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Review Princess Peach: Showtime! | O GOTY lá de casa chegou

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Eu era maluco por Street Fighter quando criança, do tipo que andava com a faixa vermelha na cabeça e mexia os braços para canalizar a energia de Hadouken. Algo bem infantil, mas que foi fundamental para consolidar a minha relação com videogames para a vida toda. Tanto que, décadas depois, eu ainda tenho uma conexão enorme com a franquia de luta, mesmo sendo péssimo nela.

Parece uma trivialidade qualquer, mas é uma experiência muito poderosa que dita minha relação com jogos há mais de 30 anos e que vi novamente acontecer com Princess Peach: Showtime!. Desta vez, porém, nos olhos encantados da minha filha.

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comentei algumas outras vezes sobre ela aqui. Com apenas cinco anos, ela está tendo seus primeiros contatos com jogos, se encantando com títulos como Super Mario Bros. Wonder e Yoshi’s Crafted World. No entanto, o game da Peach foi a primeira vez em que ela quis ir além. 

Quando ela desligou o videogame e me chamou para brincar usando um chapéu, uma máscara e uma capa improvisada com um pano de prato, eu tive certeza que Princess Peach: Showtime! é não apenas o jogo do ano na minha casa, mas possivelmente o título mais importante que já passou por essa porta. 

Criando memórias

Como um menino, sempre foi fácil me ver em qualquer jogo. Eu era o Ryu treinando o Hadouken, o Goku em Dragon Ball GT: Final Bout, Cloud em Final Fantasy 7 e tantos outros heróis ao longo dessas mais de três décadas apertando start. Era um universo criado para pessoas como eu.

Mas e para ela? Na sua curta experiência com jogos, minha filha teve pouco espaço para se ver. No máximo, em coadjuvantes. O game que carrega seu nome, Zelda, praticamente esconde a princesa e ela sempre teve que se contentar com as capturas de tela que eu fazia em Breath of the Wild e Tears of the Kingdom para ver sua xará. Não por acaso, ela amou tanto poder jogar com a Peach em Super Mario Bros. Wonder.

Por isso mesmo, Princess Peach: Showtime! foi tão poderoso para essa menina de apenas cinco anos que está começando a entender o mundo, ainda que de forma muito ingênua. Pela primeira vez, a princesa não era uma donzela esperando ser salva ou uma convidada no show de outra pessoa. Ela é a heroína de seu próprio espetáculo.

Toda a trama é bem simples, mas funciona demais para criar essa fantasia lúdica e infantil. Peach vai ao teatro, mas o lugar é atacado por uma bruxa, que sabota todas as peças do lugar. Assim, cabe à princesa salvar o dia ao assumir o papel de cada um dos artistas desaparecidos.

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Esse é o primeiro ponto que chama a atenção no novo jogo da Nintendo. Showtime é um game completamente novo e não uma adaptação de outro título da linha Mario. Trata-se de uma ideia original concebida em torno da Peach e que usa muito bem a figura da princesa para criar diferentes estilos de jogabilidade.

Muita gente brincou que era uma versão Nintendo da Barbie e suas diferentes profissões. E não estão completamente errados, embora a prática seja muito mais interessante do que isso. Ao assumir esses diferentes papéis, Peach ganha habilidades muito diferentes entre si, o que faz com que cada fase seja única e o jogo esteja em constante transformação.

Não é nada revolucionário ou mesmo impressionante, como em Super Mario Bros Wonder, mas que funciona muito bem aos olhos de uma criança. Um marmanjo vai achar essas fases todas muito fáceis e até se cansar diante da mesma fórmula que todas elas seguem, apesar das mudanças de mecânica. Contudo, ele não é o público-alvo. Princess Peach: Showtime! é feito para encantar crianças como a minha filha, que estão começando a criar memórias e laços com os videogames agora.

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Para ela, ver a Peach se transformar em uma espadachim, uma ninja, uma vaqueira e uma bandida não é o mesmo que trocar a roupinha da Barbie — um brinquedo que ela nem gosta, diga-se de passagem. É ver todo o potencial que cada mudança traz, os novos desafios e aventuras que uma simples troca oferece. É, acima de tudo, enxergar tudo aquilo que ela pode ser. Não por acaso, ela quis assumir a fantasia mesmo depois de desligar o videogame.

É algo tão poderoso e que ressoa tanto na mente de uma menina pequena que adulto algum é capaz de entender. Como alguém que passou por algo próximo a isso quando era pequeno, eu posso apenas imaginar como foi pra minha filha. Pela empolgação que ela demonstrava a cada fase, pelo brilho nos seus olhos ao ganhar um novo poder, parece óbvio que Princess Peach: Showtime! é um game como nenhum outro que ela já jogou.

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Pequenas barreiras

Por isso mesmo, o olhar de uma criança para Princess Peach: Showtime! é tão diferente do de um adulto. Para ela, pouco importa que o jogo sofre com grandes variações na contagem de frames quando o Switch está no dock ou que o tempo de carregamento das fases é excessivamente longo. Ela não se importa nem mesmo que as fases sejam repetitivas em sua primeira metade, seguindo exatamente a mesma estrutura de desafio. 

Para ela, o encanto é maior do que a parte técnica que o gamer adulto admira tanto. Para uma criança, a diversão e a magia estão em primeiro lugar.

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Há alguns pequenos problemas no jogo que quebram essa aura criada tão bem pela jogabilidade. As transformações de Peach são todas muito legais, mas há algumas que funcionam muito melhor do que as outras. 

As fases da Confeiteira, por exemplo, exigem coordenação e precisão que não condizem com o público-alvo que a Nintendo busca atingir, da mesma forma que os desafios da Detetive podem se tornar uma barreira para as crianças menores. Embora seja muito bom ver o game inteiramente em português, boa parte desses jogadores mirins ainda não são alfabetizados e o texto se torna uma barreira que poderia ser facilmente resolvida com uma linguagem mais visual — como acontece com os jogos da série Kirby, por exemplo.

Vale a pena jogar Princess Peach: Showtime!? 

Aquela conexão infantil que eu tive com Street Fighter sempre me foi muito cara. Quando me afastei dos jogos durante a adolescência, foi justamente essa memória que me trouxe de volta anos depois com Street Fighter 4, me tornando quem sou hoje. Assim, ver essa mesma história sendo escrita com a minha filha é algo que torna Princess Peach: Showtime! algo único.

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Trata-se de um game bastante simples, mas muito criativo na hora de usar sua personagem principal. As transformações são ótimas para criar mecânicas que dão um ótimo dinamismo ao jogo, fazendo com que ele nunca seja o mesmo, mas sua verdadeira força está em como as diferentes versões da princesa conversam com o imaginário infantil. Para quem está formando suas primeiras memórias, isso é crucial e ela tem muita sorte de ter isso hoje.

Peço desculpas para quem esperava um review técnico de Princess Peach: Showtime!. No entanto, é impossível eu falar sobre coisas tão pequenas como frames, resolução e texturas quando há coisas tão maiores e mais importantes em jogo. Até porque, no futuro, eu tenho certeza que a minha filha não vai lembrar desse jogo por nada disso, mas pelas vezes em que desligou o videogame para se vestir de “Peach bandida” para brincar.

No fim das contas, o que nos liga aos games não são essas bobagens técnicas, mas as memórias que essas experiências oferecem. São as histórias que construímos a partir delas e, com o game da Peach, a minha filha começou a escrever a dela. Mais do que o jogo do ano, o jogo de sua vida.