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Análise | Just Cause 4 é extremamente divertido, até a hora em que ele cansa

Por| 12 de Dezembro de 2018 às 10h56

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(Captura de imagem: Rafael Arbulu)
(Captura de imagem: Rafael Arbulu)
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Déjà vu.

Essa é a primeira sensação que você terá quando começar a jogar Just Cause 4. E o motivo para isso é bem simples: salvo por um ou outro recurso de jogabilidade, a nova aventura do superagente Rico Rodriguez traz bem pouco no quesito “inovação”, quando comparada às edições que lhe precedem. Não que isso seja ruim: o foco no gameplay hiperinterativo, em que praticamente todo o cenário em que o jogador se encontra é destrutível de formas numerosas e criativas, o universo do jogo é ainda mais expansivo e o novo motor gráfico Apex, dos estúdios Avalanche — que seguem como desenvolvedores da série —, traz melhorias visuais consistentes com o atual momento da indústria de jogos.

Mas isso também significa que certos defeitos — alguns, já velhos conhecidos — também se repetem, sem motivo. Pense assim: há aproximadamente dois anos, o Canaltech analisou Just Cause 3, predecessor imediato deste jogo e também publicado pela Square Enix. A fórmula é completamente igual entre o título anterior e o atual: temos um superagente enviado para desmantelar um governo ditatorial, despótico e corrupto, e este agente é praticamente invencível frente a um exército espalhado por um mundo massivamente expandido que, embora belíssimo de se ver, pouco traz em imersão.

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No caso presente, Just Cause 4 tira Rico Rodrigues do papel de membro da “Agência” para dar a ele uma liberdade maior como mercenário freelancer. Isso, presumidamente, é para trazer um peso maior ao enredo dessa quarta edição: o pai de Rico, um cientista e inventor, supostamente teve laços com a Mão Negra, a organização paramilitar que também trouxe dor de cabeça ao protagonista em Just Cause e Just Cause 3.

Ao descobrir esses laços, Rico corta relações com a Agência e se dirige à nação fictícia sul-americana de Solis, onde a Mão Negra faz sede por meio do comando de Gabriela Morales, uma nova vilã introduzida ao jogo. Chegando na ilha, Rico descobre experimentos de controle climático — tornados artificiais, tempestades com relâmpagos teleguiados — e cria o “Exército do Caos”, a organização rebelde da vez, como é praxe de todo jogo da franquia.

Esses experimentos servem para introduzir uma nova mecânica de gameplay a Just Cause 4 — a única novidade, vale citar: eventos climáticos potencialmente catastróficos agora podem ser usados contra você, ou por você, dependendo do pano de fundo que uma missão tenha. De resto, a fórmula segue inalterada: você é um exército de um homem só, encarando déspotas enquanto ajuda rebeldes a… bem, se rebelarem. O enredo rapidamente deixa de ter importância em meros minutos de jogo.

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Passando o bastão para a jogabilidade, entram as partes boas: por se manter inalterado em suas raízes, Just Cause 4 traz muitos dos acertos de edições anteriores, como um dos universos mais abertos que os games já trouxeram, bem como uma grande fidelização à realidade do ambiente em que se situa. Explicando: a série Just Cause usa localizações reais, criando a partir delas um país fictício. Isso mantém o realismo apreciável para quem é mais apegado a isso. No caso da sul-americana Solis, vemos um mix de ambientações variadas: densas florestas e enormes montanhas; um amplo deserto, com tempestades de areia e sol perene; e finalmente uma área costeira bem extensa, com embarcações de todos os tamanhos navegando os mares e rios.

Tudo isso, claro, interagível com o arsenal de navegação de Rico Rodriguez: a wingsuit, para planar por toda uma área antes de acionar o paraquedas; além de carros, helicópteros, navios e aviões para pilotar. Além do que já se tornou uma marca registrada da série: o gancho de acoplagem, lançado com um comando simples nos botões de ombro do seu joystick, ajuda Rico a alçar alturas que nenhum outro protagonista conseguiu até hoje. Em algum lugar, Sam Fisher e Solid Snake estão lendo isso e pensando “Era isso que me faltava!”.

O combate em si, porém, possui qualidades e defeitos notáveis: seguindo a velha premissa de, dentro de uma base, tudo o que for pintado de vermelho pode ser destruído, Just Cause 4 força o jogador a exercer a criatividade para derrotar seus oponentes — eu me tornei particularmente eficaz em amarrar um helicóptero a um tanque de combustível, mandando ambos pelos ares e aumentando o meu grau do medidor de caos, algo como a “moeda” do jogo. Esse tipo de estratégia repensável é presente em todo o jogo, o que é ótimo, pois mantém você atento. E convenhamos, uma das maiores satisfações do jogo vem de assistir aos efeitos explosivos de uma reação em cadeia causada por suas ações. Contudo, isso já se fazia presente nos jogos anteriores e não é bem uma novidade aqui. O que é impressionante de se ver, acaba cansando lá pela quinta ou sexta vez que você faz, na verdade.

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Mais além, há falhas que residem nas coisas mais simples: por ser um contra todo um exército, Rico Rodriguez deveria ser capaz de se ajustar melhor a certas situações — eu ainda não compreendo por que não há, em nenhum jogo da série, um sistema decente de cobertura, haja vista que 1) os seus inimigos fazem isso o tempo todo e; 2) jogos piores já fizeram isso melhor.

Também me incomodou a inteligência artificial dos soldados da Mão Negra: por inúmeras vezes, um helicóptero vinha me atacar a uma velocidade tão grande e desajustada que acabava passando direto por mim e batendo em uma parede, explodindo e eliminando um oponente sem que eu fizesse qualquer coisa. Isso é especialmente evidente quando você não está em combate: abra seu páraquedas e rode a câmera, você verá explosões de combate ao seu redor, além de intromissões de áudio berrando coisas como “Perdemos o controle, estamos caindo!”, sendo que você sequer está lutando com alguém.

Outra birra, embora isso seja mais pessoal e pode não ser o mesmo para outra pessoa: supõe-se que um superagente do calibre de Rico Rodriguez, que põe presidentes e déspotas de joelhos, saiba uma ou duas coisas sobre sentar a mão em seus oponentes. Isso é algo particularmente irritante, pois, haja vista que você será atacado por todos os lados em uma base, alguém pode acabar chegando mais perto para lhe aplicar uma coronhada. E no que tange ao combate corpo a corpo, bom, Rico deixa a desejar: a única ação dele é esticar o gancho de acoplagem e dar uma chicotada no oponente. Com três ou quatro dessas, o oponente pode ou cair de vez, ou se afastar o suficiente para você levantar a arma e voltar a atirar. É tão difícil implementar uma combinação de três ou quatro golpes para adicionar verossimilhança a uma guerra? Pense em Metal Gear Solid V: The Phantom Pain — Big Boss tinha quatro ou cinco socos em sequência rápida, que nocauteavam qualquer um. É uma frescurinha minha, mas não deixa de ser um detalhe notável.

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Um detalhe que me deu esperanças no começo, apenas para me desapontar depois: a mecânica de evolução em Just Cause 4 se envolve na ideia de um mapa dividido em partes controladas por você ou pelo inimigo. Tomar uma parte do mapa atrela-se a resolver uma missão auxiliar que, como prêmio, destrava um novo recurso, seja uma arma nova, um veículo ou novas missões, maiores. Claro, tais missões vão ser repetitivas com o tempo, mas não é esse o problema. Após realizar a missão, o jogo lhe diz para “avançar suas tropas da linha de frente”. Se você espera algo nas linhas do tabuleiro WAR, então você vai entender minha decepção: isso é mais uma formalidade para sacramentar que, sim, você tomou esse lugar e ele agora é seu, do que um metajogo — inimigos não tentam recuperar territórios perdidos ou lutam para quebrar a sua influência. É como se você tivesse um país inteiro ao seu dispor e, quando perdesse pedaços dele, você simplesmente diria “ah, fazer o que?”.

Não entendam da forma errada: Just Cause 4 é ótimo. Tem toneladas de diversão, é criativo a ponto de ser desafiador e tem muita coisa bacana para ser feita, apesar do enredo com um total de zero viradas de mesa e que prossegue exatamente como se espera que ele vá prosseguir.

Contudo, o objetivo aqui não é testar as suas habilidades contra um exército inteiro: é óbvio que você é forte para isso. Rico absorve tanto dano e se recupera deles com tanta facilidade que um tanque apontado diretamente a você causa menos preocupação do que fechar o seu dedo na porta da casa. A Square Enix quer saber o quão invencível você consegue parecer enquanto faz isso.

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Lamentavelmente, por causa dessa abordagem, muita coisa básica acaba ficando pelo caminho, e faz falta no produto final. São reclamações bobas, quando se para para pensar, mas são tão numerosas que, depois de umas quatro ou cinco horas de jogo, o que antes lhe fazia pensar em “Que espetacular”, logo menos vira “Meu Deus, que saco”.

Em suma, Just Cause 4 é um ótimo jogo para tardes em casa nos finais de semana. Mas nada que vá fazer você dedicar seus pensamentos do dia a dia à ansiedade de chegar em casa e botar o disco pra rodar. Em algum lugar, Sam Fisher e Solid Snake estão lendo isso e dizendo: “Chupa”.

Just Cause 4 está disponível no PC, PlayStation 4 e Xbox One. No Canaltech, o jogo foi analisado no PS4 com cópia gentilmente cedida pela Square Enix.