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Apagão da Twitch | Entenda mudança que levou à greve de streamers no Brasil

Por| Editado por Bruna Penilhas | 23 de Agosto de 2021 às 16h58

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A Twitch passará por um “apagão” nesta segunda-feira (23). Um grupo formado por pequenos e médios criadores de conteúdo da plataforma prometeram realizar uma greve, suspendendo as transmissões ao longo do dia.

O apelo também pede que espectadores não acessem o site que abriga transmissões ao vivo. O "Apagão da Twitch" tem inspiração em paralisações de motoristas e entregadores de aplicativos como Uber e iFood.

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Os organizadores permanecem em anonimato, mas o movimento ganhou destaque nas redes sociais nos últimos dias. No Twitter, a conta que divulga informações sobre a greve dos streamers cobra mais transparência sobre as taxas aplicadas pela plataforma aos criadores de conteúdo, uma resolução para ataques de ódio nos chats durante as transmissões e uma revisão da relação com o serviço da Amazon.

No centro do protesto está a sensível redução de receita que uma parcela de streamers enfrenta após a Twitch derrubar o valor da inscrição paga pelo público. A inscrição garante ao expectador benefícios exclusivos nos canais, como emotes e a possibilidade de acompanhar as lives sem anúncios.

O valor do “sub”, abreviação para subscription, passou no início do mês de R$ 22,99 para R$ 7,90 na opção mais básica — chamado de grupo 1. A alteração foi favorável ao consumidor brasileiro, mas atingiu em cheio os criadores de conteúdo em crescimento na plataforma, que viram seus ganhos com inscrições caírem em até 60%.

Vice-presidente de monetização da Twitch, Mike Minton, declarou, em entrevista ao Globo Esporte, que a nova tabela de preços para o mercado brasileiro considera valores praticados no país, como o preço de um café ou do Big Mac, além do que é cobrado hoje por uma assinatura do Amazon Prime.

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Segundo Minton, países que já passaram por essa transição assistiram a um aumento de receita para os streamers com o crescimento do volume de inscritos. Durante a mudança, a Twitch anunciou um pacote de compensações para mitigar os efeitos negativos para os criadores.

A plataforma realizará uma média dos ganhos dos três meses anteriores e compensará os streamers que tiverem redução de receita pelo período de um ano — de forma integral no primeiro trimestre, 75% no segundo, 50% no terceiro e 25% no quarto.

No entanto, a médio e longo prazo, sem um vínculo empregatício ou um contrato com a Twitch, os produtores de conteúdo que dependem das visualizações de anúncios ou das inscrições temem que a receita gerada pela plataforma se torne um problema.

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A redução colocou uma pressão em streamers que, do dia para a noite, vão precisar triplicar o número de inscritos para manter os ganhos com os subs antes das mudanças de valor.

Quanto recebe um streamer? 

Um streamer recebe, em média, US$ 0,40 (R$ 2,10) por cada inscrito em um canal na Twitch com os novos valores. Antes da redução, o repasse se aproximava de R$ 6,80 por cada inscrito.

Criador de conteúdo na plataforma, o perfil Gamer de Esquerda calculou que os produtores de conteúdo precisam de 523 inscritos para chegar a um salário mínimo de R$ 1.100 por mês atualmente.

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O número de inscritos é alto e demanda investimento de tempo, material e capital criativo para cultivar uma comunidade disposta a pagar para assistir ao canal. Abrindo seus números, Gamer de Esquerda escreveu que levou mais de um ano para gerar U$ 100 na plataforma, cerca de R$ 536,13, com as inscrições e visualizações. O perfil do streamer conta com aproximadamente 15 mil seguidores na plataforma.

“E aqui é bom fazer um adendo: Só recebemos R$ 2,10 porque o dólar no momento tá altíssimo. Se a nossa economia voltar ao normal (e a gente espera que volte, embora não pareça ser uma realidade próxima), nossos ganhos vão ser ainda menores e vamos precisar de ainda mais inscritos!”, detalhou Gamer de Esquerda no Twitter.

União dos Streamers 

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Além de ficar com uma parcela do que paga cada inscrito, a Twitch aplica ainda sobre os ganhos totais dos produtores de conteúdo um imposto de 30% destinado ao governo norte-americano.

Uma tentativa de diálogo com o site da Amazon para o fim dessa taxa, considerada bitributação para os brasileiros, foi iniciada com a plataforma pela União dos Streamers, grupo antes batizado de Sindicato dos Streamers e encabeçado por Picoca e Daniel "danielhe4rt".

Como sindicato, o movimento surgiu exigindo o fim da taxa de 30% repassada pela Twitch. Com o avanço dos dias (e das polêmicas), o discurso mudou.

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Em coletiva, a dupla Picoca e danielhe4rt defendeu a mudança do nome do ex-sindicato para evitar o que chamaram de onda de polarização e críticas de cunho político. O produtor de conteúdo danielhe4rt defendeu um tom mais pacífico para lidar com a Twitch.

“Uma das coisas que fizemos foi mudar hoje a ideia da própria Twitch se curvar e atender nossas demandas, queremos ter um diálogo, queremos ser escutados, então fizemos algumas alterações para que a gente consiga a adesão dessas pessoas. Para todo mundo que já assinou é bem claro o que a gente está querendo. Queremos ser escutados. Para ficar de um jeito formal, fizemos essas alterações, e se for o caso, eles continuam, caso não, tiram a assinatura, já que temos a preparação para isso”, explicou danielhe4rt, segundo o GE.

Em meio a mudança de tom, a União dos Streamers anunciou que não vai participar e apoiar o “Apagão” desta segunda-feira.

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Streamers pequenos e médios sentiram mais as mudanças

Quem também não deve se juntar ao Apagão desta segunda-feira é o terceiro streamer mais popular de esportes eletrônicos em todo o mundo na Twitch.

O brasileiro Gaules, que reuniu mais de 3,65 milhões de horas assistidas em transmissões entre junho e julho de 2021, discordou dos movimentos que cobram melhores relações entre produtores de conteúdo e a plataforma, durante uma live em seu canal.

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Para o streamer de 2,9 milhões de seguidores, quem trabalha com live, precisa se reinventar e procurar maneiras de reverter a perda de receita. Gaules defendeu a Twitch, argumentando que os criadores de conteúdo são parceiros e não empregados, por isso, não podem cobrar do site melhores condições e sim, “darem um jeito”. A fala foi alvo de críticas nas redes sociais:

Pra quem tava esperando pronunciamento de "gente grande" sobre os streamers ganharem menos, tá aí kkkkk

O Jeff Bezos não é meu patrão gente, ele é meu PARCEIRO

E se você tá ganhando menos, se reinvente ou saia da plataforma rs porque eu tô de boa aqui com meus patrocínios pic.twitter.com/IVMJtUmUbZ

De fato, as mudanças no valor da Twitch não devem atingir de maneira significativa Gaules e outros streamers com números expressivos de visualizações. Além de contarem com patrocínios externos, streamers grandes possuem um número grande de seguidores, que potencialmente podem virar inscritos com a redução do valor da sub.

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Mas isso não vale para streamers de menor porte, que mantêm uma relação numérica entre seguidores e inscritos estreita, em crescimento orgânico mais lento.

Jornalista e produtor de conteúdo com 2,7 mil seguidores na Twitch, Pedro Sciarotta (PSPedroAoVivo na Twitch) analisou a mudança dos valores. Inicialmente, Sciarotta enxergou com bons olhos a redução dos preços de inscrição.

“O valor anterior da inscrição [R$ 22,99] era inviável para quem assiste e não assina o Amazon Prime. Era raríssimo encontrar alguém que pagasse os R$ 23 de sub mensal”, disse Sciarotta em conversa com o Canaltech.

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No entanto, o impacto da mudança foi sentido com o tempo. “No primeiro dia foi só alegria, com várias inscrições de presente. Mas, no geral, o número de novos inscritos não foi o suficiente para igualar a receita que via antes. Não é fácil e rápido aumentar uma comunidade e conquistar novos inscritos”, relatou.

Sobre a opinião de Gaules, que pregou reinvenção para reverter a crise, Sciarotta exprimiu: “É muito fácil falar que agora temos que trabalhar para aumentar, até triplicar, o número de subs para ter a mesma receita de antes. Na prática, é quase impossível de ser feito no curto prazo”.

“Não dê sub, faça um Pix”

Sem uma solução no horizonte, uma alternativa para os produtores de conteúdo tem sido encontrar e pedir para os seguidores outras formas de contribuição. Além de solicitações de bits, uma espécie de gorjeta na plataforma, no lugar das inscrições, muitos streamers têm usado a própria chave Pix para coletar doações dos espectadores e inscritos.

A prática não entrega os benefícios do sub, mas garante um ganho para o produtor de conteúdo sem descontos da plataforma.

A frase “não dê sub, faça um Pix” pode ser encontrada cada vez mais nos títulos de lives, enquanto o comando !Pix no chat é configurado para divulgar a chave para as transferências.

Fonte: GE, MGG