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Análise | NBA 2K21 é um show visual na nova geração, mas sofre de falhas antigas

Por| 24 de Novembro de 2020 às 10h20

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Divulgação/2K Sports
Divulgação/2K Sports

Entra ano, sai ano e a queixa é a mesma: os jogos de esporte são sempre iguais e não apresentam nenhuma novidade ou melhoria que justifique a compra do título mais atual. Porém, essa percepção muda quando uma nova geração de videogames chega ao mercado e grandes nomes do gênero são os primeiros a mostrarem do que ela é capaz.

Neste ano, a 2K Sports apostou alto nisso e lançou não uma, mas duas versões de NBA 2K21. Como o único título de basquete do ano e o único de esporte a estrear junto com o PlayStation 5 e o Xbox Series X e S, a ideia da produtora é mostrar os avanços significativos em termos gráficos em relação ao PlayStation 4 e Xbox One. A estratégia é agressiva e bastante controversa, já que quem comprou o jogo lançado para a geração passada em setembro não recebeu o upgrade para a nova geração. A justificativa: é um jogo completamente diferente.

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Mas diferente o suficiente para justificar desembolsar R$ 290 para ter essa experiência? O Canaltech jogou a versão de PlayStation 5 de NBA 2K21 para contar tudo para você e dizer se vale a pena ou não.

NBA mais real do que nunca

Já faz um bom tempo que a proposta da 2K Sports e da Visual Concepts é oferecer ao jogador a experiência mais verossímil possível de estar vendo e comandando uma partida da NBA. Desde a identidade visual do jogo e das partidas, até os comentaristas e o “Show do Intervalo”, tudo passa a sensação de estarmos assistindo a uma transmissão oficial da TNT, ESPN e afins.

Na nova geração, NBA 2K21 dá um passo adiante e entrega uma experiência gráfica estonteante graças às capacidades técnicas dos novos consoles. A captura facial dos jogadores nunca foi tão perfeita e real quanto agora, e é possível até mesmo ver com facilidade o suor dos jogadores escorrendo pelo rosto e braços. O nível de detalhe é tão absurdo que as expressões faciais dos jogadores e da comissão técnica mudam a cada jogada, reproduzindo à exatidão sentimentos como decepção, alívio, esforço, dor, concentração e por aí vai.

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Nesse sentido, o trabalho da Visual Concepts é primoroso e também se aplica ao macro de NBA 2K21. As animações de movimentação dos jogadores estão mais fluidas do que nunca e são exatamente iguais às de suas contrapartes reais. E o mais bacana é que isso não está restrito apenas às superestrelas, como vemos em jogos como FIFA 21 e PES 2021: até mesmo jogadores “medianos”, digamos assim, são contemplados. Se ele tiver uma característica que o distinga dos demais, seja o jeito de bater bola, de cantar uma jogada ensaiada ou sua rotina de arremesso livre, isso está representado no jogo.

Graficamente, nunca um jogo de esporte se assemelhou tanto à sua modalidade quanto NBA 2K21. Absolutamente tudo que é mostrado em tela se assemelha a uma transmissão oficial da NBA e isso é um atrativo gigantesco.

Muito além da NBA

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Algumas horas de gameplay depois, a percepção é que o jogo é muito mais que apenas um “rostinho bonito”: NBA 2K21 tem profundidade e vai muito além do que apenas a NBA.

No ano passado, pela primeira vez a franquia ofereceu aos jogadores a oportunidade de jogar com times da WNBA; agora, essa experiência foi expandida e o jogador pode criar sua própria jogadora e traçar seu caminho rumo ao estrelato no modo The W – o MyPlayer feminino. O mais bacana de tudo é que, além das 12 equipes e superestrelas da categoria, a jornada não exige a compra de nenhuma Virtual Coin (VC) – ou seja, todo o progresso é mérito seu, não de quão fundo são seus bolsos.

Melhor do que isso é perceber que as partidas da WNBA não passam mais aquela sensação de que os bonecos são avatares masculinos travestidos. A Visual Concepts fez todo um estudo para reproduzir a movimentação das jogadoras à exatidão e dar um ritmo mais cadenciado e técnico às partidas, do jeito que elas são na vida real. Ponto positivo aqui.

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No MyCareer, este ano batizado de The Long Shadow, mais uma vez você poderá sentir na pele como é cavar seu caminho rumo à NBA. Para quem acompanha a franquia há algum tempo, a fórmula está parecendo cada vez mais datada e a experiência repetitiva; para quem está chegando agora, a trama pode até ser interessante.

O elenco conta com nomes como Djimon Hounsou (Guardiões da Galáxia, Gladiador), Jesse Williams (Grey’s Anatomy) e Michael Kenneth Williams (The Wire, 12 Anos de Escravidão) e a trama segue a vida de Junior, um garoto talentoso que decide se arriscar no basquete e seguir os passos do pai depois que ele falece. A trama é manjada e seus caminhos são bastante previsíveis, mas chama a atenção o grind até alcançarmos o objetivo final: passamos pelo Ensino Médio, quando a paixão pelo basquete é o que dita o ritmo das partidas; e logo em seguida temos de escolher como exatamente chegar à NBA – seguindo o caminho tradicional, pela universidade, ou se lançando na G-League, a liga de desenvolvimento e acesso à NBA?

O dilema é uma exclusividade da nova geração e traz sua carga de consequência ao jogador: investir mais tempo, sem ser pago, até alcançar o tão desejado sonho; ou começar a ser pago imediatamente, mas percorrer um caminho mais tortuoso e menos garantido. O problema é que, diferente do que acontece com o The W, seu sucesso no MyCareer depende de quanto você está disposto a desembolsar para ter VCs.

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Claro, é possível evoluir o personagem sem gastar um tostão sequer, mas o grind é muito maior que no The W e “incentiva” o jogador a torrar o cartão de crédito para acelerar um pouco as coisas. Esse é um problema antigo da franquia e este ano impacta até mesmo no acesso a um dos recursos mais bacanas de NBA 2K21 na nova geração: o The City.

Propagandeado pela 2K Sports como a maior adição do jogo no PlayStation 5 e Xbox Series X e S, o The City é uma evolução do antigo Neighborhood. Com tanto poder de fogo à disposição nos novos videogames, porque permanecer atrelado a algumas quadras quando se pode criar um mundo aberto considerável, com lojas, restaurantes, distritos e dezenas de atividades para o seu personagem fazer?

A grandiosidade do The City impressiona de um jeito que, embora o servidor aguente 100 jogadores simultaneamente, o espaço parece estar vazio. Aqui e acolá você esbarra com alguém fazendo alguma coisa, e o tempo de ir de uma ponta a outra do mapa é considerável. Ainda assim, ele é uma boa demonstração do que vai dar para fazer daqui em diante nessa nova geração. Só há um problema…

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O jogador não tem acesso imediato à cidade. Em vez disso, tem de passar por uma “peneira” na chamada Rookieville para “provar” que é digno de desfrutar das benesses do local. A regra não faz sentido algum e é bastante excludente por forçar o jogador a mais horas de grind para upar o personagem em partidas online cujos servidores são sofríveis e a latência é lá em cima. Para piorar a situação, se seu boneco não estiver com um overall bacana, esse processo será ainda mais longo e tedioso – ou seja, basicamente essa é mais uma forma que encontraram “incentivar” o jogador a gastar dinheiro com VCs.

E olha, não tem jeito: esse tem sido o maior problema da série NBA 2K nos últimos anos e é o maior problema de NBA 2K21.

Fantasmas do passado

Quem acompanha o cenário esportivo de perto sabe que os ídolos, os craques, os grandes só chegam aonde estão porque têm um oponente que os motiva a ser melhor. Larry Bird teve Magic Johnson (e vice-versa); Michael Jordan teve Isiah Thomas, Clyde Drexler e Karl Malone; Kobe Bryant teve LeBron James (e vice-versa), Paul Pierce e até seu companheiro de equipe, Shaquille O’Neal… Enfim, sempre há uma força motriz que conduz esses atletas à grandeza.

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Há pelo menos uma década a 2K Sports e NBA 2K não têm esse oponente, essa força motriz para incentivá-los a ser melhores. Prova disso é que, nesse período, três anos ficaram sem NBA Live. Sem competição, a tendência é a acomodação.

Dois anos atrás, encerrei o review que escrevi sobre NBA 2K19 dizendo que a franquia precisava de um rebuild, ser implodida para começar do zero e resolver seus problemas. Isso, claro, não aconteceu e muitos dos problemas daquele ano ainda continuam presentes. Pior que isso: para cada um que foi resolvido, parece ter surgido dois novos – uma prova clara da posição de conforto que a franquia se encontra.

Jogar online continua sendo uma experiência muito frustrante. Aparentemente, não há servidores locais nem regionais de NBA 2K21 e os brasileiros têm de lidar com latência muito acima do aceitável para jogar minimamente bem. O resultado disso é uma camada extra de dificuldade em qualquer modo online e mais tempo ainda de grind para poder acessar uma das principais novidades do jogo. Em um mundo que o gameplay online é massivo há algum tempo, é inexplicável a 2K Sports disponibilizar uma infraestrutura tão pequena e precária para seu maior e mais lucrativo título.

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Falando em lucro, a sensação é de que, ano após ano, é aqui que estão investidos os maiores esforços da 2K Sports. Praticamente toda a experiência de NBA 2K21 é movida a base de VCs – e isso não seria um problema se o valor das moedas fosse justo. Por exemplo: no momento que esta análise é escrita, 5.000 VCs estão custando R$ 10 na PlayStation Store. Parece um bom custo-benefício, certo? O problema é que essa quantidade de moedas às vezes mal dá para subir dois pontos em um atributo do seu personagem – e muitas vezes isso não rende nem um ponto a mais no overall dele. Quer outro exemplo?

A versão de NBA 2K21 que o Canaltech teve acesso foi a Mamba Forever, com 100.000 VCs inclusos. Parece uma quantidade absurda, mas que só deu para subir o personagem no MyCarrer até o nível 77. Indo para a calculadora, na PlayStation Store, 100.000 VCs equivalem a R$ 149,40 – ou seja, além de investir R$ 290 no jogo, você terá de desembolsar metade desse valor para ter um jogador mediano.

Isso porque sequer falamos do MyTeam, que embora tenha perdido o visual de cassino de dois anos atrás, continua com sua abordagem predatória e totalmente baseada em loot boxes, upgrades e atributos que só podem ser adquiridos com dinheiro de verdade.

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No fim das contas, a grande maioria dos modos de NBA 2K21 são permeados e ditados pela quantidade de Virtual Coins que você pode comprar. As duas únicas exceções são o The W e o MyNBA, que neste ano juntou os antigos MyGM e MyLeague sob um mesmo guarda-chuva. Aqui, o jogador tem total poder de personalização sobre como quer jogar, podendo definir as regras que valerão tanto dentro quanto fora das quadras, moldando o gameplay da maneira que quiser, seja ele mais próximo do que um dirigente faz ou do que um treinador faz.

Mudanças tão sutis quanto um floater

Os problemas de infraestrutura online e microtransações não são exclusivos de NBA 2K21 e já vêm de anos. A bem da verdade, eles também não são os únicos, mas poucos são tão irritantes quanto a incapacidade da inteligência artificial de jogar na defesa.

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Lembra que falei que para um problema corrigido, dois pareciam ter surgido? Bem, não temos mais a IA tentando sabotar os contra-ataques rápidos quando uma bola é roubada; em vez disso, agora ela sabota a defesa. Qualquer pick-and-roll do adversário é garantia de cesta, já que a troca de marcação não é feita por nada nesse mundo. Em uma partida em que você pode alternar o controle do jogador da equipe, ainda dá para contornar esse problema, mas no MyCareer, por exemplo, que você está travado controlando apenas um jogador, é frustrante ver o adversário cortando em direção à cesta enquanto o seu está preso na marcação e o da IA está brisando fazendo absolutamente nada.

Esse tipo de problema também acontece nas coberturas, já que se você for driblado e o adversário cortar para a cesta, absolutamente ninguém fará a cobertura para tentar impedir a jogada. Isso é recorrente, sempre acontece e determina o resultado de muitas, mas muitas partidas em NBA 2K21. Curiosamente, quando o jogador está no ataque e chama um pick-and-roll, a IA é inteligente o suficiente para subir a marcação e defender a jogada. Um problema resolvido, dois novos surgiram.

Quando escrevi sobre o NBA 2K19, falei que, no 1 a 1, a sensação era de que o defensor estava besuntado e não conseguia conter os avanços do adversário, que “escorregava” e passava direto. Bem, isso realmente não acontece mais, mas sim o extremo oposto.

Em muitas situações, a sensação é de que o defensor é uma placa adesiva mata mosca, grudando e não largando mais do adversário. E não adianta fazer stepbacks, crossovers, nada… Bateu, grudou e não tem animação que dê jeito nessa situação. Situação semelhante acontece na movimentação sem a bola: se o seu jogador esbarrar em um adversário, você terá de fazer o movimento para se desvencilhar dele, já que aparentemente não há qualquer animação de desvio de contato ou algo do tipo. Mais uma vez: um problema resolvido, dois novos surgiram.

Podemos estender esse review por mais várias linhas para comprovar essa conta, mas já deu para ter noção de que há uma boa quantidade de problemas em NBA 2K21. O pior de tudo é que eles são tão chatos que acabam minando toda a experiência de gameplay e diminuindo as boas novidades implementadas no jogo nesta nova geração.

Sim, há novidades de jogabilidade e elas são muito boas, embora bastante sutis. Uma das principais mudanças é o uso do Pro Stick para arremessar.

Agora, além do método tradicional, pressionando o botão, os jogadores podem escolher arremessar utilizando um novo mecanismo que mistura mira, timing e controle do arco da bola. Ao puxar o analógico direito para baixo, o jogador inicia o jump shot e a velocidade com que faz isso determina a mira e se a bola fará um grande arco ou irá como um míssil para a cesta: puxões mais lentos e suaves resultam em arcos maiores, enquanto puxões rápidos e bruscos resultam em arcos mais retos.

O jogador também pode escolher ter esse tipo de controle durante as bandejas, que podem ter um arco tão grande quanto o floater de Stephen Curry ou uma abordagem mais conservadora como a de Dwyane Wade, que utilizava bastante a tabela.

Outra mudança que a 2K Sports disse que foi possível graças ao poder computacional extra do PS5 e Xbox Series X e S é o reconhecimento automático da linha de 3 pontos pelos bonecos. Pode parecer simples, mas isso só pode ser feito depois de reprogramar todo o sistema de passadas de NBA 2K21, resultando em uma movimentação muito mais realista, sem jogadores “deslizando” para os lados, e reconhecimento automático de pontos importantes da quadra. Graças a isso, você não precisa mais dar toquinhos no analógico esquerdo para que seu jogador fique ali no limite da linha de 3 pontos, já que a reconhece sozinho e faz até stepback caso identifique que você quer mandar aquela bomba de longe.

No PlayStation 5, NBA 2K21 conta com mais uma camada de imersão graças ao feedback háptico e gatilhos adaptáveis do DualSense. Cada trombada, enterrada e batida de bola no chão de madeira pode ser sentido nas palmas das mãos e em áreas diferentes do joystick. Já as pontas do dedo sentem com precisão a intensidade da disputa por cada rebote em cada box out e a resistência do defensor em cada jogada de pivô de costas nos botões R2 e L2.

NBA 2K21: Vale a pena?

Graficamente falando, NBA 2K21 mais do que cumpre seu papel: o jogo é deslumbrante e um ótimo exemplo do que a nova geração de videogames é capaz. O visual dos jogadores, suas expressões e movimentação nunca foram tão reais e tão detalhados.

O poder de fogo extra dos novos videogames também permitiu à 2K Sports e Visual Concepts retrabalharem algumas mecânicas e sistemas do jogo para entregar uma experiência de simulação ainda mais imersiva. Esse esforço se traduz em mais controle nas mãos do jogador, que tem à disposição novas animações para criar espaços para seus próprios arremessos e pode optar por um sistema totalmente novo que combina mira, timing e controle do arco da bola.

Essas adições dentro da quadra também são acompanhadas de algumas novidades foram dela. Aqui, a novidade mais bem-vinda seja mesmo a inclusão do The W, que não apela para microtransação e deixa o jogador desfrutar de uma experiência completamente nova, com física particular ao basquete feminino, partidas mais cadenciadas e sucesso que não depende da conta bancária.

Por outro lado, tudo isso parece pequeno demais diante dos esforços da 2K em “melhorar” as formas de arrancar dinheiro do jogador. Isso é tão sensível que até mesmo o The City, alardeado como a principal novidade de 2K21 na nova geração, é impactado por essa ganância. Impor um grind absurdo associado à evolução do seu personagem (que pode ser acelerada por VCs) num modo online capenga é, no mínimo, um castigo terrível.

No fim das contas, NBA 2K21 para a nova geração é, sim, um jogo novo e diferente daquele lançado para PlayStation 4 e Xbox One. Os gráficos são o maior indício disso, enquanto as melhorias de jogabilidade e diferenças aqui e acolá nos principais modos de jogo surgem como extras que podem soar interessantes.

Para quem é fã incondicional de basquete e não comprou o jogo para a geração passada, ele é obrigatório – apesar dos problemas. Já para quem comprou o título na geração passada, independentemente de ser fã do esporte ou não, dá para segurar mais um pouco a bola – talvez até esperar os 24 segundos estourarem.

NBA 2K21 está disponível para PC, PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch, Google Stadia, PlayStation 5 e Xbox Series X e S. No Canaltech, o jogo foi analisado no PS5 com cópia gentilmente cedida pela 2K Sports.