Que fim levou o Colheita Feliz?
Por Felipe Goldenboy | Editado por Bruna Penilhas | 22 de Maio de 2022 às 17h00
Um dos maiores sucessos da finada rede social Orkut, o Colheita Feliz era um simulador de fazendinha em tempo real, desenvolvido pela chinesa Elex e distribuído pela norte-americana Mentez. Os jogadores plantavam sementes virtuais, cuidavam dos animais e administravam uma fazenda virtual. Era possível também visitar a fazenda dos amigos e roubar as plantações deles.
No entanto, toda colheita tem seu fim. E o fim de Colheita Feliz foi anunciado em 17 de outubro de 2016, quando usuários receberam o aviso de que o game seria encerrado completamente no dia 31 de outubro do mesmo ano. Jogadores perderam todo seu progresso e seus investimentos — tanto virtuais quanto físicos, pelo menos no caso de quem investiu dinheiro de verdade no game.
O fim inesperado do jogo irritou os usuários, que chegaram a fazer um abaixo-assinado online. 2.775 pessoas preencheram o documento. “Sou aposentado por invalidez, é um meio que eu tenho para me distrair”, disse um usuário identificado como Celso s. “É minha terapia há mais de 10 anos, isso é inaceitável”, escreveu Graça g. As reclamações se multiplicaram, mas não surtiram efeito.
A decadência do game começou alguns anos antes, com o fim do Orkut em 2014. Na época, o Facebook começava a se consolidar no Brasil, atraindo muitos usuários com novos recursos. Os jogos sociais até foram lançados na rede vizinha, mas sem a mesma força e apelo de antes.
Além disso, o Adobe Flash Player, aplicativo que rodava os jogos, também era mal visto por outras gigantes da internet devido a suas inúmeras falhas de segurança. A represália foi tanta que a própria Adobe anunciou em 2017 — um ano depois do fim do Colheita Feliz — que descontinuaria a tecnologia Flash. O espaço dos joguinhos sociais estava se fechando cada vez mais.
Não foi só o jogo que sumiu do mapa: a Elex e a Mentez também desapareceram. As empresas, que possuíam sede e escritório em São Paulo (SP), tiveram seus CNPJs baixados (ou seja, encerrados) ainda em 2016. Um fim abrupto para empresas que, no início dos anos 2010, emplacaram manchetes do noticiário econômico graças aos enormes lucros e aos investimentos. A única empresa que sobreviveu foi a Paymentez, um braço da Mentez para processar pagamentos virtuais, adquirida pela Nuvei em setembro de 2021.
Em uma reportagem de 2011, o CEO da Mentez (agora, da Mentezpay), Juan Franco, afirmou que o Colheita Feliz era jogado por mais de 30 milhões de brasileiros. Em média, um jogador gastava de R$ 20 a R$ 30 por mês, e essas transações correspondiam a 95% do lucro. E que lucro! Em 2009, o jogo faturou US$ 2 milhões; em 2010, foram US$ 35 milhões. A expectativa para 2011 era crescer mais 50%.
Sim, o jogo era extremamente viciante — não somente o Colheita Feliz, mas todos os seus “irmãos”, como Café Mania, Mini Fazenda e Vila Mágica (relembre os melhores aqui). Esse sucesso chegou a causar dor de cabeça entre empresários: a produtividade diária dos empregados podia cair em até 12,5%, segundo uma pesquisa conduzida pela Associated Chambers of Commerce and Industry of India.
Hoje em dia, não é possível jogar Colheita Feliz de forma oficial; o jogo foi removido de todas as plataformas digitais. No entanto, você pode matar a saudade com jogos similares, como Stardew Valley, Pocket Harvest, FarmVille 3 e mais — confira mais dicas para celulares Android e iOS aqui. Se preferir jogar no computador ou no console, experimente Monster Harvest, Farming Simulator 22 e também Stardew Valley — veja mais dicas aqui.
Fonte: CNPJ Info (1, 2), Época Negócios, G1, LinkedIn, Petição Pública