Um review de Super Mario Bros. Wonder pela minha filha de 5 anos
Por Durval Ramos |
A essa altura do campeonato, você deve estar cansado de saber que Super Mario Bros. Wonder é mesmo um jogo incrível. Talvez o melhor Mario 2D desde Super Mario World, o clássico do SNES — uma comparação tão poderosa quanto verdadeira.
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Só que essa afirmação diz tanto sobre quem a faz quanto sobre o jogo em si. É um atestado claro sobre a qualidade do novo game da Nintendo, mas também mostra que a pessoa já é um velho jogador, alguém que já tem uma visão enviesada sobre esse retorno do herói bigodudo à sua essência. Por isso mesmo, fiquei me perguntando como as novas gerações receberiam o título sem essa carga nostálgica na bagagem.
Foi quando escolhi minha filha como a jogadora ideal. Tendo apenas o filme, o desenho de 1989 e Mario Kart 8 como referências do personagem, ela poderia dizer melhor do que ninguém o quanto SMB. Wonder funciona para além do saudosismo. E não demorou muito para os olhos brilhando e o sorriso no rosto mostrassem como a mágica da Nintendo ultrapassa gerações — e como, fazendo jus ao título, o jogo é capaz de maravilhar até quem não tem idade para entender o porquê disso.
Fascínio infantil
Zelda tem apenas 5 anos, mas já conta com uma certa experiência com jogos. Em sua escala de avaliação, Yoshi’s Crafted World é “Fofo” e Kirby’s Return to Dreamland Deluxe é “Muito Fofo”. Por curiosidade, perguntei o que ela havia achado de Super Mario Bros. Wonder. “É doido”.
Uma resenha sucinta, é verdade, mas repleta de significado. Mesmo com sua resposta infantil, ela deixou claro que aquele game colorido que se transforma a todo momento à medida que avança pelas fases era algo diferente de tudo o que havia jogado antes. Não era uma nova escala do fofo, mas algo novo que ela ainda não sabia explicar.
Essa característica, inclusive, foi aquilo que realmente chamou sua atenção em um primeiro momento. Do visual mais “fofo” dos personagens e dos cenários às animações mais cartunescas de Mario, Luigi e até dos inimigos, Wonder traz essa aura fantástica do sonho a todo momento e que magnetiza o olhar da criança, seja ela de 5 ou 55 anos.
Só que o fascínio visual não é nada comparado ao impacto diante das Flores Fenomenais. Os novos itens são o grande charme do game, quebrando a lógica e transformando a fase, o personagem, as mecânicas e a própria forma de jogar. A cada novo nível visitado, ela se empolgava ao ver como o jogo virava outra coisa ainda mais divertida. Da chuva de hipopótamos às flores cantoras (suas favoritas), foi nessa loucura que a Nintendo conquistou minha filha.
Foi quando eu entendi a doideira da qual ela falava. Super Mario Bros. Wonder é um jogo que mergulha no mundo da imaginação, tanto a dos seus criadores quanto a de quem o joga. É um game que quebra todas as suas regras e lógicas em prol de um único mandamento: ser divertido. E mesmo que uma criança de 5 anos não faça ideia de todas as tecnicidades que levam a isso, ela entende da forma mais pura e simples possível, que é se divertindo com toda aquela loucura.
Acessível nas pequenas coisas
Outra coisa que me chamou a atenção na relação entre Zelda com Super Mario Bros. Wonder foi como ela se adaptou à dificuldade — ou, melhor dizendo, como o jogo se adaptou a ela.
Desde que bateu o olho na tela inicial, ela decidiu que queria ser a Princesa Peach. Só que foi um tanto frustrante morrer já no encontro com o primeiro Goomba. Foi quando descobriu que, com o Yoshi, ela poderia seguir atropelando os inimigos na sua frente sem se machucar.
Trata-se de um recurso que a gente já tinha visto com o Ledrão em New Super Luigi U, mas que foi estendido para os dinossaurinhos coloridos no novo game. Ao escolher esses personagens, o jogador não sofre dano e pode avançar pelas fases sem grandes dores de cabeça.
É o tipo de recurso que o jogador mais veterano vai ignorar, mas que faz toda a diferença para quem está começando. Já havia tentando colocar a pequena para jogar Mario 3 e Mario World, mas a falta de um modo acessível a afastou. Em Wonder, ela finalmente se sentiu acolhida nesse universo de cogumelos e plantas de fogo.
Parece bobagem, mas é algo que tornou seu contato e aprendizado mais amigável. Ela passou a se acostumar às mecânicas e à lógica do jogo com esse modo fácil e não demorou para começar a testar suas novas habilidades com a tão sonhada Peach. Depois de algumas vidas perdidas, comemorou a primeira fase vencida com a princesa como quem comemora um gol.
O sistema de emblemas foi outra ajudinha que ela teve para tornar as coisas mais práticas. Super Mario Bros. Wonder traz essas medalhas que dão novas habilidades ao personagem ou alteram sua movimentação. Para ele, os blocos ocultos foram ótimos para impedir que caísse em buracos ou batesse em obstáculos.
Mais uma vez, é uma novidade que serve tanto para adicionar novas camadas de dificuldade aos veteranos — boa sorte para quem for jogar invisível —, mas que torna tudo muito mais acessível aos novatos. E diminuir a dificuldade não é tornar as coisas sem graça, mas fazer com que quem está começando também possa sentir que está evoluindo.
É nisso que eu digo que o maior mérito de Wonder é ele ter se adaptado ao estilo de uma criança de cinco anos e não exigir o inverso. É um jogo que me desafiou em muitos momentos e me impressionou com seu level design tão preciso e bem pensado, mas que também abriu os braço para uma menininha ver como ela também consegue fazer coisas incríveis.
Para jogar sorrindo
Como eu disse, Zelda já tem uma certa experiência com jogos, mas Super Mario Bros. Wonder foi a primeira vez que eu a vi jogar sorrindo dessa maneira com um videogame. Das risadas com as plantas cantoras à comemoração ao passar de fase, é como se desse para ver as suas primeiras grandes memórias com essa franquia e seus personagens tão adoráveis sendo construídas — o que me lembrou meu primeiro contato com Mario 3 décadas atrás.
É um maravilhamento que faz todo o sentido com a proposta como um todo. Do cuidado no visual e nas animações às loucas transformações das fases ao desafio que contempla novatos e veteranos, esse é um jogo perfeito, assim como Mario World foi no SNES. Só que, para toda uma geração que começa agora, Wonder vai ser esse referencial a ser buscado no futuro — e isso é ótimo.
Só que há algo mais. A Nintendo entregou algo tão criativo e divertido que se torna até sem sentido tentar analisá-lo sob o chato olhar técnico de quem tenta desmontar a experiência para explicá-la. Em casos assim, o olhar maravilhado de uma criança basta. Então, tenho que concordar com ela e dizer que, sim, Super Mario Bros. Wonder é doido.