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Análise | eFootball PES 2020 retorna ao passado para conquistar o futuro

Por| 19 de Setembro de 2019 às 13h35

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Análise | eFootball PES 2020 retorna ao passado para conquistar o futuro
Análise | eFootball PES 2020 retorna ao passado para conquistar o futuro

Todos os anos, no mês de setembro, o mundo dos videogames é dividido em dois “times” que disputam o título de melhor jogo de futebol do mundo. Mas, pelo menos desde 2012, há um enorme tabu nessa disputa e FIFA tem desde então sido claramente o melhor jogo de futebol da geração.

É para tentar quebrar esse tabu que a Konami tem apostado todas as suas fichas em eFootball PES 2020. A mudança de nome indica a revolução que a empresa tenta trazer à sua clássica franquia de futebol, conhecida por ser uma das mais longevas da história dos videogames, com um novo título a cada ano desde 1995.

De certa forma, a Konami cumpriu sua palavra: PES 2020 traz novos elementos que finalmente conseguem mesclar as características clássicas da série com o que esperamos de um jogo de futebol moderno, além de que o uso contínuo da Fox Engine tem ajudado a empresa a trazer melhorias gráficas impressionantes para o título todo ano, principalmente no nos rostos dos jogadores, que podem ser facilmente reconhecidos pela incrível semelhança com suas contrapartes reais.

Todavia, o título ainda deixa a sensação de que está bastante atrasado em sua evolução, e mesmo que as mudanças ajudem a diminuir a vantagem que FIFA acabou adquirindo, elas não deverão ser suficientes para colocar PES como o líder desse gênero — posição que ocupou com folga durante toda a década de 2000.

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Cachorro velho, truque novo

Durante praticamente toda a década de 2000, o principal motivo que manteve PES como o principal jogo de futebol do mundo foi a Master Liga, e é justamente esse modo o que mais teve mudanças nesta nova versão do jogo.

A primeira — e, a meu ver, mais interessante — é possível notar logo que escolhe entrar no modo. Antes mesmo de escolher o time que irá treinar, o jogador deverá escolher quem será o treinador da equipe. A grande diferença daqui para o que já existe há alguns anos em FIFA é que PES 2020 é o primeiro jogo do gênero a permitir escolher rostos conhecidos como o treinador que será controlado. Em meio a algumas opções de treinadores genéricos, há lendas do futebol como Johan Cruyff, Zico, Maradona e Romário, com o rosto dessas lendas dos campos tão bem feitos que é quase como olhar uma fotografia desses craques na hora de escolhê-los.

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A escolha de treinador se torna um fator importante porque pela primeira vez a Master Liga traz uma espécie de narrativa para o jogo. Assim, ao escolher seu treinador preferido, você não apenas verá o rosto dele comandando seus jogos, mas também será possível vê-lo em cutscenes conversando com o time no vestiário, discutindo com os diretores do clube em salas de reuniões e distribuindo os coletes durante os treinos.

Há também a introdução de uma mecânica de escolha narrativa que não existia nos jogos anteriores: o jogador deverá ativamente participar de reuniões e coletivas de imprensa e escolher qual resposta seu treinador dará nessas situações. Assim, o jogador deverá escolher quais serão os objetivos do clube e responder perguntas sobre a nova contratação, a derrota no clássico ou sobre problemas no vestiário — e, dependendo da resposta, será cobrado pela torcida e pela diretoria do clube de forma diferente.

PES 2020 também introduz uma nova mecânica de desempenho coletivo ao clube: conforme se joga, a torcida irá criar apelidos para seus jogadores, enquanto a diretoria irá separá-los em categorias de importância, como “líder”, “superestrela” ou “motorzinho”. Cada uma dessas categorias ou apelidos adicionam um bônus para a atuação desses jogadores e do time como um todo, ajudando o seu time a jogar melhor mesmo sem nenhuma contratação.

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Algo que também é possível fazer na nova Master Liga é transformar o game numa versão mais básica do Championship Manager. Isso porque jogar a partida ou simular o resultado dela não são mais as únicas opções. Também é possível jogar no “modo técnico”, com a IA do jogo controlando ambos os times e você atuando como técnico, assistindo a tudo de fora e tendo o poder apenas para mudar as táticas de jogo, mexer na formação do time e substituir jogadores. Esse modo é bem divertido para todos aqueles que curtem passar o domingo no sofá vendo futebol, bebendo cerveja e gritando com a TV.

Rolê latino

A perda dos direitos de uso da marca oficial da Copa Libertadores foi um baque para a Konami, mas isso não mudou a estratégia da empresa de investir pesado na América do Sul. No total, são cinco ligas sul-americanas no game, que conta com o Campeonato Argentino, Campeonato Chileno, Campeonato Colombiano e Séries A e B do Campeonato Brasileiro.

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No que condiz aos clubes brasileiros, é necessário elogiar os esforços da Konami para fazer com que tudo desse certo desde o lançamento do game. Pela primeira vez em muito tempo o novo PES chega às lojas não apenas com todos os clubes das duas principais divisões nacionais, com brasões e nomes corretos, mas também com todos os times com suas escalações corretas e jogadores reais. O único problema aqui é que, mesmo com a atualização de elencos do dia 12 de setembro, os plantéis dos times brasileiros não foram corrigidos para apresentar as últimas novidades da janela de transferências — por exemplo, o São Paulo ainda não conta com Daniel Alves e Juanfran no elenco —, mas só o fato de a empresa ter se esforçado para conseguir as licenças dos jogadores de forma individual e deixar tudo pronto para que eles estejam com o nome e fisionomia reais já no lançamento merece elogios.

Além disso, o Brasil também é o país com o maior número de estádios no game, somando nove ao todo: Allianz Parque (Palmeiras), Arena Corinthians (Corinthians), Estádio Beira Rio (Internacional-RS), Estádio Cícero Pompeu de Toledo (o famoso Morumbi, do São Paulo), Estádio do Maracanã, Estádio Mineirão, Estádio São Januário (Vasco da Gama), Estádio Urbano Caldeira (mais conhecido como Vila Belmiro, do Santos) e o Palestra Itália, estádio que por mais de 100 anos foi a casa do Palmeiras, mas que foi fechado em 2010 e reformado para a criação do Allianz Parque. Essa enorme quantidade de estádios, junto com as duas principais ligas do país completas com seus clubes e jogadores, deixa claro como a Konami está apostando muito no sucesso do jogo junto ao público brasileiro.

Passado e futuro

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Em matéria de gameplay, eFootball PES 2020 é uma bela mistura daquilo que fez com que a franquia fosse um sucesso durante toda a década de 2000 com as coisas que esperamos de um jogo de futebol moderno.

Graficamente, PES 2020 é fácil o mais bonito da franquia. Isso pode ser visto em todos os pontos do jogo, seja nos menus, nas animações de introdução, nos detalhes do gramado e, principalmente, no rosto dos jogadores. De forma geral, a semelhança deles com suas contrapartes reais é algo incrível, e a riqueza de detalhes e de expressões mostra um enorme avanço em comparação com os outros jogos da franquia.

Ao mesmo tempo, a Konami parece tentar voltar ao tempo de ouro da franquia, e a jogabilidade lembra muito os dos jogos mais antigos da série. Isso porque há uma clara simplificação nos comandos de jogo, e a sensação é a de estar jogando um game de futebol do PS2 com gráficos de ponta. Todos os comandos parecem mais simples do que nos anteriores, seja correr, chutar, passar ou até mesmo driblar. Não é mais preciso saber combinar dois ou três botões ao mesmo tempo e no timing exato para fazer com que o jogador efetue algumas jogadas de efeito, o que tornará o jogo muito mais familiar para aqueles que têm mais de 20 anos e conheceram PES na década de 2000.

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Essa simplificação na jogabilidade também pode ser vista nas cobranças de bola parada, que deixam de ter todas aquelas complicações que foram criadas por FIFA e foram copiadas por PES e voltam para o básico de escolher o lado da cobrança, definir a força do chute e segurar o direcional para o lado que quer que a bola faça curva. Pela primeira vez nos últimos cinco anos, os truques que aprendi em toda uma infância e adolescência jogando futebol finalmente voltaram a funcionar.

Entendo que isso pode ser algo um tanto controverso, pois ao mesmo tempo que agrada os jogadores mais antigos, também pode alienar aqueles mais jovens que já se acostumaram com o estilo de jogo dos games de futebol mais modernos. Mas, como a Konami tem apostado forte no mercado brasileiro, e nosso país é um dos poucos onde o PS2 ainda é muito jogado, a aproximação de PES 2020 dos títulos mais antigos da franquia deve servir mais para aproximar o público brasileiro do novo título de futebol da Konami do que afastar possíveis jogadores.

Revolução sem mudanças

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Ainda que eFootball PES 2020 apresente muitas mudanças na Master Liga e um retorno às origens da franquia em seu gameplay, poucas mudanças podem ser vistas nas outras áreas do game.

O ambiente online praticamente se manteve o mesmo desde PES 19, e até os menus do modo MyClub são iguais ao título do ano passado. A única diferença notável é a forma como funciona a compra dos pacotes de jogadores, pois a recente preocupação do público e de governos do mundo todo com as chamadas loot boxes fez com que o sistema fosse ligeiramente diferente em PES 2020.

Agora, antes de comprar um pacote de jogadores, é exibido ao usuário não apenas quais as chances de cada tipo de carta (platina, ouro, prata ou bronze) sair naquele pacote, mas também exatamente quais os itens possíveis de se obter nele — se um determinado pacote possui dois jogadores platina, 15 jogadores ouro, 50 jogadores prata e 75 jogadores bronze, todos são listados, individualmente e com os seus status revelados para que o jogador faça a sua escolha de forma consciente. É uma forma que a Konami encontrou para se resguardar de qualquer possível processo envolvendo a compra de uma dessas loot boxes sem conhecimento de como ela realmente funciona.

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À exceção disso, o resto está exatamente igual ao título anterior, até mesmo em seus defeitos, como o fato do equilíbrio das partidas online serem baseados apenas no ranking do jogador e não levarem em consideração o time escolhido, o que muitas vezes considera “justa” uma partida de alguém que escolheu o Guarani contra alguém que escolheu o Real Madrid. Ainda que no MyClub isso não seja um problema, pois todos os times são montados do zero pelos jogadores (e, nesse caso, o pareamento por pontuação acaba criando partidas equilibradas), o mesmo não acontece em nenhum outro modo online, onde são usadas as escalações reais dos clubes.

Essa falta de mudanças é, de certo modo, a principal falha de PES 2020, que não traz mais nada além daqueles modos que todos já estamos acostumados há pelo menos 20 anos. Ainda que a jogabilidade do título seja a mais divertida dos últimos anos, não podemos esquecer que a franquia não vive em uma ilha isolada apenas dela e que precisa competir por espaço com o seu grande adversário, que tem se esforçado criando modos de jogo bem diferentes do que estamos acostumados — como partidas onde só valem gols de cabeça ou que o time que fizer gol tem um jogador expulso. Por isso, essa falta de inovação é talvez o que mais tem atrapalhado PES na última década.

Time em formação

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Fazer um balanço final de eFootball PES 2020 nos traz um resultado positivo, mas não tão positivo como o prometido. A Master Liga passou por uma enorme revolução, mas essa “enorme revolução” significou a inserção de elementos que já fazem parte da série FIFA pelo menos desde 2012. A jogabilidade é a melhor dos últimos anos, mas fora isso praticamente mais nada mudou no jogo inteiro. A opção de escolher uma lenda real do futebol para controlar o time, com rosto e expressões extremamente bem feitas, tornam a Master Liga ainda melhor, mas o fato de nenhuma das cenas CG ter qualquer tipo de dublagem e tocar apenas uma música baixinha de fundo enquanto todas as conversas são mostradas por legendas é bem broxante.

Isso quer dizer que, no geral, eFootball PES 2020 é não apenas o melhor jogo da franquia PES dos últimos tempos, mas também muito provavelmente o melhor jogo de futebol deste ano para qualquer pessoa com mais de 20 anos e que sente nostalgia dos jogos da adolescência. Entretanto, ao mesmo tempo, isso não quer dizer que a franquia finalmente conseguiu superar seu grande rival FIFA, que ainda está muito à frente com toda a grande quantidade de novos modos e narrativas realmente interessantes do modo Carreira que traz todos os anos.

Em um paralelo futebolístico, PES 2020 seria o Manchester United: há não muito tempo um time imbatível e que dominou toda uma década, mas que nos últimos anos tem deixado a soberba ditar suas decisões e afundado o clube cada vez mais, mantendo o prestígio da marca, mas sem realmente levar um time competitivo a campo. Mas, assim como com o United, o futuro finalmente está se mostrando promissor: com algumas poucas, mas necessárias mudanças no elenco, o time que chega este ano ainda não é um candidato ao título, mas mostra uma base consistente que apresenta um claro caminho de onde pode ser melhorada para retornar aos anos de glória.

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eFootball PES 2020 é exatamente isto: um bom time em formação que tem tudo para voltar a disputar títulos nos próximos anos se a diretoria — ou, no caso, a Konami — não tentar apressar as coisas e fazer todo o trabalho desmoronar. Assim, não é neste ano que PES finalmente deverá retomar seu posto de melhor jogo de futebol do mercado, mas pode ter certeza que ele vai tirar uns pontinhos da EA quando estiver jogando em casa.

eFootball PES 2020 foi lançado no dia 10 de setembro para PlayStation 4, Xbox One e PC. No Canaltech, o jogo foi testado no PS4 com uma cópia gentilmente cedida pela Konami.