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Análise | Capcom Arcade Stadium revive clássicos em coletânea confusa

Por| Editado por Jones Oliveira | 06 de Março de 2021 às 09h00

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Divulgação/Capcom
Divulgação/Capcom

É uma sensação que conhece, apenas, quem viveu. O sentimento de estar diante de uma máquina de fliperama grande — principalmente na visão de quem era pequeno, nessa época — e aquela mistura de sons altos que, ao mesmo tempo, não permitia ouvir nada direito, mas também era indispensável. Só quem viveu sabe e um pouco dessa nostalgia, agora, pode ser revivia com Capcom Arcade Stadium.

Seguindo adiante em sua sequência de coletâneas de títulos clássicos, temos uma das empresas que era sinônimo de fliperama nos anos 1980 e 1990. Agora, ela traz um de seus pacotes mais abrangentes, com mais de 30 jogos que representam suas diferentes eras no segmento de arcades e, também, mostram a evolução de estilos, gêneros e das próprias franquias da empresa, em um momento em que os consoles de mesa também estavam em ascensão enquanto os velhos flipers tentavam manter seu charme.

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A versão gratuita traz apenas um título, 1943: The Battle of Midway, enquanto o restante é adquirido separadamente em três pacotes que delimitam as diferentes eras pela qual a companhia passou no segmento. Viajamos desde os primordiais títulos espaciais e a dificuldade extrema de games de plataforma, até a revolução gerada pelos jogos de luta até, finalmente, a consolidação, com evoluções nas propostas e novas ideias para manter o caráter único dos games de arcade.

Essa divisão não apenas separa diferentes abordagens da Capcom, mas também é capitaneada por clássicos absolutos. Os grandes nomes dos jogos de “navinha”, por exemplo, estão no primeiro grupo, enquanto os saudosos Final Fight e Captain Commando aparecem ao lado da edição inicial de Street Fighter II. Suas expansões e melhorias, porém, aparecem no terceiro conjunto, ao lado de visões mais futuristas sobre os jogos de combate aéreo e brincadeiras diferentes com o bom e velho conceito da luta de rua, em títulos como 19XX: The War Against Destiny ou Powered Gear.

Ter acesso a todos eles, claro, não sai barato, com o valor cheio da coletânea se aproximando do preço de um título tradicional. Por outro lado, surge aqui um fator elementar: as melhorias de qualidade de vida que permitem chegar ao final destes títulos de fliperama sem gastar uma fortuna em fichas e, claro, o fato de estarmos falando de um pacote com mais de três dezenas de títulos de gêneros variados.

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A impossibilidade de comprar os jogos de forma individual pode frustrar alguns que, por exemplo, só querem dar umas porradas nos bandidos no controle de Guy ou reviver os velhos duelos entre Ryu e M.Bison. Por outro lado, para os conhecedores da história dos fliperamas, há destaque no fato de muitos destes games estarem disponíveis ao público ocidental pela primeira vez e, em meio aos grandes nomes dos arcades, também existem diferentes pérolas escondidas que valem sua atenção.

É o caso, por exemplo, de Tatakei no Banka, um divertido e inusitado side scroller com ar apocalíptico, mas que tem espada e escudo como arma; ou das versões originais de Strider e Ghosts 'N Goblins, que muita gente só deve ter conhecido por meio de suas contrapartes nos consoles domésticos. A acessibilidade em um console com ares de portátil como o Switch é um ponto a ser levado em conta, também, principalmente pela jogatina rápida e desafiadora proporcionada por muitos destes games.

Ao trazer os jogos ao console da Nintendo, a Capcom também investiu em algumas características que somente seriam possíveis nele. Muitos títulos espaciais do passado tinham displays verticais e o mesmo também pode ser aplicado ao Switch, que tem toda sua tela aproveitada e dispensa as barras laterais para alguns títulos, aproximando a nova experiência das originais.

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Além disso, como normalmente se fala no retorno desse tipo de clássico, Capcom Arcade Stadium inclui diferentes filtros e bordas customizáveis para o jogador. A ideia da interface, um bocado confusa e cheia de tutoriais invasivos, é dar ao jogador a sensação de estar em uma antiga casa de fliperamas e, para fazer isso, a companhia também traz efeitos que emulam os antigos monitores CRT e a aparência de suas antigas máquinas.

O trabalho enciclopédico, entretanto, para por aí, com a coleção indo direto ao ponto e trazendo apenas os próprios games, somados a alguns desafios online e pontos que exibem a progressão interna. Não existem muitas informações sobre os games em si — apesar de alguns conterem múltiplas versões, para contemplar lançamentos ocidentais e japoneses — e nem mesmo a tão elogiada galera de imagens que vimos em outros pacotes, como o Capcom Beat’em Up Bundle, que continha não só os títulos como manuais, conceitos de personagens e demais dados históricos.

Não dá para dizer que o Capcom Arcade Stadium simplesmente joga os títulos em um emulador, já que há um trabalho de organização envolvido aqui, mas a atenção acaba não indo muito além. Talvez em um esforço de preservação, mas também em um aspecto incômodo, até mesmo quedas na taxa de quadros por segundo podem ser vistas em muitos dos títulos que pareciam exigir o máximo das plataformas originais, mas que poderiam ter uma casa bem mais confortável no Nintendo Switch.

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O pacote também une diferentes dificuldades, nos jogos mais desafiadores, com opções clássicas dos emuladores, como o salvamento de estado e uma função de rebobinar, que permite corrigir erros ou melhorar a performance imediata. Entretanto, essa possibilidade está localizada em um dos botões superiores, e em títulos como Street Fighter II, que também utilizam tais comandos, não é incomum esbarrar na função sem querer, algo que atrapalha nos combos e, principalmente, nas partidas para dois jogadores. Faz falta, ainda, um modo multiplayer, que daria uma cauda bem mais longa a títulos que, em sua maioria, se tornam ainda melhores se jogados de forma competitiva.

Em uma nota saudosista, ainda, vale a pena citar que ficaram de fora alguns clássicos como Knights of the Round — disponível em outras coletâneas da Capcom, mas estranhamente, não nesta —, Alien Vs. Predator, Punisher e os maravilhosos crossovers entre lutadores da Capcom de Marvel. As ausências, aqui, são até entendíveis, já que provavelmente envolvem questões complicadas (e caras) de licenciamento. O trabalho, porém, poderia valer a pena para engrandecer ainda mais o pacote.

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O maior valor do Capcom Arcade Stadium, no final das contas, está na nostalgia e na acessibilidade, da mesma forma que acontece com outras coleções recentes da companhia. O conjunto, aqui, deve apelar muito mais aos saudosistas, que experimentaram tais títulos no passado e, agora, podem ter uma experiência mais próxima e calma com eles, sem a pressão das fichas, da fila de pessoas querendo jogar e do cheiro de cigarro dos fliperamas.

Entretanto, e da mesma forma que já aconteceu com relançamentos antigos, sempre fica aquela sensação de que algo ficou faltando, ainda que essa seja, sem sombra de dúvidas, a mais abrangente coleção já criada pela Capcom. Uma amostra simultânea de dois elementos: o tamanho do legado da empresa e, também, do fato de que ela nem sempre vai até o fim em suas propostas.

Capcom Arcade Stadium está disponível exclusivamente para o Nintendo Switch. No Canaltech, o pacote foi estado em cópia digital gentilmente cedida pela Capcom.