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Análise | Far Cry New Dawn é um contraste entre novo ambiente e velha gameplay

Por| 18 de Fevereiro de 2019 às 13h26

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Divulga~c"ao;Ubisoft
Divulga~c"ao;Ubisoft
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Há tempos as grandes desenvolvedoras de jogos estão buscando novos modelos de negócio. Nos últimos tempos são os DLCs, loot boxes, microtransações e outros mecanismos para conseguir subir a marca já antiga dos games lançados a US$ 60 nos Estados Unidos.

Em 2017, a Naughty Dog criou uma nova proposta. Ela lançou, naquele ano, Uncharted: The Lost Legacy, game que usaria personagens e até locais clássicos da franquia Uncharted em um novo título. Não seria um spin-off, já que pode ser considerado canônico. Nem mesmo um DLC, pois não era preciso ter o último título da série para jogar.

Nasce aí o chamado game standalone, um título independente, mas que não é tão desenvolvido ou robusto a ponto de poder ser considerado um game totalmente novo, nem mesmo ser vendido ao preço cheio, de US$ 60.

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É nesse contexto que está inserido Far Cry New Dawn. O game se passa 17 anos após os acontecimentos de Far Cry 5. Vale perceber aqui que, de cara, um spoiler você vai tomar. Esta continuação da história leva em conta apenas o final em que o religioso lunático Joseph Seed simplesmente explodiu tudo e saiu vivo em seu bunker.

Assim, New Dawn, traduzido do inglês, Um Novo Amanhecer, traz toda uma metáfora de um condado que busca a sua recuperação pós-apocalíptica. A narrativa é contada na boca de Carmina Rye, filha de Nick e Kim, os quais estão no primeiro game. Ela que situa o jogador no ambiente desta nova Hope County.

Mas calma, esta análise já está neste mérito. Esta pequena introdução serve para situar o leitor com quais olhos é preciso olhar para este game. Como standalone, ele se passa exatamente no mesmo mapa de Far Cry 5, agora totalmente destruído e com um ambiente muito, mas muito mais florido que antigamente.

Assim, espere reencontrar personagens, rever armas, ambientações e paisagens. A proposta do standalone é fazer um game menor, aproveitando os assets e criações de seu anterior. Logo de cara, já fica o aviso: New Dawn é basicamente o Far Cry 5 com algumas poucas novas mecânicas. Portanto, comecemos por elas.

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Amanhecer

O mundo florido talvez seja o primeiro baque que este game traz. Veja bem, um universo cheio de plantas em tons de rosa marcador, laranja e roxo não é bem a pintura que esperamos de um ambiente de terra arrasada pós-apocalipse. Contudo, este é um passo de genialidade do estúdio de Montreal.

Conforme Jean-Sébastien Décant, diretor criativo do game, escreveu em guia de desenvolvimento do título, a Ubisoft consultou especialistas e criou um modelo baseado em projeção de como seria um ambiente nativo, sem interferência humana, por 20 anos. Neste local com pouca ou nenhuma interferência humana, a região teria muito mais espaço para crescer de forma violenta e florescer na primavera.

Este é o pano de fundo que dá muita beleza a New Dawn e suas cores e que combina muito também com narrativa da trama. A primavera aqui não é só da natureza, mas das pessoas.

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Estamos diante de uma história de recuperação, de uma nova esperança, da busca por um novo modo de vida. A Ubisoft Montreal também pensou não só em como a flora se comportaria diante do pós-apocalipse, mas também sobre como os humanos fariam para sobreviver. “Isso também nos fez perceber como os sobreviventes fariam para se virar com o que têm, como comunidades seriam a chave para a sobrevivência”, aponta Décant.

De fato, historiadores como Yuval Harari, em seu livro Sapiens, mostram que a nossa espécie só sobreviveu à ameaça de outras porque soubemos viver em sociedade muito antes dos outros.

Por conta disso, New Dawn mostra a organização dos seres humanos em três grandes grupos, ou melhor, comunidades. O jogador participa dos sobreviventes que montam sua pequena propriedade, a mais improvisada e ameaçada de todas. Em uma outra ponta de Hope County, está o Novo Éden, onde os seguidores de Seed vivem tentando entender onde está o profeta.

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Um terceiro e novo grupo são os Saqueadores, liderados pelas gêmeas Mickey e Lou, que criam um universo em que o ser humano é o lobo de si próprio. Elas são as novas vilãs que impedem a criação de um mundo pacífico e jogam fogo nesta nova Terra Prometida.

Gameplay

Para além de nova cara e narrativa, há também elementos para serem jogados. São três inserções.

A primeira são as chamadas expedições, que funcionam como pequenas missões em que é preciso entrar em um local, pegar um equipamento e sair o mais rápido possível sem ser morto. O bacana deste modo é que ele leva para novas ambientações e é todo focado em loots para ser feito em modo cooperativo.

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Dentro do mapa, há os postos avançados que estão completamente tomados pelas Gêmeas. A ideia é que você chegue até eles e tome o lugar, bem, matando todo mundo que está ali. Quando você conquistar esse posto, ele se transforma em ponto de viagem rápida. Mas ele também funciona como um espaço para se conseguir etanol rápido (um dos elementos mais difíceis de se conseguir neste título), pois se pode vender de volta o local para as gêmeas e invadir de novo (quantas vezes você quiser). O ponto é que, cada vez que você negocia o local, os personagens voltam mais e mais fortes.

Aliás, este é o último ponto essencialmente novo de Far Cry new Dawn: agora os inimigos têm níveis. A proposta da Ubisoft, assim como aconteceu em Assassin’s Creed, foi dar um toque de RPG à franquia. Calma, diferente da sua série mais famosa, sem New Dawn isso é uma pincelada bem de leve.

A começar, os tiros causam dano, que aparecem em numerais bem descritos na tela. Cada personagem tem um nível, que pode definir de quais equipamentos você vai precisar para conseguir vencê-los. O bacana é que o próprio personagem ganha contornos que mostram esta força, como capacetes, coletes à prova de bala e outros apetrechos.

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Mais Far Cry

Com seus personagens envolventes e até bastante criativos, uma nova Hope County muito bem pensada, além da trama de vingança e sobrevivência, a Ubisoft Montreal construiu um belo castelo de cartas de personagens.

Mas como toda construção do tipo, que se desfaz à primeira balançada, todo universo de New Dawn é devastado pelo realismo da gameplay, tal qual a bomba do apocalipse.

Veja bem, o jogo começa em uma flashback envolvente de Carmina, contando como foi tirada de seus pais, sendo ele sequestrado pelas Gêmeas, bem como os Saqueadores roubam toda a cor de se viver neste mundo pós-apocalíptico para eles. Tudo isso em cut scenes bastante cinematográficas e dramáticas.

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Só que, quando o game libera o jogador para viver aquele mundo, absolutamente nada do grande parque de diversões que é Hope County combina com esta narrativa de escassez, perigo e dificuldade.

O principal elemento de ouro de New Dawn é o etanol, com que se aumenta a experiência da maioria dos atributos, também sendo o mais difícil se encontrar. Os próprios personagens vivem indicando que é sempre preciso ir atrás de mais e mais do combustível, principal recompensa também das expedições.

Contudo, esse problema se perde completamente quando você sai de Range Rover atrás de mais combustível. Ainda, pelo mapa, andando a esmo há cada vez mais carros maiores e caminhões que consomem, pode ter certeza, muito mais do que os galoezinhos que você pega por aí.

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O principal problema é que Far Cry é uma franquia que sempre empoderou, e muito, o jogador. Nada que combina diretamente com um game de sobrevivência em um mundo pós-apocalíptico. Estou falando de viagens de helicóptero (SIMM!) nas missões de busca por etanol (?).

O vasto universo de Hope County, agora arrasado, se transforma em um gigantesco mapa no qual por vezes você anda vários e vários minutos sem avistar uma casa ou construção. Isso faz sentido, já que é um ambiente destruído, mas, assim mesmo, se torna desinteressante e cansativo viajar por ali depois de um tempo.

Soma-se a isso o já arcaico e nada eficiente sistema de direção que é não é nada intuitivo e não transparece a sensação de velocidade.

Repare que todos os principais problemas de New Dawn são exatamente aquilo que não foi feito para este standalone. As mecânicas da série, já fossilizadas no imaginário do fã, não se encaixam bem com a proposta narrativa deste jogo, transformando um Frankenstein em FPS.

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Ainda, existe aqui o problema do protagonista silencioso, que existe somente para que o jogador personalize um avatar que nunca aparece de corpo inteiro para ele. O game traz pouquíssimas opções de customização, que fazem sentido apenas na jogatina em grupo, mas que custam toda a criação de uma narrativa própria e dar uma carga esférica para personalidade do seu boneco.

No fim, o jogador é chamado apenas de Chefe e outros nomes genéricos sem reagir, por exemplo, a momentos em que as Gêmeas colocam uma granada sem pino na mão de uma criança.

Todas essas esquisitices criam um ambiente em que o jogador se torna um estranho em Hope County, reforçado ainda quando os personagens nos chama de forasteiro. Só que contrasta com a narrativa guiada por todas as ações que você faz no game.

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Ao transformar as Gêmeas no núcleo vilanesco deste jogo, ainda transforma toda a religião de Seed, aquela que arrasou Hope County, em algo não tão ruim assim. Aquela passada de pano que pega muito mal para Far Cry 5, cujos trailers prometem uma conversa séria sobre o neofacismo.

Mais uma vez, a Ubisoft pega um potencial narrativo que ela mesmo promete para a Far Cry e relativiza em um grande parque de diversões com as mesmas mecânicas anteriores. Assim, para quem gosta, um prato cheio. Quem não pôs a mão em Far Cry 5, dificilmente será fisgado pela nova história.

Far Cry New Dawn foi desenvolvido e publicado pela Ubisoft e lançado para PlayStation 4, Xbox One e PC em 15 de novembro de 2019. No Canaltech, o jogo foi analisado no PS4 com cópia gentilmente cedida pela Ubisoft.