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Análise | NBA 2K19 continua imbatível, mas leva toco das microtransações

Por| 05 de Outubro de 2018 às 20h40

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2K Sports
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Faz pelo menos oito anos que NBA 2K reina soberano nas quadras virtuais de basquete. No longínquo ano de 2010, a série da 2K Sports encontrou a fórmula do sucesso e desbancou o incontestável NBA Live da Electronic Arts com jogabilidade, gráficos e experiência que se aproximaram da realidade de maneira assustadora. A pancada foi tão forte que NBA Live saiu do mercado por três anos.

Se por um lado isso fez NBA 2K ser considerado pelo público e pela crítica como o melhor jogo de basquete disponível, por outro fez a 2K Sports se acomodar com o passar dos anos. Apostando apenas em ajustes finos e cada vez mais em microtransações, a série sambou na beira do abismo com NBA 2K18, que pareceu desleixado e, quase injogável, desagradou a todos.

Agora, NBA 2K19 entra em quadra para se redimir dos erros e pecados do ano passado. Dando um passo para atrás, o novo título da série pega impulso para fazer aquela enterrada bonita que todo mundo gosta de ver. Mas será que as pernas ainda têm força suficiente para isso?

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Basquete como esporte e entretenimento

Desde o início, NBA 2K se destacou por ser um excelente simulador de basquete, o esporte. Mesmo em 1999, quando a série estreou nos videogames no Dreamcast, já era possível ver diferenças entre ela e sua principal concorrente. De um lado, o novato apostava em jogadores maiores, com muito mais detalhes e mais parecidos com suas contrapartes reais; enquanto NBA Live ainda usava bonecos minúsculos, mas investia pesado no licenciamento de Michael Jordan, que jamais aparecera oficialmente em um jogo da franquia. Naquela época, se NBA 2K conseguia entregar um simulador de respeito, seu oponente ainda se vendia como a melhor opção de basquete como entretenimento.

Tudo mudou quando a 2K Sports percebeu que dava para unir simulação e entretenimento num só pacote em NBA 2K10. Foi naquele ano que o jogo se soltou das amarras da ESPN, investiu pesado em reproduzir a experiência de assistir a uma partida de basquete na TV e, ao mesmo tempo, convidou o jogador para, pela primeira vez, experimentar como é a vida de um atleta de elite com o modo MyPlayer. Dali em diante foi só abrir as asas e voar, com NBA 2K11 trazendo de volta à quadra não só Michael Jordan, mas também dezenas de jogadores, equipes e partidas clássicas que marcaram época no esporte.

Pronto, é esta a fórmula que a 2K Sports sustenta desde então e utiliza, novamente, em NBA 2K19. Do menu inicial ao término das partidas, tudo exala basquete, tudo parece como uma transmissão da NBA da TNT. O detalhamento da coisa toda é tão absurdo que à bancada de Kevin Harlam se juntam a já conhecida e querida Doris Burke, as estrelas do passado Kobe Bryant, Kevin Garnett, Chris Webber, Steve Smith e Greg Anthony e o jornalista Bill Simmons. Durante as partidas, eles conversam sobre amenidades, curiosidades, como é viver do basquete e como enxergam o jogo aqui, fora das quatro linhas. Placares, o pré-jogo, show do intervalo e melhores momentos são idênticos aos vistos na TV. Adicione a isso as cheerleaders entre um pedido de tempo e outro, e os mascotes distribuindo camisetas com canhões que a imersão no basquete enquanto diversão está completa.

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Como esporte, o jogo é extremamente competente em reproduzir tudo o que acontece não só dentro das quadras, mas também fora delas. Ali no chão de madeira, do jeito de bater bola à forma de arremessar, andar e morder o protetor bucal, todos os jogadores se comportam exatamente como os reais. Superestrelas como LeBron James, Giannis Antetokounmpo (ambos capas do game), Stephen Curry e James Harden, então, recebem uma atenção ainda mais especial. Todas as características e animações únicas dos jogadores estão representadas ali com perfeição.

Esse realismo se estende para muito além dos aspectos gráficos. Os modos MyCarrer, MyTeam e MyLeague simulam diferentes segmentos do esporte, colocando o jogador para gerenciar uma equipe a partir dos escritórios, sentado atrás de um birô; ali do banco de reservas ou para viver na pele a pendenga que é se tornar uma estrela da NBA. São nesses modos que vivenciamos toda a complexidade do esporte, tendo de lidar com contratos, contratações, trocas, folha de pagamento, olheiros, treinamentos, plantel e todas as engrenagens que movem tudo por trás do espetáculo que são as partidas disputadas em quadra. Mais do que isso, esses três modos concentram praticamente todos os esforços da 2K Sports — mesmo que eles pareçam pouco.

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Um passo atrás para pegar impulso (ou nem tanto)

É difícil falar em evolução, sobretudo quando uma produtora está ocupando o topo há tanto tempo. Ano após ano o que temos visto em NBA 2K são ajustes finos, principalmente de jogabilidade e de mecânicas. Neste ano, porém, houve um esforço a mais para tornar o MyCarrer mais atraente e o MyLeague mais longevo.

Mas calma que, não, não houve uma repaginada completa nesses modos. O MyLeague é praticamente o mesmo que todo mundo já conhece, com o jogador podendo montar uma franquia até mesmo do zero se assim o quiser. Aqui, praticamente todos os aspectos possíveis e imagináveis do game são personalizáveis: desde quem treina a equipe, passando pela estratégia de construção do elenco, aos jogadores que entram em quadra, tudo está em suas mãos. É uma dinâmica gostosa e recompensadora, que encoraja o jogador a arriscar contratar um All-Star sacrificando boa parte do elenco para ter uma chance, a curto prazo, de chegar à final ou adotar uma postura de construção de elenco a longo prazo, apostando em jovens talentos.

O que mudou é que a 2K Sports recuou e deixou de abusar das microtransações para ditar o progresso do jogador nesse modo. Agora, seu desempenho vale tanto quanto a profundidade do seu bolso, o que abre espaço para o jogador decidir se quer investir tempo e esforço ou dinheiro nessa jornada.

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Uma estratégia semelhante de equilíbrio tentou ser aplicada ao MyCarrer, mas não deu tão certo assim. Agora com um plot retrabalhado para refletir uma realidade cada vez mais atual, com jogadores arriscando uma carreira primeiro no exterior para só depois tentar a sorte no Draft, o modo também teve suas arestas aparadas para retirar o excesso de microtransações vistas em 2018. Mesmo assim, as Virtual Coins ainda têm um peso considerável no progresso do jogador. Levando em consideração que o piso de nível dos jogadores é 85, você terá de evoluir os atributos do seu jogador até esse patamar para ser minimamente competitivo — e isso custa cerca de 120 mil moedas. Agora, a cada partida bem jogada você leva 1.000 moedas para casa, logo ou terá de jogar cerca de 120 partidas ou desembolsar R$ 153 para adquirir tantas moedas assim. E estamos falando do mínimo para ser competitivo, não uma superestrela — se esse for o seu objetivo, prepare-se para investir mais tempo ou dinheiro na parada.

Se você tiver paciência e disciplina, certamente encontrará uma forma de não gastar nenhum centavo para evoluir seu jogador no MyCarrer — algo que era praticamente impossível há um ano. O mesmo, infelizmente, não pode ser dito do modo MyTeam. Uma espécie de Ultimate Team visto nos jogos da Electronic Arts, aqui a selvageria rola solta. Lootboxes em forma de pacotes de figurinhas, jogadores que demandam compra constante de contratos e recompensas orgânicas risíveis fazem a fórmula desse modo que não esconde nem em sua arte que é um caça-níquel. A sensação é de estarmos em Las Vegas sendo surrupiados a todo instante, já que você não tem controle sobre absolutamente nada, por mais que esteja disposto a injetar grana para se sair bem.

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Rebuild necessário

Essa discrepância entre os três principais modos de NBA 2K19 é evidência de que a 2K Sports ainda se sente segura e acomodada no lugar onde está. Pouquíssimas mudanças foram feitas para abrandar o peso das microtransações na experiência de jogo, e o jogador ainda é convidado, a todo instante, a gastar mais dinheiro para progredir no título.

Pior que isso, apenas as tentativas frustradas de tentar iniciar uma partida online ou em qualquer um dos três modos, que exigem conexão constante à internet. Enquanto testávamos o game, a conexão com os servidores da 2K se perdia a todo instante e muitas vezes era impraticável abrir o MyCarreer, MyTeam ou MyLeague.

A única forma de fugir dessas dores de cabeça é recorrer aos modos offline, seja jogando contra a inteligência artificial ou um amigo no sofá. Aqui, entretanto, ficam evidentes outros tipos de problemas — a maioria deles de jogabilidade.

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Queixa recorrente de quem acompanha NBA 2K de longa data, a marcação 1 a 1 continua sofrível na edição deste ano. Para falar de um jeito cômico, a sensação é que os defensores estão besuntados e, por isso, não conseguem segurar os avanços do adversário — uma frustração inexistente em NBA Live 19, diga-se de passagem. Quem está com o domínio da bola também passa por dificuldades: não importa se você faz um crossover de dar inveja a Allen Iverson ou um pump fake oportuno, o defensor simplesmente NUNCA cairá nas suas investidas.

Também há trabalho a ser feito na armação de jogadas e transições ofensivas. No primeiro caso, mesmo que você chame uma jogada ensaiada, os jogadores parecem lerdos e não conseguem se livrar da marcação para receber a bola e tentar um arremesso aberto. Experimente não chamar nenhuma jogada e você verá que não há qualquer proatividade da inteligência artificial para criar oportunidades de jogadas — todo mundo fica parado como uma múmia. Já nas transições, os companheiros de equipe controlados pela CPU simplesmente atrapalham o contra-golpe, seja se enfiando na sua frente ou fazendo seu jogador tropeçar e cair no chão.

Essas e outras situações não chegam a comprometer NBA 2K19, longe disso. Ele ainda é extremamente competente em simular o basquete dentro e fora das quadras e entrete como nenhum outro. Porém, os longos anos no topo da cadeia fizeram a 2K Sports relaxar a ponto de cometer as atrocidades que cometeu em 2018. O passinho para trás em 2019 foi urgente, mas praticamente nada além disso foi feito. Problemas e defeitos recorrentes reaparecem ano após ano, há pouca ou nenhuma inovação e as microtransações incomodam e irritam.

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Para não cair na mesma armadilha que NBA Live caiu no passado e ficar para trás, talvez tenha chegado a hora do rebuild, de a 2K Sports reinventar NBA 2K, arriscar um pouco mais e repensar seu esquema de monetização. Cenas para a próxima temporada.

NBA 2K19 está disponível para Xbox One, PlayStation 4 e PC. No Canaltech, o jogo foi testado no Xbox One X com cópia gentilmente cedida pela 2K Sports.