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Análise | Little Nightmares 2 eleva patamar gráfico e nível de perturbação

Por| 12 de Fevereiro de 2021 às 18h00

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Divulgação/Bandai Namco
Divulgação/Bandai Namco

Muitas vezes, não é simplesmente um susto que torna um game realmente assustador. Um monstro pulando de repente no jogador pode ser eficaz, mas tem efeito apenas uma vez, acabando rapidamente. Quando se constrói uma atmosfera de horror, em um mundo bizarro mas com raízes na realidade, é que a gente sai perturbado de verdade.

Com isso, é interessante notar que Little Nightmares II faz isso sem, nem mesmo, contar uma história da maneira convencional. Ela está lá, é verdade, mas não aparece na forma de cutscenes, arquivos de texto ou diálogos, mas sim por meio da exploração de um mundo aterrorizantemente parecido com o nosso, no qual as pessoas parecem reduzidas a cascas vazias sob o controle de figuras de poder violentas e perturbadoras.

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O novo game da Tarsier Studios tenta levar adiante a premissa do original e, também, chega com a proposta de adicionar elementos por meio de uma jogatina cominada. Mono é o personagem principal da vez, enquanto Six, a protagonista de Little Nightmares, aparece em um papel de apoio, auxiliando em tarefas que exigem um pouco mais de força, distraindo oponentes ou indicando o caminho a seguir de forma mais segura.

Pelo menos, é assim que funciona na descrição, pois na prática, Little Nightmares II acaba mais preso aos conceitos do original do que o propagandeado. Não que isso seja necessariamente ruim, já que o primeiro game é tão bom quanto este segundo, enquanto as bases já firmadas permitiram que a desenvolvedora trabalhasse em visuais ainda mais assustadores e oponentes que ficarão gravados na memória dos jogadores.

Não há muito tempo para introduções e, nem mesmo, para se horrorizar com a ideia de controlarmos uma criança em um universo que parece ter ido para o inferno. Logo nos primeiros minutos do game, Mono encontra Six, mas a tranquilidade que pode ser trazida pela companhia logo se transforma em horror quando um caçador gigante começa a atirar na dupla com uma espingarda.

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Quem esperava um retorno da furtividade do game original pode achar que, por aqui, as coisas são diferentes, mas logo Little Nightmares II prova como será capaz de usar de maneiras um pouco variadas os conceitos de estratégia do original. Se o atirador já era assustador o suficiente, espere para ver a bizarra professora da escola onde se passa o segundo arco do título — sua opinião sobre pessoas que estalam o pescoço, com certeza, vai mudar depois dos encontros com ela.

Entram em cena também encontros menores, com as crianças de cabeça vazia dessa instituição de ensino atacando os protagonistas e usando armadilhas mortais. Mono, porém, é capaz de pegar e atirar objetos ou usar armas como machados ou marretas, tanto para abrir portas quanto para atacar inimigos — os momentos de combate, entretanto, são um bocado frustrantes.

Little Nightmares II não é um jogo de ação e nem deseja ser. Ao adaptar a jogabilidade para um momento de conflito, algo parece fora de lugar, com inimigos muito mais ágeis que os protagonistas e uma jogabilidade que não perdoa o erro. Os oponentes infantis podem fintar Mono, e caso o usuário aperte o botão de bater na hora errada, provavelmente morrerá, tendo de reiniciar a sequência de confronto novamente.

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A adição de Six como companheira ajuda em alguns destes momentos, é verdade, tirando a sensação de tentativa e erro dos momentos mais críticos do original ao indicar o caminho a seguir, padrões de comportamento dos inimigos adultos ou possíveis esconderijos. Entretanto, é como se essa balança tivesse que ser compensada de um outro lado, um tanto mal coordenado, em uma adição que até adiciona elementos perturbadores — afinal, somos obrigados a dar marretadas em crianças — mas inclui, também, um resultado frustrante.

Na maior parte do tempo, porém, estaremos no bom e velho jogo de gato e rato firmado no original, contra adultos terríveis e explorando cenários sinistros. Entender os elementos de ambiente e como a jogabilidade tridimensional em um ambiente 2D funciona é essencial para seguir em frente, mas acredite, você vai morrer muitas vezes nesse processo.

Little Nightmares II segue implacável e, ao ser visto por um monstro, você dificilmente conseguirá fugir. Felizmente, os loadings são rápidos (e mais velozes ainda se você estiver em um console de nova geração) e os checkpoints te devolvem no início da cena, o que permite que novas tentativas e abordagens sejam realizadas de maneira rápida, sem que a morte do protagonista incomode — pelo menos, não opor sua jogabilidade.

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Sem esperança

Fora dos problemas de jogabilidade, Little Nightmares II brilha pela ambientação e traz o tipo de envolvimento que só é percebido, de forma integral, quando se joga. Há uma crítica inerente a uma sociedade viciada em telas e ao tipo de controle que indivíduos em posição de poder exercem em um mundo desse tipo, enquanto se desenrola um mistério que envolve o próprio Mono.

Ele tem um sonho recorrente no qual está em um corredor, mas sempre que consegue acessar essa imagem novamente, é impedido de chegar até o final. Ao mesmo tempo, está envolvido em uma fuga desesperada pela cidade até uma torre de transmissão que parece estar no centro de ambas as questões, tanto seus próprios terrores pessoais quanto o domínio exercido sobre os habitantes deste local.

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Aos jogadores, permanece sempre aquele sentimento de tensão a cada nova etapa vencida. Mono e Six estão o tempo todo no fio da navalha e o jogo deixa claro que, após o desafio perturbador anterior, do qual a dupla escapou por pouco, há algo muito pior e mais aterrorizante esperando logo depois.

Essa sensação de horror constante não cansa, já que os próprios capítulos de Little Nightmares II não se estendem demais, enquanto a variação de oponentes e cenários, unida à beleza dos gráficos fotorrealistas, faz com que a experiência não se torne monótona mesmo após mortes sucessivas. Pelo contrário, a vontade é de sempre seguir em frente e escapar desse pesadelo, por mais que, a cada tela, fique claro de que isso não será tarefa fácil.

Do ponto de vista visual, vale a pena citar mais uma mudança sutil em relação ao Little Nightmares original. Nesta sequência, a Tarsier Studios opta por uma paleta mais sóbria, ainda que existam os elementos de explosão. Em sua maioria, eles estão mais relacionados a luzes do que cores, com até mesmo a peculiar capa amarela da protagonista original parecendo pálida e pouco chamativa neste cenário dominado.

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O game ainda faz bom uso da iluminação, como no original, e as sombras são essenciais para a furtividade. Porém, é nos cenários cheios de objetos móveis e elementos que está a grande força do novo título, assim como em seus próprios personagens, que por mais que sejam os agentes de mudança de toda essa história, passam uma impressão de fragilidade constante que faz com que as apostas lançadas pelo game sempre soem muito altas.

A nova obra da desenvolvedora sueca é maior e melhor que a original, ainda que tenha ligações diretas com ela e, sem dúvida, exija que o jogador a tenha experienciado para que seja entendida plenamente. O título também aumenta a carga em termos de problemas, mas seu grande discurso está acima de tudo isso e deve chamar a atenção dos jogadores ao longo das cinco horas de duração — um período que, quando termina, deixa um misto de sensação de querer mais e alívio pelos horrores terem terminado (ou não).

Little Nightmares II está disponível para PC, PlayStation 4, Xbox One, Nintendo Switch e Stadia — versões dedicadas à nova geração devem sair ainda neste ano, com upgrade gratuito. No Canaltech, o jogo foi analisado no PS4 e no Xbox Series X, em cópias digitais gentilmente cedidas pela Bandai Namco.