ao vivo como "trabalho" pelo fato de ser um ofício ligado ao videogame e ao entretenimento. “Queria que elas tentassem abrir uma live e passar dos cinco espectadores, para elas verem o quão difícil é”, diz. “Falar é fácil, porque a responsabilidade não é sua”.

Entenda o auxílio e o pagamento da Twitch

A prática tem se tornado comum entre vários streamers, pequenos e grandes, como uma tentativa desesperada de bater a meta de horas imposta pela plataforma para conseguir resgatar um auxílio em dinheiro. O programa foi criado para amenizar os impactos da transição.

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Funciona da seguinte forma: a Twitch realizou a média da quantidade de horas ao vivo e dos ganhos dos três meses anteriores à mudança. Quem fizer pelo menos 85% da média estipulada de horas, garante o auxílio. No primeiro trimestre, que acabou em novembro, o valor pago foi 100% da média arrecadada previamente pelo canal; agora, será 75% no segundo, depois 50% no terceiro e 25% no quarto — confira mais detalhes aqui.

O auxílio veio em boa hora porque os streamers recebem apenas se batem a renda acumulada mínima de US$ 100, que contabiliza subs, bits, propagandas e quaisquer outras doações dentro da Twitch. Isso significa que se o streamer arrecadar US$ 90, ele não recebe nada no mês. Como o repasse diminuiu, ficou ainda mais difícil bater a meta — agora, são pagos US$ 0,40 em média por cada inscrição.

Outro detalhe é que, desses US$ 100, pelo menos US$ 30 são confiscados para pagamento de imposto aos Estados Unidos. Ou seja, embora os valores tenham sido localizados para o mercado brasileiro, o pagamento total não foi.

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Questionado sobre seus próximos passos, Rello ainda está estudando as possibilidades. Ele afirma que continuará fazendo lives na Twitch até o fim do auxílio, previsto para agosto de 2022. Após esse período, tudo estará em jogo. “Preciso seguir minha vida, ganhar dinheiro. Não posso ficar a mercê da boa vontade da plataforma”, diz.

Ele finaliza: “seria meu sonho passar a vida inteira fazendo lives, mas parece que o sonho acabou. Foi um sonho até agora".

O que a Twitch diz

Na época em que a mudança ocorreu, o vice-presidente de monetização da Twitch, Mike Minton, afirmou ao site GE que os novos preços não iriam diminuir o lucro dos streamers, pelo contrário: “Os criadores vão ganhar mais dinheiro rapidamente”. Ele também disse que a Twitch estaria disposta a voltar atrás caso a mudança desse errado.

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Agora, porém, a conversa é outra — na verdade, não há conversa. Entramos em contato com a Twitch, que respondeu que “não vai se pronunciar sobre o assunto”. O Canaltech também pediu uma entrevista com um representante em novembro, mas não há previsão para isso acontecer.

Nas Diretrizes da comunidade, não há menções ou regras para lives com tela preta, dormindo ou com reprises — desde que o conteúdo não seja propriedade de outra pessoa ou empresa.

Em nosso primeiro contato, a plataforma respondeu às perguntas feitas pela reportagem com o seguinte comunicado:

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"A Twitch é altamente comprometida com criadores apaixonados e os mantém em mente em todas as decisões que toma. Antes do lançamento, os testes regionais mostraram que tornar as assinaturas mais acessíveis para mais espectadores aumenta a receita dos criadores. Para ajudar a complementar essas mudanças, foi lançado um programa de 12 meses que garante um certo nível de receita para criadores qualificados. A Twitch continua avaliando os preços de subs localizados após o lançamento e continua compartilhando todas as atualizações de forma proativa com a comunidade."

O Canaltech reforça o interesse em conversar com representantes da Twitch para esclarecer dúvidas a respeito dos fatos aqui relatados.

Com informações: ge, Moby Games, Twitch