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Review Saints Row | Mundo vazio e falta de acabamento prejudicam reboot

Por| Editado por Bruna Penilhas | 23 de Agosto de 2022 às 12h35

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Review Saints Row | Mundo vazio e falta de acabamento prejudicam reboot
Review Saints Row | Mundo vazio e falta de acabamento prejudicam reboot

Chega a soar como um contraste a ideia de que os jogos de mundo aberto estão saturados. Como poderia ser assim quando falamos de um universo em que tudo, teoricamente, é possível, ainda que dentro dos limites criados pelos programadores. Isso é verdade, principalmente, quando falamos no estilo contemporâneo e urbano, onde há um campeão claro, com o novo Saints Row não fazendo nem mesmo o mínimo para adicionar a fórmula.

Ainda que a comparação entre dois jogos nunca seja desejável em um perfil, é difícil não acompanhar a trajetória semelhante da franquia com Grand Theft Auto, principalmente no que toca ao tema e a abordagem. O game desenvolvido pela Volition, entretanto, sempre optou pelos personagens carismáticos e pela escola de humor besteirol para adicionar a uma fórmula de crime, correria e tiroteio; vinha dando certo, o que torna a abordagem mais pé no chão deste reboot um bocado estranha.

Ela é parte integrante da nova experiência, sim, mas não significa que as piadinhas do passado ficaram para trás; elas aparecem, apenas, mais entremeadas ao coração da jogabilidade. O game, entretanto, faz pouco para impressionar e, principalmente, se diferenciar, ainda que o apelo da franquia estivesse claro, principalmente aos fãs. Às vezes, a sensação que fica é de que estamos jogando não um reboot, mas um game inicial da franquia, que deveria ter saído há suas gerações mais chegou apenas agora.

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Muitas opções, pouco interesse

Novamente, entramos em um contraste que aparece desde os primeiros momentos com Saints Row. Após uma cutscene inicial, ganhamos acesso ao mundo aberto de Santo Ileso, uma cidade americana com ares de interior e misturando diferentes referências americanas, desde os cassinos e arranha-céus à beira do mar até os botecos meio suspeitos frequentados por caipiras armados.

Desde o começo, recebemos acesso a recursos como o de Procurados, em que buscamos alvos de diferentes características em troca de uma recompensa, e o bom sistema de customização de personagens, que dá liberdade total ao jogador. Tudo, como não poderia deixar de ser em um título assim, gira em torno do dinheiro, até mesmo a motivação inicial dos protagonistas, que na luta para pagarem o aluguel, acabam fazendo inimigos nos lugares errados e escolhem a formação de um império criminoso para lidar com isso.

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É um começo relativamente aberto, como pouco se vê em jogos do tipo, que fazem questão de prender o jogador a mecânicas e linearidade em suas primeiras horas. Não é como se, por outro lado, fosse possível fazer muita coisa; enquanto todas as alterações físicas nos personagens são gratuitas e podem ser feitas a qualquer momento, o que inclui tipo físico, cor da pele e até gênero, as roupas e acessórios custam dinheiro, que o jogador não terá logo de início, como já era de se esperar.

Ainda que seja possível explorar o cenário, realizar missões secundárias e outros objetivos pequenos para acumular alguma grana, o grosso aparece mesmo nas missões da história. Ainda que seja dissonante estar com o bolso cheio enquanto conversa com os amigos sobre alternativas para pagar o aluguel do apartamento, é pela campanha que Saints Row vai abrindo mais e mais possibilidades, enquanto leva o jogador a diferentes tipos de missões, abordagens violentas e pontos importantes da cidade.

Surgem logo de início, também, os limites da criatividade da Volition. Detonar os carros de uma gangue rival com um monster truck é divertido, fazer isso logo depois, de novo, mas com uma retroescavadeira em uma missão gigantesca na qual, se você perder, terá que começar do zero, nem tanto. Os momentos de tiroteio são leves, com uma boa resposta de controles, mas também apresentam pouco de empolgante, com conflitos sempre baseados em ondas de inimigos e alguns oponentes com diferentes estilos, mas que sempre são derrotados da mesma forma.

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Na medida em que o império vai crescendo, surgem novas opções, incluindo empresas de fachada e a aquisição de locais que ampliam mais e mais os ganhos criminosos. Começa com uma garagem de carros, onde veículos podem ser guardados e customizados, e segue para outras fachadas usuais de uma organização desse tipo, na medida em que a origem dos Saints vai sendo lapidada e o balanço de poder em Santo Ileso, modificado.

Dá para notar o crescimento da quadrilha nas roupas de personagens e objetos de decoração da Igreja, onde funciona o QG da gangue, mas a sensação de que o mundo ao redor também está mudando está longe de transparecer. Seguir de um ponto a outro no mapa para completar uma missão se torna, rapidamente, uma monotonia, principalmente quando levamos em conta que, ainda que exista uma variedade de veículos, todos se comportam mais ou menos da mesma forma, desincentivando a experimentação em prol de uma zona de conforto que não é nada desejável em um jogo desse tipo.

Assim como todo o resto do conjunto de jogabilidade, os gráficos não impressionam, ainda que haja um uso bem interessante da iluminação nos consoles de nova geração, algo que cai muito bem com o estilo descolado do game. Não fosse por isso, ficaria ainda mais sólida a impressão deixada pelos sistemas, de que estamos jogando um título defasado, que seria interessante e amplo no PlayStation 3 e Xbox 360, mas que hoje, soa desinteressante.

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Seja quem quiser

Junto com a jogabilidade, outra base da experiência com Saints Row é a customização, que recebeu uma atenção especial da desenvolvedora Volition. Estamos falando, sim, de um dos sistemas de personalização mais completos em um game de mundo aberto, permitindo que o jogador crie a si mesmo e também figuras famosas, unindo milhares de combinações faciais e corporais a roupas de diferentes estilos disponíveis por todo o mapa.

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Enquanto faltaram vários passos na jogatina de Saints Row, aqui a produtora soube ir além. Não apenas ela traz um aplicativo para celulares, que permite colocar a criatividade para funcionar em qualquer lugar e a qualquer momento, como também permite o compartilhamento de criações com outros jogadores, a partir de códigos ou pesquisas por tags específicas.

Quer jogar na pele de Shrek, John Wick ou como Scarface? Você pode. Deseja colocar celebridades como The Rock, Michael Jackson ou Harry Styles para portar lançadores de foguete e atacar gangues rivais? Também é possível, desde que você, como dito, tenha o dinheiro para comprar todos os acessórios e roupas necessárias.

A ideia de poder mudar a aparência a qualquer momento também traz variedade. Quem gostar de um design próprio pode o salvar para depois, enquanto tenta algo diferente, enquanto qualquer criação baixada da internet também pode ser customizada ou modificada a bel prazer, o que ajuda a otimizar a experiência daqueles que não têm paciência para sistemas tão complexos assim, mas que desejarem ir além das opções padronizadas disponíveis.

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Para tornar este review tão repetitivo e moroso como a própria experiência de Saints Row, eis aqui mais um contraste. Muita gente vai passar bastante tempo no modo de customização, ou alterando roupas ou atributos do protagonista, e nem tanto nas missões em si, que soarão mais como um inconveniente necessário para ganhar dinheiro para comprar mais itens e peças para o personagem. Um ciclo que não era, definitivamente, a intenção dos responsáveis pelo game.

Falhas mais perigosas que qualquer gangue

Enquanto o mundo vazio e desinteressante de Santo Ileso já é um empecilho por si só, os bugs espalhados por toda a experiência se tornam um obstáculo ainda maior. A falta de polimento é presente em todos os aspectos de Saints Row, inclusive no modo de customização de personagens, em que alterações nem sempre são aplicadas da forma devida e o cursor pode desaparecer durante o processo, jogando fora todo o trabalho realizado até ali.

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Testamos o game antes do lançamento em um Xbox Series X e contamos mais de uma dezena de travamentos em missões da história ao longo de nossa experiência. Uma delas, a que liberaria a Igreja e mais opções para o mundo aberto, travou três vezes em pontos diferentes, nos obrigando a reiniciar um processo relativamente longo, de uma fase importante para a história principal.

Em um dos estágios, vimos um oponente que deveria ser morto acabar lançado, vivo, para o alto de um prédio onde os tiros das armas básicas de início do jogo não o atingiam. Também não era possível chegar até ele sem ver um indicativo de que a missão seria abortada pois estávamos saindo da área designada. Em outro, era preciso assustar um executivo correndo na contramão em alta velocidade, mas os carros no sentido contrário não carregaram, tornando a façanha um mero passeio.

Novamente, voltamos à ideia de que o mundo de Saints Row não oferece tanto atrativo assim para ser explorado, e quanto às tentativas de fazer isso resultam em repetição causada por bugs, além desse aspecto inerente às missões em si, temos uma receita para fazer o jogador fechar o título e escolher outra coisa.

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A falta de acabamento aparece ainda na localização para o português brasileiro, com legendas muitas vezes atrasadas em relação às falas dos personagens, e cenas de ação sem nenhuma trilha sonora a não ser a do rádio dos veículos. A seleção de faixas é boa, com destaque para as estações de hip hop e música latina, mas em um game de mundo aberto no qual dezenas de horas serão investidas, é fácil chegar ao fim da playlist, sem muitas músicas além disso para variar o clima.

Vale a pena jogar Saints Row?

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Não dá para ignorar os aspectos positivos de Saints Row, como a liberdade que temos desde o início para explorar o mapa e os recursos de personalização, assim como o incentivo à jogatina compartilhada, seja pela disponibilização de criações ou pelo modo cooperativo igualmente disponível desde o começo.

Por outro lado, os negativos gritam mais, principalmente quando falamos nos bugs que atrapalham o progresso e tornam ainda mais morosas as missões repetitivas da campanha principal. Claro, a experiência pode ser variada pelo próprio jogador, seja alternando entre a história e os objetivos secundários ou focando na exploração, mas ainda assim, é preciso fazer um esforço para afastar a sensação de mais do mesmo.

O reboot da franquia de mundo aberto é o pior tipo de game para se analisar, caso me permitam uma opinião. É o tipo de título que tem poucas qualidades absolutas, que mereceriam elogios claros, e muitos defeitos de menor grau. Falar que o game não empolga é o básico, mas ao mesmo tempo, essa é uma medida de cada jogador, no contato com este mundo aberto.

O que mais soa esquisito em toda a experiência, como dito no início, é que ao trazer Saints Row mais próximo do realismo, a Volition parece ter deixado de fora os aspectos tresloucados que fizeram da marca um elemento que chama a atenção em um segmento saturado como os jogos de mundo aberto. Jogando, essa sensação piora com a ideia de que a alma da série ainda está lá, ainda que esmagada por outros elementos que não importam tanto assim e, acima de tudo, acabam tolhendo o game de sua personalidade.

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Saints Row está disponível para PC, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X e Xbox Series S. No Canaltech, o game foi analisado no Xbox Series X, em cópia digital gentilmente cedida pela distribuidora Deep Silver.